domingo, novembro 10, 2013
Fotógrafos de Florianópolis se especializam em registrar recém-nascidos
O cenário já estava montado, a câmera e a fotógrafa prontas para o trabalho, só faltava a modelo chegar para a sessão ter início. Ou quase isso, já que a pessoa esperada não media mais de 40 centímetros, tinha apenas 22 dias de vida e precisaria, antes de tudo, entrar em um profundo soninho, elemento indispensável para a chamada fotografia newborn. Quando a pequena Rafaela chegou, nos braços da mãe Maristela, a fotógrafa Susi Padilha sugeriu que ela mamasse antes de começar o verdadeiro ritual para fazê-la dormir, com direito a canções de ninar e barulhinhos relaxantes.
Susi veio de Lages para Florianópolis há oito anos, e é fotógrafa há 20, mas só há poucos meses passou a se aventurar especificamente com recém-nascidos. A modalidade tem ganhado cada vez mais adeptos entre os fotógrafos brasileiros, que nos dias 10 e 11 de dezembro poderão aprimorar suas técnicas no Newborn Photo Conference, o único congresso dedicado exclusivamente à fotografia de recém-nascidos no mundo, promovido pelo Instituto Internacional de Fotografia em Florianópolis.
Há menos de quatro anos, antes de ter sua filha, Susi corria a cidade para registrar acontecimentos que no dia seguinte estampavam as páginas de um jornal. Após um curso com a renomada fotógrafa Laura Alzueta, treinamentos com bonecas e dez sessões gratuitas com bebês de verdade para deixar de lado toda a insegurança, pode finalmente exercer sua nova arte com tranqüilidade.
Para que tudo ocorra com o máximo de perfeição, o ideal é que o bebê tenha entre seis e 20 dias, período em que ainda não tem cólica, é mais flexível e dorme com mais facilidade, tornando possível a execução das mais inimagináveis e impressionantes poses. Mas de acordo com Susi, o conhecimento técnico adquirido em cursos não basta. “É preciso ter muita paciência e sensibilidade. Às vezes o bebê demora a dormir ou acorda e chora quando tiramos a roupinha. Outras vezes a mãe ou a avó interferem no trabalho”, conta. A confiança da família, aliás, é indispensável para o trabalho, o que a mãe de Rafaela demonstra ter de sobra, já que está na segunda sessão de fotos da filha. “Não me senti insegura em nenhum momento, a Susi passa muita confiança. Só fico sentada e deixo ela fazer ”, garante Maristela.
Balde, gamela, cesto de vime e um pufe são alguns dos acessórios que compõem o cenário da fotógrafa, que costuma transportar tudo até a casa das clientes, onde normalmente as fotos são feitas, sem ultrapassar três horas de duração, para não cansar o bebê. Como o ensaio é cheio de imprevistos, Susi não costuma marcar mais nada para o mesmo dia. Com todo esse investimento de tempo, cursos e materiais de composição, um ensaio newborn em geral não costuma sair por menos de R$ 600, isso se a cliente não optar pelo álbum.
Paciência é a chave
Há um ano os recém-nascidos passaram a entrar também no portfólio da fotógrafa Kellen Vianna, mas não são exclusividade em seu trabalho, que conta ainda com petbooks (ensaios com animais de estimação), casamentos, 15 anos, produtos e fotos corporativas. Natural do interior de São Paulo e moradora da ilha há cinco anos, ela também é mãe e afirma que o fator ajuda no processo, mas avisa que há um componente muito mais importante: “É imprescindível a presença de um assistente bem treinado e paciente”.
Os ensaios de Kellen costumam ter entre três e cinco horas, dependendo do bebê e sempre respeitando suas pausas. Para fazer os pequenos dormirem, não tem nenhuma técnica muito diferente além de utilizar o próprio ambiente do bebê, com aquecimento, muito conforto e a boa e velha paciência. “Ela é a chave para que tudo aconteça conforme planejamos”, afirma.
Os homens também têm vez
O fato de Susi e Kellen serem mulheres, e principalmente mães, facilita na hora de saber se a criança está com fome ou cólica, mas no mercado da fotografia newborn há homens que também se destacam. O fotógrafo capixaba Cristiano Borges tem apenas 27 anos, atua há menos de dois com recém-nascidos e já é uma das principais referências do assunto no Brasil. Ele vem a Florianópolis em dezembro como um dos palestrantes do Newborn Photo Conference.
“Não senti dificuldade e nem preconceito por ser um homem atuando nesse ramo. Pelo, contrário, acabo colocando meu olhar masculino na fotografia e agrado bastante não apenas às mães, mas aos pais dos bebês”, garante Cristiano, que tem dois filhos – a grande inspiração para sua profissão –, e já é dono de um estilo único de fotografia newborn. Para entender melhor o que os recém-nascidos sentem e conseguir aplicar suas técnicas, ele contou com ajuda de livros e materiais da medicina.
Hoje as sessões que Cristiano faz duram em torno de 40 minutos, mas no começo chegavam a ter até quatro horas. Para facilitar seu trabalho e deixar tanto o bebê como a família mais confortáveis, ele realiza as fotos em seu próprio estúdio, onde conta com um punhado de cenários diferentes. Motocicleta, skate e objetos antigos fazem parte da vasta gama de possibilidades dos ensaios que levam sua assinatura em pacotes que custam em média R$ 1.800. Os pais ganham atenção especial, com direito a doces e suco natural para ficarem mais relaxados. “Quando os pais estão bem, o bebê também está”, justifica Cristiano.
Independente de ser homem ou mulher e das diferentes técnicas utilizadas por cada um deles, há uma característica que todos têm em comum e concordam ser indispensável: um amor incondicional pelo que fazem.
Publicada no jornal Notícias do Dia.