quarta-feira, novembro 06, 2013

Penna Filho está em vias de finalizar novo longa-metragem sobre os mineiros do Sul do país


Em sua casa rodeada por um silencioso e florido jardim, a alguns metros da Lagoa da Conceição, o cineasta Penna Filho conta nos dedos as últimas etapas que faltam para a finalização de seu novo filme. Retrato íntimo da luta sindicalista dos mineiros do Sul Estado, “Das Profundezas” faz parte de um projeto que Penna Filho começou a pesquisar há 20 anos e que deu origem, inicialmente, ao curta-metragem “Naturezas Mortas”, lançado em 1995. “Esse filme era para ter sido feito há mais tempo, mas quando comecei a pesquisar a história dos mineiros, não seria possível a produção de um longa”, explica.
Os mais de 40 anos de carreira como cineasta, tendo passado pelas agruras da ditadura militar, entretanto, não o livraram de reconhecer a dureza da produção. Além da falta de apoio das mineradoras, do orçamento limitado e dos riscos de filmar em uma mina de carvão, em 2011 Penna Filho foi diagnosticado com câncer no intestino, o que o afastou de algumas etapas. “Antes de começar a trabalhar no filme, resolvi fazer um check-up para ver estava tudo bem comigo, nunca fui de ficar doente. Aí descobri o câncer, já em estado avançado”.
Com a ajuda da família, Penna conseguiu dar início à produção do longa enquanto começava o tratamento. Após receber o aval do médico, em abril de 2013 pode enfim participar das filmagens, processo em que sua presença seria indispensável. “Trabalhei 14 horas por dia, os mineiros nem queriam que eu entrasse na mina, preocupados com a minha saúde”, lembra.
Além de ser o principal cenário do filme, a Cooperminas é também o embrião de toda a história que guiou o cineasta. Fruto da luta dos trabalhadores de uma mineradora falida, a cooperativa se transformou na primeira experiência de autogestão da indústria carbonífera brasileira. É ali que Anita, personagem central da trama, com nome inspirado na companheira de Giuseppe Garibaldi, vive seu drama.

Uma nova vida na Ilha
Aos 77 anos, Penna Filho passou por experiências que marcaram sua trajetória, para o bem e para o mal. Ainda que lembre com carinho da época em que trabalhava na TV Cultura, em São Paulo, onde tinha total liberdade para tocar seus projetos, jamais esquece o que a ditadura o fez passar. “A censura aos meus filmes travou a minha carreira”, relembra consternado.
Nascido em Vitória, no Espírito Santo, Penna construiu sua trilha no cinema na capital paulista, onde ficou de 1959 até 1991. Assim como boa parte da classe artística do país, foi desmotivado pela crise da era Collor e decidiu vir a Florianópolis para apoiar a filha que estava morando na cidade. Aqui, o cineasta imediatamente buscou se inserir na cultura local, que já serviu de material para algumas de suas obras.
Seu mais recente trabalho, lançado em 2009, a comédia “Doce de Coco” tem como principal cenário o Ribeirão da Ilha e foi exibida em diversos estados por meio de circuitos itinerantes, além de ter ficado em cartaz durante uma temporada no Cine Belas Artes, espaço nobre para filmes cults em São Paulo, extinto em 2011. Quatro anos após seu lançamento, a história da sacoleira Madalena e seu marido Santinho, um artesão sacro, em meio à crise econômica do país, é destaque durante todo o mês de novembro na programação do canal Cine Brasil TV.

Publicada no jornal Notícias do Dia.