quinta-feira, janeiro 30, 2014

Encenadora Neyde Veneziano trabalha em nova montagem da Cia. Teatro Sim, Por Que Não?!!!


Nome substancial quando o assunto é teatro de revista no Brasil, a diretora e pesquisadora Neyde Veneziano encerrou no último fim de semana a primeira das três temporadas de 15 dias que fará em Florianópolis para trabalhar no espetáculo “O Olho Azul da Falecida”, da Cia. Teatro Sim, Por Que Não?!!!. A relação de Neyde com o grupo, que começou em 1988 após integrantes participarem de uma oficina ministrada por ela em Blumenau, segue firme até hoje e já resultou em outros três trabalhos: “A Farsa do Advogado Pathelin”, “Rei Frouxo, Rei Posto” e “O Céu Uniu Dois Corações”.
“Eu me dou superbem com eles porque gosto do jeito como pensam o teatro. Quando eles ganham verba de editais, investem toda ela na montagem. A produção é sempre bem cuidada e algo que eu também gosto muito é que eles pesquisam em diversas linguagens”, destaca.
A peça assinada por Joe Orton é datada da década de 1960, na Inglaterra, em um momento em que o país ainda era de certa forma ponderado e estava prestes a ser invadido pela contracultura. Os personagens são dois rebeldes sem causa, uma dupla de jovens bem nascidos que resolve praticar delitos para chamar atenção. “A peça brinca com a morte e utiliza muito o humor negro. Apesar de ser dos anos 1960, é muito atual”, garante Neyde. Na renomada equipe que trabalha na produção do espetáculo estão ainda o iluminador Domingos Quintiliano, o figurinista Luiz Fernando e o cenógrafo José Dias, um dos mais importantes do teatro brasileiro.
No início de fevereiro Neyde volta à Florianópolis para dar continuidade ao trabalho com o grupo, período que coincide com a estreia do seu espetáculo mais recente em apresentação, “Mistero Buffo”, da Cia. La Mínima. Depois de uma longa temporada em São Paulo, o espetáculo passou todo o ano de 2013 circulando pelo Brasil e no próximo dia 23 chega ao teatro Pedro Ivo. “Ele está fazendo muito sucesso, inclusive foi indicado ao prêmio Shell nas categorias melhor ator e direção”.

Precursora
Desde que ingressou no mestrado em teatro, no final da década de 1980, Neyde passou a estar intimamente ligada ao teatro de revista. É dela a primeira tese sobre o tema no Brasil e até hoje seu nome estampa as capas das principais obras sobre o assunto no país. Após o lançamento da tese no livro “O Teatro de Revista no Brasil: Dramaturgia e Convenções”, em 1990, o teatro de revista aos poucos foi virando tema de outras pesquisas pelo país, com recortes diferenciados, mas sempre com Neyde na bibliografia principal. “Hoje tem muita gente que pesquisa o teatro de revista, mas praticamente ninguém monta. Antes de eu lançar o primeiro livro era menos ainda”, relata.
No fim do ano passado, após já ter publicado uma vasta obra sobre o assunto, ela relançou, por enquanto apenas em São Paulo, seu primeiro livro em uma edição ampliada e revisitada. Para aproveitar sua estadia na Ilha, pensa em organizar um lançamento por aqui também.
Hoje a rotina de Neyde está inteiramente envolvida com o teatro profissional. Aposentou-se na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), onde dava aulas no Instituto de Artes, e passou a dedicar maior parte do tempo a novas montagens. Recentemente concluiu o espetáculo “A Noiva do Condutor”, que também planeja trazer para Florianópolis, e está com um projeto na Lei Rouanet para uma montagem de revista sob um conceito mais atual. “A mecânica da revista é muito interessante e dá para fazer hoje, só que precisa ser de forma atualizada”.


Publicada no jornal Notícias do Dia.

domingo, janeiro 12, 2014

Novo espetáculo do ator e roteirista Malcon Bauer traz uma visão irônica de sua vida no interior


Os 15 anos de piadas e confusões a respeito do nome de sua cidade natal deram ao ator e roteirista Malcon Bauer subsídio o bastante para colocar a pequena Agrolândia em evidência, mais precisamente, em cima do palco. Em 1999, quando o ainda adolescente agrolandense desembarcou em Florianópolis para cursar artes cênicas na UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina), ele jamais imaginou que poderia passar o resto da vida tentando provar aos novos amigos que a cidadezinha de nove mil habitantes, no Alto Vale, não apenas existe como fica em Santa Catarina. “Um colega ficou meses achando que eu na verdade era um intercambista da Groenlândia, porque eu também tinha um sotaque forte quando cheguei”, relembra aos risos.
As histórias do lugar já haviam servido de inspiração para um texto de stand-up comedy que Malcon escreveu e apresentou há alguns anos, mas “O Homem de Agrolândia”, seu novo espetáculo solo que deve estrear na segunda quinzena de fevereiro, apresenta um formato totalmente diferente e repleto de recursos visuais.  “É um híbrido entre o stand-up e o teatro, e foi montado tanto para teatros quanto para bares”, explica. Além dele mesmo, Malcon encarna outros personagens fundamentais para contextualizar a vida no interior. A mãe, o pai e principalmente a avó são os responsáveis por boa parte dos episódios pitorescos que o ator leva ao palco, a maioria deles um bom recorte da realidade. “Algumas histórias são tão absurdas que não parecem reais, principalmente as que envolvem a minha avó”.
O espetáculo foi contemplado pelo edital Elisabete Anderle de Estímulo a Cultura, tem produção da La Vaca e a direção é assinada por Renato Turnes, com quem Malcon já trabalhou diversas vezes. “Estivemos juntos na peça ‘Mi Muñequita’, ele dirigiu meu curta-metragem, recentemente também trabalhamos no espetáculo ‘As Felicianas’ e ele tem dirigido muitos solos, então foi uma escolha natural. A gente já tem intimidade, estamos ensaiando desde outubro e ainda rimos muito”, conta.

Conterrâneos ansiosos
Os moradores de Agrolândia já estão sabendo que a cidade virou tema de espetáculo e esperam ansiosos pela apresentação por lá, o que deve acontecer depois das seis já previstas para a Capital.  Essa será a primeira vez que o agora ilustre filho da cidade leva para lá um espetáculo aberto ao público. “Já fiz uma vez no aniversário da minha avó, mas foi horrível, ninguém riu! Foi um vexame, espero que dessa vez não seja”.
Malcon jura que não tem a menor ideia de como o público agrolandense vai reagir, mas tem certeza de que apresentação será mais longa do que as de Florianópolis. “A peça tem duração de mais ou menos uma hora, mas tem uma interação com o público, que acaba abrindo espaço para improvisos. Como lá as pessoas vão se identificar mais com os ambientes do espetáculo, acho que vai ser mais longo”.
Apesar de esperar a presença maciça da família e dos amigos, Malcon afirma que a peça não foi feita só para eles. “Tomamos o cuidado para que ela seja universal, não queremos uma peça hermética. E também não se trata daquela visão do caipira na cidade, que nunca viu um elevador ou um semáforo, por exemplo. Não é nada disso, é uma visão cínica e irônica, não ingênua”.

Publicada no jornal Notícias do Dia.

sexta-feira, janeiro 10, 2014

Tico Santa Cruz apresenta projeto paralelo nesta quinta-feira em Florianópolis


Autodefinido como astrólogo, futurólogo, atleta e escritor, entre uma série de outras excêntricas ocupações, Tico Santa Cruz, frontman dos Detonautas, apresenta hoje no John Bull, em Florianópolis, seu projeto paralelo ao grupo carioca. Acompanhado da banda curitibana Dama de Paus, base de turnês como a do Nazareth no Brasil, com quem toca pela primeira vez e já tem outros shows marcados, o músico leva ao palco uma homenagem às suas maiores influências musicais, além de algumas canções do próprio Detonautas. “É um projeto de pura diversão. Um baile rock para quem sente saudades dos tempos em que chegava nos lugares e ouvia Legião, Barão, Raul, Cássia Eller, Cazuza, Mutantes, entre tantos outros clássicos”, explica.
 Para provar que é de fato esse multitarefas que afirma ser, além de se envolver em constantes polêmicas sobre assuntos que vão da música ao futebol, passando pela política, Tico publicou entre 2012 e 2013 dois livros. O primeiro, “Clube da Insônia”, reúne crônicas e pensamentos do dia a dia do cantor, já o segundo, “Tesão”, chamou mais a atenção do público pelo tema: contos e poemas eróticos. Sexo, aliás, é um tópico recorrente no blog que mantém desde 2004.
 Para este ano, os planos literários seguem firmes, só que dessa vez o desafio é maior. “Será meu primeiro romance. Uma história policial inspirada em filmes de Quentin Tarantino, Roberto Rodriguez e cineastas como Rob Zombie, que fazem clássicos que adoro assistir. Acho que será bem divertido”, adianta.
 Já a respeito das polêmicas em que volta e meia está dentro, Tico afirma que hoje em dia dialoga mais com os próprios políticos, que teriam percebido uma força de opinião nele. “Dialogo no sentido de fazer pontes entre interesses da população e dos grupos que defendo, para reverter em ações políticas práticas e reais. Mas continuo fazendo minhas palestras e também meus textos que são muito compartilhados nas redes sociais. Isso faz com que muitas pessoas que não se interessam pelo tema passem a pensar sobre. É preciso que o povo brasileiro entenda de política e do mecanismo que realiza o que vivemos. Caso o contrário, jamais mudaremos a realidade desse país”.

Mais ativos do que nunca
 Mesmo com a dedicação de Tico à literatura e aos projetos musicais paralelos, habituais em seus dias de folga, os Detonautas seguem na ativa fazendo shows por todo o Brasil. A recente notícia, que pegou os fãs de surpresa, sobre a saída do baixista Tchello após 16 anos dedicados à banda, não estremeceu as estruturas do grupo, que mesmo sem lançar um disco de inéditas desde 2008, frequentemente divulga novas músicas e vídeos on-line.
 “A banda lançou pela internet, desde 2011, músicas inéditas que foram trabalhadas nas rádios e que juntas constituem hoje um disco de 12 faixas. O que não lançamos foi um disco físico, até porque como somos uma banda independente, o formato digital é mais propício para divulgarmos o trabalho”, justifica. Um novo álbum físico dos Detonautas, porém, deve chegar às lojas ainda em 2014, com pelo menos dez novas faixas. “Mas a internet será sempre nossa plataforma principal.”.

quarta-feira, janeiro 08, 2014

Banda argentina Cool Confusion passa mais uma temporada tocando pelas ruas de Florianópolis


É impossível circular pelos arredores do Mercado Público da Capital sem dar uma esticada no pescoço para ver de onde sai o som animado que tem invadido o centro histórico desde o fim de dezembro com uma mistura de guitarras, baixo, vocal, percussão e metais. É o segundo ano consecutivo que os argentinos do Cool Confusion vêm a Florianópolis mostrar sua música em casas de shows e principalmente na rua, de onde tiram sua maior receita.
O grupo é formado por dez músicos (Agostina, Melina, Esteban, Alexis, Fabrício, Nicola, Tomás, Matias, Julián e Rodrigo) e vem acompanhado ainda de um pequeno staff: o fotógrafo Leo, o técnico de som Marcos e o “manager” Gabriel. Todos eles estão hospedados em uma casa no Sul da Ilha, alugada pelo amigo Guido por um precinho mais em conta.
A primeira vez que o Cool Confusion apareceu na Ilha foi no final de 2012, após um contato com o bar Casa de Noca, na Lagoa da Conceição, que resultou no primeiro show por aqui. Para ajudar a custear a viagem e a estadia, arriscaram apresentações ao ar livre no Centro da cidade e durante boa parte do verão já eram diariamente aguardados por quem perambulava próximo ao largo da Catedral por volta do meio-dia. O sucesso e a aceitação foram tamanhas que no último dia 23 o supergrupo desembarcou mais uma vez na Ilha, onde passou o Natal e a virada de ano.
Com suas próprias composições, lançadas em três discos e um DVD, além de alguns covers, a banda consegue atrair para perto todo o tipo de gente: pais de família segurando bebês, senhores de 70 anos, roqueiros de coturno e camiseta do Queen, garotas alternativas de vestido e franjinha e mulheres com sacolas de compras. Todos eles formam uma grande meia lua ao redor dos músicos para matar a curiosidade daquele som que não é muito comum por aqui. E nem os próprios conseguem estabelecer um estilo em poucas palavras. “Nossa música é uma confusão legal”, brinca o vocalista Rodrigo Cruzado. “É uma mistura de ritmos que passam pelo ska, funk e música latina”, tenta definir.

Amor de verão
Florianópolis, onde ficam até dia 18 deste mês, foi a primeira cidade brasileira a receber o Cool Confusion, mas depois de cair no gosto tupiniquim a banda já conseguiu contrato para dois shows no Estado de São Paulo, em São José dos Campos e Campinas, onde pretendem também tomar conta das ruas.
Diferente do que acontece aqui, em Rosário, cidade onde moram a 300 quilômetros de Buenos Aires, costumam fazer poucos shows para não cansar o público local. De acordo com Rodrigo, mesmo com o sucesso já internacional e os ganhos da viagem, nenhum deles vive só da banda. “Alguns dão aulas de música e tocam em outras bandas, mas a maioria tem outras profissões, eu sou pintor e tem até um psicólogo no grupo”, conta. Ele diz que o importante é ninguém ter um trabalho que possa comprometer as atividades, principalmente as aventuras de verão nessa Ilha que já conquistou a todos por suas belezas naturais, pelas nativas do local, a cultura e o espírito “caliente”.  “As pessoas aqui são muito curiosas pelo nosso som, principalmente pelos sopros. Elas são muito predispostas e entendem o que fazemos”, conclui o vocalista.
O amor de verão entre o Cool Confusion e Florianópolis ainda dura mais alguns dias antes de um longo inverno separados, mas para a próxima temporada os dois esperam estar juntos mais uma vez.

Publicada no jornal Notícias do Dia.