sexta-feira, fevereiro 07, 2014
Mostra “A Eterna Procura da Cidade Azul”, de Laércio Luiz, abre hoje no Palácio Cruz e Sousa
As obras criadas pelo artista Laércio Luiz começam sempre bem antes das primeiras pinceladas tomarem conta da tela em branco. Seja em viagem ao Marrocos ou no quintal de sua casa-ateliê, cercada pela natureza em um morro do Córrego Grande, em Florianópolis, o momento de colher o material que lhe dará o pigmento que vai colorir telas ou objetos é o início de todo o processo. Com olhar apurado do curador Franzoi, boa parte do que o artista produziu desde 1989 poderá ser visto a partir de hoje na exposição “A Eterna Procura da Cidade Azul”, aberta até 9 de março no Palácio Cruz e Sousa.
“O Franzoi chegou para mim e disse: ‘posso ir na tua casa e revirar tudo?’ São coisas que nunca mostrei antes”, diz Laércio ao explicar como tudo começou. A mostra contará com 27 peças e cada um dos materiais utilizados como base representará uma fase da vida do artista, dividida em oito séries cronológicas.
Todas as cores que ele coloca nas bases de seu trabalho são colhidas da natureza, da terra, de pedras, plantas, raízes e seivas, fixadas com nódoa de banana. “A paleta de cores é restrita, mas para alargá-la eu misturo as tonalidades”, explica Laércio enquanto mostra em um papel branco a cor vibrante que uma simples lasca de pedra pode proporcionar.
“Eu sempre tive a preocupação em não prejudicar a natureza, talvez a tinta a óleo que utilizasse poderia prejudicar algo em algum lugar. Então, aos 18 anos, eu vi que esse material, além de inofensivo, poderia dar a quem não tem acesso a tintas a chance de pintar”, explica.
Toda a pesquisa que Laércio empreendeu ao longo desses anos partiu da percepção da arte dos próprios “homens das cavernas”, que utilizavam materiais semelhantes e que perduram hoje. “O material tem durabilidade: as minhas telas pegam sol e tudo e ainda estão aí intactas há 25 anos”.
Moderno há 25 anos
Laércio Luiz lembra que quando começou a pintar, sempre utilizando pigmentos naturais, seu trabalho era visto com certa desconfiança. “Ninguém queria comprar quadros pintados com terra. Quem é que ia querer terra pendurada na parede? Queriam quadro de tinta a óleo. Eu pensava: ‘vou morrer de fome se não vender nada’, então em uma molduraria tivemos a ideia de colocar um vidro na frente, aí parecia tinta a óleo”, diverte-se lembrando. De uns anos pra cá, entretanto, a história tem sido outra. “Agora muita gente me procura porque quer meus quadros e muitos artistas já estão fazendo o que eu faço. Estou moderno há 25 anos”.
O trabalho, porém, não é para qualquer um. Além de envolver em uma longa pesquisa sobre a pigmentação natural, Laércio, com sua estética “meio artista, meio mágico, meio bruxo”, explica que para extrair uma boa cor de um elemento da natureza é preciso estar de bem consigo mesmo. “Minha obra são pequenas percepções que o ser humano não tem. Eu quero trazer essa percepção”.
Para passar adiante o conhecimento que embasou toda a sua criação, Laércio irá ministrar no próximo dia 19 uma oficina de pigmentos naturais, voltada especialmente para educadores da rede pública de ensino. No mesmo dia, o público também poderá participar de uma conversa com o artista. Todas as atividades serão no Palácio Cruz e Sousa, com entrada gratuita.