“Eu
vou dizer Florianópolis, vou dizer Brasil e vocês vão dizer o meu nome!”
Se
Paul Stanley ainda tinha alguma dúvida de que a platéia estava em suas mãos
desde o primeiro segundo que pisou no palco do Devassa on Stage na noite da
última segunda-feira (20), nessa hora ele deve ter se sentido um pouquinho com
um Deus. Porque as cerca de dez mil pessoas paradas em sua frente fizeram
exatamente o que ele pediu. E não foi uma e nem duas vezes.
No
meio de todo aquele gelo seco e das labaredas que esquentavam o rosto de quem
estava a poucos metros do palco, “Detroit Rock City” abriu o setlist estourando
as caixas de som enquanto parte do público parecia ainda não acreditar que era
realmente o Kiss ali na frente. O Kiss em Florianópolis, com direito a Gene Simmons
cuspindo sangue, Eric Singer esmurrando a bateria, Tommy Thayer fazendo seus
dedos ficarem invisíveis a cada solo de guitarra e Paul Stanley sendo... bem,
sendo ele mesmo. Um showman difícil de botar defeito.
Com
gracejos que iam de “Essa é a primeira vez que viemos a Florianópolis, podemos
voltar?” a “Olhem para vocês, olhem como vocês são lindos!”, Stanley não deixou
que uma música emendasse na outra sem bater um papo com o público. Quando
passava o microfone para o comando de Simmons – este de poucas palavras, mas
com uma comprida língua que dificilmente ficava dentro da boca – ainda
conseguia manter certa atenção para si. Isso porque quando não estava dançando
uma coreografia totalmente particular, Stanley lançava uma palheta atrás da
outra em direção ao público, que se jogava no chão na tentativa de encontrar o
souvenir.
Ao
longo de aproximadamente uma hora e meia o quarteto descarregou hits como “I
Love it loud”, “Lick it up”, “Shout it out loud” e “I was made for lovin’ you”
fazendo as dezenas de “The Demons” e “Stardchilds” de braços erguidos não
parassem de cantar do início ao fim. E quando a gente achou que nada mais
poderia impressionar depois do sanguinolento solo de baixo de Simmons e da
subida de Singer e sua bateria aos céus, finalmente chegou “Rock’n’Roll all
Night” com quilos de papel picado, fechando com láureas uma noite inesquecível
até para o mais indiferente ser humano ali presente.
Mais
energia, menos pau de selfie
Claro
que sempre tem aqueles que passam mais tempo pintando uma estrela no olho para
aparecer bem na selfie do que decorando refrãos e também aqueles que sempre vão
preferir assistir ao show em casa pelas filmagens feitas com o celular, mas de
um modo geral o público do primeiro show da turnê brasileira do Kiss estava mesmo
mais preocupado em ver a banda ao vivo.
Salvo
um ou outro celular ao alto nos momentos mais emblemáticos e um solitário pau
de selfie na pista vip, os fãs de Kiss se preocuparam mais em olhar bem para o
que acontecia no palco, afinal aquelas cenas dificilmente se repetiriam algum
dia. Nesse caso, uma foto até era boa para devidos registros.
Sem
empurra-empurra, sem moças subindo na nuca dos namorados, sem bêbados dando
vexame e sem longas madeixas de roqueiros cintilando pelo ar, parece que Paul
Stanley estava certo. Era um belo de um público.
Publicado no jornal Notícias do Dia