quarta-feira, abril 11, 2012

Universitários na melhor idade

Eles já passaram dos 60, estão estabilizados profissionalmente e não querem parar de estudar. Conheça a história de um acadêmico de Jornalismo e de um doutorando em Administração e Turismo que têm idade para ser pais ou avôs de seus colegas de aula.

Aos 64 anos, o médico Roberto Dávila está a alguns meses de sua colação de grau, dessa vez na faculdade de Jornalismo. O acadêmico que já cursou Ciências Biológicas, Medicina, Administração, Ciência Política e Direito – além de algumas pós-graduações – já fez as fotos para o convite da formatura e se dedica agora ao trabalho que vai apresentar para a banca no fim do semestre.
 A vontade de voltar para a vida acadêmica, mesmo já sendo um médico bem-sucedido, surgiu no começo da década de 1980, quando Roberto começou a participar de processos políticos eleitorais. Para entender melhor como administrar uma campanha política, decidiu entrar no curso de Administração. Depois de formado, achou que seria essencial ter a faculdade de Ciência Política no currículo. Graduou-se como o primeiro aluno da turma e, não satisfeito, foi fazer a matrícula no curso de Direito. Ele queria entender melhor os processos do partido nos tribunais eleitorais. Mais tarde, o Jornalismo surgiu da necessidade de elaborar bons artigos.
Além de passar boa parte do dia no hospital, Roberto também administra uma empresa de construção. Mas será que dá tempo de trabalhar tanto e ainda se dedicar a tudo o que uma faculdade exige? “Dá e sobra!”, garante o acadêmico. E o segredo para a abundância de tempo ele também revela: dormir pouco.
Roberto acorda todos os dias às 6h e já levanta no pique para cumprir todas as suas obrigações. “Tudo é feito mais ou menos metodicamente”, revela o aluno que não fica atrás de nenhum de seus colegas mais jovens nas funções acadêmicas. Aliás, sua relação com os colegas também costuma ser muito boa. “Não faço diferenciação e nunca sofri nenhum constrangimento”, conta.
Em julho deste ano Roberto sairá mais uma vez pelos portões da Univali com um diploma na mão, já garantindo que volta no ano que vem. “Mas dessa vez será algo voltado para mim e não para a vida política. Pretendo entrar no curso de Psicologia e também no de Música”, planeja. Depois disso, só o futuro dirá. O que não está nos planos é um dia parar de fazer uma das coisas que mais gosta: estudar.

Doutorado depois dos 60 

Graduado em Contabilidade em 1974, o professor Eloy Fenker decidiu dar continuidade aos estudos três anos antes de completar 60. Em meados da década de 1980, quando começou a cursar disciplinas do mestrado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), não se sentia motivado o suficiente e por isso não chegou a concluir a dissertação. “Na época, o mestrado ainda não era tão valorizado”, explica. Mas 17 anos depois de ter abandonado o curso, a história mudou.
Em 2007, Eloy entrou no Mestrado em Contabilidade, e dessa vez foi até o fim. Concluiu o curso em 2009, com 59 anos e, com um pique muito maior do que quando tinha 30, insistiu que ainda não era hora de parar os estudos. No ano seguinte, entrava no Doutorado em Administração e Turismo da Univali.
Para ele, cursar doutorado após os 60, já com uma bagagem de vida e experiência acadêmica, é ainda melhor, já que pode associar o estudo com atividades que ele já desenvolveu. “O estudo após os 60 anos não visa prioritariamente a preparação para a carreira profissional, mas uma realização pessoal, por isso ele é muito prazeroso”, explica. Como não tem tanta obrigação com desempenho, bolsa de estudos ou prazos rígidos para cumprir, Eloy considera que o estudo se torna muito mais leve, embora demande mais concentração e esforço do que para um jovem.
Assim como o acadêmico de Jornalismo Roberto Dávila, Eloy considera a relação com os colegas mais jovens muito construtiva: “Como tenho a vantagem da idade, sou visto de certa forma como alguém mais experiente e protetor, a quem muitos recorrem para pedir auxilio e tirar duvidas“.

Por Juliete Lunkes