Ela
tem nome e sobrenome francês e seus primeiros palcos foram as charmosas e
iluminadas ruas de Paris. Apesar disso, Madeleine Peyroux é americana de
nascimento e criação, natural de Athens, cidade do estado da Geórgia, com passagens
pela Califórnia e Nova York. Dona de uma voz constantemente comparada à de
Billie Holiday, a cantora desembarca pela primeira vez em Santa Catarina no dia
18 de maio, para se apresentar em mais uma edição do Jurerê Jazz, que também
traz à Florianópolis nomes como a orquestra cubana Buena Vista Social Club.
Filha
de uma professora de francês com um americano descendente de franceses da
Louisiana, aos 15 anos Madeleine deixou seu país de origem e foi ao encalço da
mãe para a cidade da luz. Lá, conheceu artistas de rua e acabou inserida a um
grupo de músicos que diariamente se apresentava pelas esquinas menos
barulhentas. “Eu ter ido para Paris não foi crédito meu, mas da minha mãe. Ela
era apaixonada pela cidade desde muito jovem e quando recebeu uma oferta de
emprego lá, nós fomos. Foi onde conheci cantores de rua, larguei a escola e
comecei a cantar com eles em frente a um clube de jazz”, lembra.
A
voz forte que atingia sem dificuldade o tom de alguns dos principais artistas
do gênero logo chamou atenção dos donos do estabelecimento que até então servia
apenas de pano de fundo. Depois de serem convidados a se apresentar lá dentro,
Madeleine e seu grupo partiram para uma longa turnê por cidades europeias. Na
volta, após um período se apresentando sozinha em Paris, uma depressão a fez
retornar aos Estados Unidos, em 1995. “Eu achava que iria voltar para a escola,
que faria faculdade, não pensei que daria continuidade à carreira da cantora.
Então surgiu o convite para gravar. Como não consegui bolsa para estudar,
escolhi cantar”, revela.
O
primeiro disco veio já no ano seguinte, com algumas composições próprias e
interpretações de nomes como Patsy Cline, Bessie Smith e Billie Holiday, com
quem até hoje vive sendo comparada. “Não quero que as pessoas venham me ouvir
para ouvir a Billie Holiday, eu desenvolvo profundamente a minha voz. Mas às vezes
eu concordo que existe uma semelhança, principalmente no começo, nas minhas
primeiras gravações”, afirma Madeleine.
Fã da tropicália
Já
acostumada a se apresentar em cidade como Rio e São Paulo, Madeleine confessa
que em sua primeira passagem pelo Brasil se surpreendeu com o público e com a
intensa ligação dos brasileiros com a música. “Na primeira vez em que estive no
Brasil me surpreendeu o público ser tão caloroso, mas não fiquei surpresa por
gostarem de jazz. Aí as pessoas gostam muito de música, e de música boa. Os
brasileiros se tornam músicos naturalmente, não precisam ir à escola para
isso”, observa.
Fã de música
brasileira, principalmente da tropicália, Madeleine acabou ganhando bastante
intimidade com o gênero em suas andanças pelo país e até tentou mergulhar na
língua portuguesa, para compreendê-las melhor. “Aprendi algumas coisas do
idioma para entender as letras, acho muito importante entendê-las, sobretudo da
tropicália. Uma vez um jornalista me deu um disco do Tom Zé e eu traduzi todas
as músicas, fiquei impressionada, ele é excelente”, conta a cantora.
Na próxima turnê brasileira, que dessa vez passa por
Florianópolis, Madeleine vem com os músicos Jon Herington (guitarra) e Barak
Mori (baixo), com quem trabalha há dez anos, e deve apresentar uma série de
músicas que ainda não foram agravadas, além de canções do álbum “Keep Me In
Your Heart for A While - The Best of Madeleine Peyroux”.