domingo, setembro 14, 2014

Eventos e projetos voltados à moda em Santa Catarina impulsionam a entrada de novos designers no mercado de trabalho

Muito mais do que possuir a melhor faculdade de moda do país, única com cinco estrelas no Guia do Estudante da editora Abril, e espalhar pelo mundo centenas de profissionais qualificados todos os anos, Santa Catarina aos poucos vem também desenvolvendo iniciativas que servem como vitrine para novos profissionais. Nos próximos meses, a conclusão de duas ações diferentes vai colocar coleções de cerca de 80 novos designers de moda de universidades catarinenses frente a frente com o mercado de trabalho.
No dia 13 de novembro, 42 formandos do curso de design de moda da Udesc (Universidade do Estado de Santa Catarina), eleito pelo quarto ano consecutivo o melhor do Brasil, vão desfilar suas criações em Florianópolis na passarela do Octa Fashion (Observatório de Cultura e Tendências Antecipadas). E, em dezembro, outros 38 designers de diversas faculdades do Estado mostram suas coleções na exposição do SCMC (Santa Catarina Moda e Cultura), também na Capital.
Coordenado pela professora Balbinette Silveira, do curso de design de moda da Udesc, o Octa Fashion teve sua primeira edição realizada em 2011 por atitude dos próprios estudantes que não queriam uma formatura comum, somente com a presença de familiares. O formato tradicional do desfile de conclusão de curso ganhou o novo conceito no momento em que o nome mudava de estilismo para design de moda, e desde então é o maior evento do gênero no Estado.
Na quarta edição, 42 novos designers de moda vão desfilar suas coleções, desenvolvidas ao longo de um ano, sob orientação de professores. Além deles, uma equipe de 50 estudantes de outras fases do curso participa ativamente da produção, dividida em grupos de diferentes departamentos. “Isso é interessante porque nem sempre os alunos acabam trabalhando efetivamente com criação, mas em outras áreas da moda, como a comunicação, por exemplo”, destaca Balbinette.
Segundo ela, que coordena o evento de formatura há 12 anos, a nova proposta surgiu porque os alunos não viam mais aquilo como um simples desfile. Hoje, além da apresentação das coleções no grande dia, que deve receber um público estimado em duas mil pessoas, os formandos participam da produção de uma revista, um site, um catálogo e um DVD.

De mangas arregaçadas

Insatisfeita com a falta de retorno que o desfile de formatura da Udesc dava aos novos designers de moda, Kamila Rosa foi uma das estudantes que arregaçaram as mangas para ajudar organizar a primeira edição do Octa Fashion. Formada em 2011, ela já havia começado a criar as primeiras peças de sua marca de camisas, a Maria Leite, um semestre antes de concluir os estudos. Após a formatura, lançou três coleções e começou a receber pedidos de clientes para que abrisse um ponto fixo. Assim, há seis meses inaugurou sua própria loja multimarcas no bairro de Coqueiros, onde, por enquanto, vende suas criações apenas por encomenda. “No momento quero dar mais atenção para a loja, que ainda está muito verde, mas minha paixão é a criação”, diz ela, que em breve pretende encher as araras com camisas Maria Leite.
Os bordados e detalhes delicados que acompanham as peças desenhadas por Kamila, por terem um apelo mais comercial, não fizeram parte da coleção que a designer desfilou para mais de quatro mil espectadores no Octa Fashion. Em compensação, na época sua liberdade pôde ser explorada em uma marca de roupas infantis.
Ela conta que meses antes da formatura o plano da universidade era fazer um desfile simples, para a família, no próprio Ceart (Centro de Artes) da Udesc, mas, ao lado de outra colega, se recusou e foi atrás de patrocínio para a criação de um grande evento. O resultado foi uma massiva participação de grandes marcas, de formadores de opinião e de um convidado de honra: Oskar Metsavaht, nome por trás da Osklen. “Nós formamos equipes de produção e criamos o nome do evento, tudo da noite pro dia. Queríamos que as próximas turmas levassem isso adiante. Até o reitor, que nunca ia às formaturas de moda, foi ao Octa”, lembra Kamila.

Inserção na rotina industrial

Realizado desde 2005 por iniciativa de um grupo de empresários do ramo têxtil da região do Vale do Itajaí, o SCMC dá a oportunidade de pouco mais de 30 estudantes de design de moda e produto de várias universidades catarinenses passarem um ano acompanhando de perto o dia a dia da produção do ramo. Por meio de uma parceria entre empresas – um total 17 na edição de 2014 – e das próprias instituições de ensino, alunos a partir do penúltimo ano da faculdade podem se inscrever em duplas para participar do projeto. Após uma seleção, cada dupla vai para uma empresa diferente, onde passa os meses seguintes participando, junto com a equipe criativa da própria marca, do desenvolvimento de uma coleção com consultoria de Jackson Araujo e Luca Predabon. Ao fim do ano, a coleção é apresentada em uma exposição aberta ao público, que em 2014 deve acontecer entre novembro e dezembro.
Segundo Paula Cardoso, gestora executiva do SCMC, a iniciativa tem um papel fundamental na formação dos designers, já que se responsabiliza por uma área que a universidade normalmente não contempla. “A faculdade forma o aluno, mas ali ele acaba participando do dia a dia da empresa. Cada estudante tem seu timing para criar algo, mas depois do SCMC eles passam a entender a realidade industrial”, destaca.
Além da vivência dentro de uma grande empresa, a exposição final das criações acaba atingindo uma série de outros profissionais da área, ligando os estudantes diretamente ao mercado de trabalho. “Com frequência acontece de as próprias empresas acabarem contratando os alunos que tiveram essa experiência dentro delas”, afirma Paula.

Cabeça aberta

Formada em moda pela Furb (Fundação Universidade Regional de Blumenau), a designer Luiza Ferreira foi uma das participantes do SCMC em 2010, durante seu último ano de faculdade. Após a experiência dentro de uma das empresas parceiras do projeto e um período de estudos em Londres, há dois anos ela retornou a Blumenau, onde começou a pensar no esboço do que mais tarde viria a se tornar sua própria marca de acessórios.
“A participação no SCMC foi ótima porque acabou abrindo um leque maior de possibilidades para mim. Ele me fez ir muito além de roupas, que era só no que eu pensava na época”, conta. Durante o ano que passou na capital inglesa, Luiza teve a oportunidade de trabalhar ao lado de designers que tinham o couro como matéria prima e aprendeu procedimentos exclusivos com o material. Hoje, só ela e mais duas pessoas no mundo utilizam a técnica que envolve moldar acessórios em couro com as mãos. No Brasil, ela só é encontrada na marca que leva o nome de Luiza.
“É um processo todo artesanal que não tem como ser feito em grande escala, por isso só atendo em meu estúdio com hora marcada e faço peças sob encomenda”, conta a designer, que, além de produzir os acessórios sozinha, realiza toda a compra dos materiais e ainda faz as vezes de modelo em seu catálogo.

Expectativas pós-Octa Fashion

Antes mesmo de concluírem a faculdade de moda, as primas Bárbara Leite e Gabriela Martins decidiram durante um intercâmbio na Itália que criariam uma marca juntas, mas não sabiam de que. Como Bárbara havia feito um curso de lingerie e já costurava e vendia peças para amigas, a decisão acabou sendo por levar adiante a ideia, dessa vez com novas referências, produção terceirizada e muito mais profissionalismo. Assim, há um ano e meio nasceu a primeira coleção da Sorellina, marca idealizada pela dupla repleta de referências vintage e materiais nobres.
Enquanto Gabriela concluiu há cerca de dois anos o curso de design de moda na Unisul (Universidade do Sul de Santa Catarina), Bárbara se prepara para no dia 13 de novembro mostrar sua coleção de conclusão de curso no Octa Fashion. Por baixo das peças desenhadas por ela, lingeries da Sorellina também estarão presentes.
“Tenho esperança de realmente conseguir mostrar a marca para mais gente lá, e é legal relacioná-la a um evento de moda desse porte. E além de estar junto com a coleção que criei para o desfile, a Sorellina vai aparecer no catálogo como apoiadora”, conta Bárbara. “O Octa Fashion é um evento que acontece por empenho dos próprios alunos e que gera muito retorno. Eu senti um pouco de falta disso no meu curso, que promovia desfiles todo o fim de semestre, mas para um público mais familiar”, avalia Gabriela.

A expectativa para após a formatura de Bárbara, com um empurrãozinho do Octa Fashion, é que elas lancem a quarta coleção da Sorellina, abram um ateliê e consigam com que mais lojas vendam as peças. Atualmente, além das vendas pela internet, duas lojas comercializam Sorellina, uma em Florianópolis e outra em Porto Alegre.  Para o segundo semestre de 2015, a meta é também que ela já comece a dar retorno financeiro real. “A Sorellina se mantém, mas ainda não paga nossos salários. Tudo o que ganhamos investimos nela, em um bom site, em melhores etiquetas”, afirma Bárbara.

Publicado no jornal Notícias do Dia

sexta-feira, setembro 05, 2014

Jair Rodrigues revive

Com um repertório composto por alguns dos maiores sucessos da carreira de Jair Rodrigues, seus filhos Jair Oliveira e Luciana Mello trazem hoje a Florianópolis o show tributo que começou a rodar o Brasil ainda antes da morte do músico, em maio deste ano. As primeiras apresentações do formato que revisita clássicos de Jair Rodrigues chegou a contar com sua presença no começo de 2014, e continuou no comando da dupla de irmãos, primeiro para cumprir a agenda que o pai já tinha e depois pelos convites que não pararam de chegar.
“A escolha por dar continuidade a isso foi natural, nunca tivemos dúvida se deveríamos ou não levar o show adiante, e o que foi determinante foi essa agenda do meu pai que optamos por cumprir. Nos colocamos à disposição, como já fazíamos antes”, explica Jair Oliveira.
Na primeira parte do show, Luciana e Jair apresentam um repertório de músicas de suas carreiras solo e na segunda metade resgatam canções marcantes da trajetória do pai, como “Tristeza”, “Deixa isso pra lá” e “Majestade, o sabiá”. “Essa experiência para nós é como é para todo mundo. É emocionante poder relembrar a carreira dele, sempre prestamos homenagens a ele ainda em vida, então é uma continuação. Para a gente é muito especial poder manter o legado de Jair Rodrigues, seu sorriso, sua carreira gloriosa, e a recepção do público tem sido incrível, as pessoas tem um carinho enorme por ele. Temos recebido muitas propostas para fazer o show”, destaca o músico. 
Além dos shows do tributo, os irmãos tem se apresentado juntos pelo Brasil também com o projeto “O samba me cantou”, resultado de um DVD lançado em 2009 por Luciana em parceria com o irmão. E apesar de tantos compromissos, suas carreiras solo também continuam ativas e Jair segue subindo aos palcos com o projeto que comemora seus 30 anos de trajetória musical, lançado este ano.

Memórias póstumas
Rumores sobre a dupla de irmãos ter começado a preparar uma biografia de Jair Rodrigues antes mesmo de sua morte chegaram a circular há alguns meses, mas o filho nega qualquer movimentação a respeito, apesar de admitir que, junto com Luciana, já chegou a pensar a respeito. “Não estamos tendo tempo agora para fazer algo desse tipo, sem falar que eu não sou um escritor, então provavelmente algum biógrafo experiente teria que fazer esse trabalho”, conclui. Por enquanto seu único plano, além do show tributo, para resgatar a trajetória do pai é o lançamento de algumas de suas músicas digitalmente.

Jair Rodrigues morreu no dia 8 de maio deste ano, aos 75 anos, vítima de um infarto do miocárdio. Como não apresentava qualquer problema de saúde nos meses que antecederam sua morte, cumpria normalmente uma extensa agenda de shows. Agora, além de se manter vivo nos palcos pela voz de seus dois filhos, ele também tem circulado pelo país na pele do ator Ícaro Silva na montagem “Elis, a Musical”, sobre a trajetória de Elis Regina. 

Publicado no jornal Notícias do Dia

quarta-feira, setembro 03, 2014

Far From Alaska faz show hoje em Florianópolis

É com vista para o mar de Jurerê Tradicional, em Florianópolis, que o quinteto do Rio Grande do Norte Far From Alaska tem acordado desde ontem, véspera do primeiro show da banda no Sul do país. Experimentando rápido o gostinho de passar por palcos de um punhado de cidades brasileiras em 15 dias de turnê, o grupo formado em Natal há pouco mais de dois anos chegou à Capital na segunda-feira, depois de passar pelo festival Porão do Rock, em Brasília, e ver o quão longe sua música conseguiu chegar. Hoje é a vez do palco do Treze receber a banda potiguar, que daqui segue para Rio do Sul e finaliza a passagem por Santa Catarina em Itajaí, na sexta-feira.
Desde que decidiram parar de tratar a Far From Alaska como um projeto paralelo das outras bandas que cada um dos integrantes possuía, algo que eles definem como “uma sequência de coisas boas” começou a acontecer. O primeiro single, “Thievery”, lançado em setembro de 2012, já foi capaz de acender os ânimos do público local e rendeu uma seleção para o Festival Dosol, o primeiro show da banda, que na época tinha apenas as quatro músicas que faziam parte do EP “Stereochrome”. Mas o que traçou o destino promissor foi a vitória no concurso Som Pra Todos, que resultou em uma apresentação (a segunda da trajetória do grupo) no festival Planeta Terra, em São Paulo, e um contrato de distribuição com a gravadora Deck.
“A gente nunca teve uma gravadora, não sabíamos nem como funcionava. Quando gravamos o EP não teve uma grande produção, nossa preocupação era ter músicas para tocar no show. Então fomos para o Rio, onde ficamos uma semana gravando o disco, e foi a melhor semana das nossas vidas”, conta o guitarrista Rafael Brasil.
“Quando entramos no estúdio da Deck para gravar havia uma produção bem surreal”, lembra a vocalista Emmily Barreto. “Queríamos usar tudo, colocar piano onde nem tinha só para poder usar”, completa Cris Botarelli, que comanda os sintetizadores.  O fruto saiu em maio de 2014 no álbum “modeHuman”, com 15 faixas mixadas por Pedro Garcia, do Planet Hemp, e masterizadas pelo produtor americano Chris Hanzsek.

Fãs ilustres
Há algo de mais impressionante no Far From Alaska, além da qualidade do som que conquistou público em todo o país e aclamação da mídia especializada, e está relacionado justamente a alguns fãs declarados, muito mais famosos que a própria banda. Uma delas é Shirley Manson, vocalista da banda americana Garbage, que tiveram a chance de conhecer em 2012, durante a participação no Planeta Terra. “Nós estávamos no mesmo hotel do Garbage, a vimos passando pelo saguão e a Cris foi falar com ela. No dia seguinte a Cris madrugou e escreveu uma cartinha para a Shirley falando sobre a banda e onde ela poderia ouvir, já que a gente não tinha nada físico para entregar. Um tempo depois ela postou na internet um texto enorme sobre a gente”, lembra o baixista Edu Filgueira. “Aí ela zerou a nossa vida”, brinca o baterista Lauro Kirsch.

Mais recentemente, em agosto, a cantora Pitty também foi só elogios ao citar Emmily como uma das grandes cantoras brasileiras, ao lado de Elis Regina e Rita Lee. “Eu fiquei chorando sentada quando ouvi”, conta a vocalista. E o terceiro fã, que costumava criticar bandas brasileiras que cantam em inglês, é Tico Santa Cruz, vencido pelo som autêntico do quinteto que não vê a hora de poder mostrar seu som para lá da fronteira brasileira. 

Publicado no jornal Notícias do Dia