Há pouco mais de um ano, Paty Laus, como era conhecida uma
das DJs pioneiras na cena eletrônica de Florianópolis, abandonou as pistas da
moda, os hits chicletes e os exaltados pedidos do público pela música do
momento para dar lugar à Blancah. O novo projeto, menos comercial e mais
autoral, nasceu para resgatar a paixão pela música que começou na adolescência
e lhe deu 14 anos de uma sólida carreira comandado pick-ups mundo afora, até
fazê-la perder totalmente a vontade de continuar trabalhando.
“Não estou mais fazendo música para agradar os outros e essa
tem sido uma fase muito gratificante. Eu não estava feliz com aquela pressão de
tocar o que os outros querem. Claro que eu acabo tocando menos em um
determinado circuito, algumas portas se fecham, mas outras abrem e eu estou
muito feliz”, conta. E ninguém em sã consciência é capaz de desconfiar dessa
felicidade.
Blancah passa cerca de 15 horas por dia trancafiada no
estúdio que montou em sua casa, no bairro Bom Abrigo, na Capital, onde produz
as novas músicas que em nada se parecem às que fazia anteriormente, com levadas sofisticadas de
trip hop e vocais próprios em inglês e português. Mas não é apenas por ter
reencontrado seu lugar em outro estilo de música que seus olhos brilham: é
também pelo reconhecimento que já recebeu sob a nova alcunha.
Em março deste ano, uma platinada e determinada Patrícia
desembarcava no aeroporto de Berlim para participar do aniversário da gravadora
que acabara de lançar um EP com suas novas músicas e de quebra tocar em um
clube da cidade. “Quando decidi que daqui para frente seria a Blancah investi também
em uma identidade visual, para que eu entrasse num lugar e fosse vista. Eu
queria ser aquela coisa diferente, queria que as pessoas percebessem que mudou
de DJ e principalmente que elas vissem em mim uma artista”, explica. Essa,
aliás, é uma das principais mudanças incluídas no giro que deu na carreira.
Artista visual por formação, agora ela consegue unir esse lado da vida à música
para ser tornar uma artista completa, transformando seus shows em espetáculos
onde as batidas eletrônicas não chegam sozinhas, e sim complementadas por um
figurino milimetricamente planejado, vocais e instrumentos.
Música de computador
A entrada de Blancah no mundo da música eletrônica foi
inesperada até para ela. Quando adolescente, chegou a cantar em uma banda que
fazia covers de grupos de rock nacional e levava um estilo de vida meio hippie.
“Nunca pensei que me envolveria com música eletrônica. Dizia que não gostava dessa
música feita por computador”, lembra. Mas durante a faculdade de artes, na
Udesc (Universidade do Estado de Santa Catarina), Blancah foi parar na rádio
universitária, época em que um amigo a apresentou ao trip hop, e acabou
comandado um programa onde rodava canções do estilo durante três horas, no
início da madrugada. Acabou virando DJ oficialmente após ser convidada para ser
residente em uma balada nova da cidade, que durou menos de um ano, sem nem
saber mexer muito bem no equipamento.
De lá pra cá 15 anos se passaram e Blancah, então como Paty
Laus, fixou seu nome na cena eletrônica nacional. Agora, depois de sofisticar
sua produção, deixar de lado temas que envolvam noite e balada para focar em
questões mais íntimas, como a solidão, ela não tem nenhuma dúvida de que é
assim que quer passar o resto da vida. “A minha intenção é manter esse
controle, continuar sabendo dizer não, coisa que a Paty Laus não fazia, não
voltar para o comercial e continuar conquistando esse público diferente que tem
interesse no que tenho para mostrar. Se não der certo, parto um plano B”, diz, confiante.