quinta-feira, janeiro 26, 2012

Entrevista: o mercado de trabalho em 2012

Final de ano é hora de rever o que deu e o que não certo ao longo do ano e tentar por em prática novos desafios que vem chegando. Para saber quais serão as perspectivas econômicas, de emprego e negócios para 2012, o Conexão Egresso conversou com o professor do curso de Administração da Univali, Fernando Cesar Lenzi, que é doutor em Administração, secretário municipal de Administração de Blumenau e consultor do Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). 

Conexão Egresso - Recentemente foram divulgados dados que, devido a crise financeira internacional, a criação de empregos caiu 40% no mês de outubro em relação ao mês anterior, sendo o menor número no mês desde a crise de 2008. Você acha que a crise poderá continuar desacelerando a criação de empregos no Brasil no próximo ano?
Lenzi -
Esses dados divulgados em relação a criação de emprego são genéricos. Lógico que diminuindo o nível de empregos na área operacional, acaba diminuindo também o nível de oportunidades no mercado de trabalho. Mas mesmo com o mercado aquecido, sempre há uma falta de profissionais, então essa desaceleração vai equilibrar o mercado. Mas o profissional preparado, diferenciado, não sente a crise, independentemente da formação. Aquele profissional que está preparado não apenas de forma intelectual, mas principalmente de atitude perante esse mercado, não sente a crise, porque esse profissional é demandado pelas empresas. E isso não tem a ver com tempo de experiência. Um profissional recém-formado pode ter uma atitude em relação ao seu trabalho que o diferencie dos demais.

Conexão Egresso - Apesar dessa queda, alguns setores apresentaram desempenho positivo na geração de empregos, como o setor de serviços, seguido pelo setor de comércio. Que áreas você acha que poderão gerar mais empregos em 2012?
 Lenzi - O setor industrial está perdendo espaço. Não que ele não seja necessário, ele é. Mas se há 20 anos o setor industrial era responsável pela maior parte dos empregos, não quer dizer que a geração de empregos na indústria tenha diminuído. Quer dizer que ela estagnou e os outros cresceram. Então, o setor de serviços e o setor de comércio cresceram muito. O da indústria ficou mais competitivo, mas ela não funciona mais sem o setor de tecnologia, por exemplo. E não digo apenas a tecnologia da informática. É a tecnologia de serviços, de diferenciação, de estratégias para lidar com esse mercado comercial. E aí é um ciclo econômico. Quanto mais você gera riqueza no mercado, mais circula capital, e mais se gasta no comércio. Não quer dizer que o setor de serviços seja o mais representativo na geração de empregos, mas é o de maior crescimento, e o comércio vem de carona com o aquecimento do mercado. Então há uma tendência muito grande no setor de serviços, no setor de tecnologia e no setor de alimentação, que está cada vez mais forte.

Conexão Egresso - Quais devem ser as ambições e como deve se preparar o profissional que está concluindo agora a graduação e que em 2012 vai entrar no mercado de trabalho?
Lenzi - Primeiro é preciso ter uma visão do futuro. O que eu quero ser? Como o mercado deve me reconhecer? Como eu quero ser reconhecido daqui a dez anos no mercado? A visão de futuro é o principal aspecto relacionado à formação empreendedora, independente da profissão. Outro fator fundamental é a atitude positiva em relação às coisas. Não dá para trocar uma ação por uma desculpa. Enquanto você está se desculpando por algo, você está deixando de fazer algo que poderia dar certo. O profissional de hoje deve estar no mercado para resolver problemas, e não para falar de problemas. Olhar para frente de cabeça erguida, no sentido de conseguir enxergar as oportunidades também é fundamental. Quando estamos com a cabeça baixa, não vemos a perspectiva de crescimento que há no mercado. Então dentro do principio da visão de futuro e foco no resultado dessa visão de futuro, acho que é tudo o que a gente precisa ter de forma prática. O mercado não busca apenas técnica. Ele busca um conjunto de comportamentos.

Conexão Egresso - E como será o ano para quem pretende abrir um negócio? Como se preparar para isso?
Lenzi - O segundo maior sonho do brasileiro é ter o próprio negócio, só perde para a casa própria. Mas muitos desses sonhos acabam se tornando pesadelo, pois 60% das empresas ainda fecham até o terceiro ano. Eu tenho que olhar para esses 60% e entender por que elas fecham. E dez das principais causas da mortalidade das empresas são fatores controláveis por ação do empreendedor. Não é porque o mercado é competitivo, não é por causa dos altos tributos cobrados, não é porque os funcionários não trabalham. É por atitudes do próprio empreendedor. São coisas simples, porém complexas, como falta de planejamento, de análise de mercado, de cálculo de custo e até mesmo o nepotismo dentro da empresa. São fatores desse tipo, de atitudes do próprio empreendedor, de planejamento e técnicas gerenciais que levam a um resultado melhor, independentemente da área de formação. Nas universidades todos os cursos deveriam ter ao menos uma disciplina que dê essa visão de planejamento aos acadêmicos.

Conexão Egresso - Que áreas você acha que serão mais promissoras para novos negócios?
Lenzi - É muito relativo. Mais do que a área, o que está por trás do empreendedor de sucesso é a atitude. Às vezes você tem duas pessoas no mesmo segmento de negócio, uma vai bem e a outra vai mal. Enquanto um monta o negócio e só espera as pessoas entrarem, outro está batalhando, correndo atrás, participando de associações empresariais e outros meios que acabam o tornando conhecido como uma referência naquilo que ele está fazendo. Então quando a gente fala de áreas promissoras, é muito relativo, mas como te falei, a área de tecnologia é bola da vez, qualquer área de serviço que possa atender os segmentos empresariais também acaba tendo essa oportunidade aberta, assim como o setor de alimentação e os relacionados a serviços automotivos. Outra área de conhecimento muito forte e que há cinco anos era novidade é o design. Era difícil até de se colocar no mercado, e hoje ele está conectado a diversos segmentos profissionais. E para a nossa região, o turismo continua tendo um campo sensacional pela frente.

Conexão Egresso - E quem tem o sonho de abrir uma empresa, mas quer segurança e tem medo de correr riscos?
Lenzi -
Não abra. Quem quer abrir uma empresa para ter segurança e não correr riscos, não abra. A pessoa que pensa dessa forma ainda não está preparada para abrir uma empresa.

Conexão Egresso - As micro e pequenas empresas podem ser consideradas uma boa opção para quem estará entrando no mercado de trabalho no próximo ano?
Lenzi -
A tendência hoje é essa. O segmento da pequena empresa é o que mantém o mercado hoje em movimento. Não é o tamanho da empresa que determina se ela é boa ou não, é a rentabilidade que ela gera. Para um profissional recém-formado entrar em uma pequena empresa é uma excelente oportunidade, primeiro porque é mais fácil o seu trabalho aparecer e você pode aprender de tudo um pouco. Dificilmente em uma grande empresa você aprende de tudo um pouco, porque lá você fica setorizado, vai ser especialista naquele setor, mas há uma dificuldade de ter uma visão do todo. É importante pensar até que ponto isso está conectado com a minha visão de futuro. Se trabalhar em uma empresa pequena contribui para aquilo que eu quero daqui a cinco ou dez anos, perfeito. Mas se não tem nada a ver, então por que trabalhar lá?

Por Juliete Lunkes

Publicada no Portal do Egresso Univali