Eles mal haviam saído da adolescência quando, em
1994, influenciados pelos ídolos Ramones decidiram fazer mais do que apenas
continuar ouvindo o LP “Rocket to Russia” ininterruptamente no toca-discos.
Vestidos em pesadas jaquetas de couro e nada afeitos a cortes de cabelo
tradicionais, os quatro guris moradores de Porto Alegre fundaram o Tequila Baby
e pouco demoraram a evadir as quatro paredes da garagem e irem parar em palcos
alternativos de todo o Rio Grande do Sul. Exatamente duas décadas depois, com
nova formação, o grupo traz amanhã à Célula Showcase, em Florianópolis, o
pré-show comemorativo da data, que deve estrear oficialmente apenas em outubro.
Os 20 anos de estrada e os oito álbuns lançados –
seis de estúdio e dois ao vivo, um deles com participação de Marky Ramone –
deram ao Tequila Baby a oportunidade de ver mais de uma geração de jovens se
acotovelar em frente ao palco enquanto provam todo o conhecimento de letras
como a de “Sexo, Algemas e Cinta-liga” e “Sangue, Ouro e Pólvora”. “Hoje nos
shows tem até avô levando neto”, diz o vocalista Duda Calvin antes de soltar
uma sonora gargalhada. “Não, mas é sério. Nosso roadie já é avô, e em 1994,
quando a gente começou, já tinha um pessoal de 30 e poucos anos que gostava da
banda, então agora eles já têm seus 50 e tantos, já são avôs. Mas rola muito de
os próprios filhos levarem os pais”, observa. Além dele e do guitarrista James
Andrew, também remanescente da formação original, hoje ainda fazem parte do Tequila
Baby o baterista Rafael Heck, o baixista Rodrigo Gaspareto e o guitarrista
Williams Duarte.
Para Duda, que viu crescer não somente a banda, mas
os fãs e o próprio cenário roqueiro, especialmente o do Sul do país, chegar aos
43 anos no mesmo grupo que formou aos 23 ainda soa surpreendente. “Isso é algo
que a gente nunca esperou. Quando tu montas uma banda não pensa que ela vai
durar tanto tempo”, admite.
Militância
musical
Filho de pai catarinense e mãe gaúcha, Duda Calvin
já perdeu as contas de para quantas cidades de Santa Catarina já teve a
oportunidade de levar o punk rock do Tequila Baby nesses 20 anos, e por isso
tem um certo know-how para perceber alguns dos obstáculos que os artistas
locais enfrentam ao tentar se desenvolver no Estado. “O que precisa
acontecer aí é uma união. Cada cidade ouve e respira só a música daquela determinada
cidade, Santa Catarina precisa que isso converse melhor. Cada vez que eu vou conheço
um monte de bandas novas”, diz.
Há algum tempo Duda tem rodado por aí com outra
atividade que embora não envolva instrumentos musicais, também gira entorno do
rock. Cerca de quatro vezes por semana ele fica frente a frente com jovens
cheios de ideias e vontade de criar com a palestra gratuita chamada “Cadê a Música”.
“Ali eu vejo como o pessoal ainda tem umas ideias muito antigas, especialmente
com essa questão de gravadora, que é algo que morreu. As bandas não precisam
mais de gravadora”, diz.
A militância em prol da música e especialmente dos
jovens que querem viver da arte fez o vocalista tomar uma decisão um pouco mais
radical, e agora ele é candidato a deputado estadual pelo Rio Grande do Sul.
Entre suas lutas políticas está especialmente a valorização dos artistas
locais, também para que o dinheiro investido na arte permaneça em seu Estado.
“Cada dia surgem novos artistas que não conseguem entrar no mercado de trabalho,
é uma massa de gente atrás de seu lugar ao sol. Os mais jovens são os que estão
precisando, quero conversar com quem está começando”, conclui.