quinta-feira, julho 31, 2014

Tequila Baby traz a Florianópolis nesta sexta-feira o pré-show que comemora os 20 anos de carreira da banda gaúcha

Eles mal haviam saído da adolescência quando, em 1994, influenciados pelos ídolos Ramones decidiram fazer mais do que apenas continuar ouvindo o LP “Rocket to Russia” ininterruptamente no toca-discos. Vestidos em pesadas jaquetas de couro e nada afeitos a cortes de cabelo tradicionais, os quatro guris moradores de Porto Alegre fundaram o Tequila Baby e pouco demoraram a evadir as quatro paredes da garagem e irem parar em palcos alternativos de todo o Rio Grande do Sul. Exatamente duas décadas depois, com nova formação, o grupo traz amanhã à Célula Showcase, em Florianópolis, o pré-show comemorativo da data, que deve estrear oficialmente apenas em outubro.  
Os 20 anos de estrada e os oito álbuns lançados – seis de estúdio e dois ao vivo, um deles com participação de Marky Ramone – deram ao Tequila Baby a oportunidade de ver mais de uma geração de jovens se acotovelar em frente ao palco enquanto provam todo o conhecimento de letras como a de “Sexo, Algemas e Cinta-liga” e “Sangue, Ouro e Pólvora”. “Hoje nos shows tem até avô levando neto”, diz o vocalista Duda Calvin antes de soltar uma sonora gargalhada. “Não, mas é sério. Nosso roadie já é avô, e em 1994, quando a gente começou, já tinha um pessoal de 30 e poucos anos que gostava da banda, então agora eles já têm seus 50 e tantos, já são avôs. Mas rola muito de os próprios filhos levarem os pais”, observa. Além dele e do guitarrista James Andrew, também remanescente da formação original, hoje ainda fazem parte do Tequila Baby o baterista Rafael Heck, o baixista Rodrigo Gaspareto e o guitarrista Williams Duarte.
Para Duda, que viu crescer não somente a banda, mas os fãs e o próprio cenário roqueiro, especialmente o do Sul do país, chegar aos 43 anos no mesmo grupo que formou aos 23 ainda soa surpreendente. “Isso é algo que a gente nunca esperou. Quando tu montas uma banda não pensa que ela vai durar tanto tempo”, admite.

Militância musical
Filho de pai catarinense e mãe gaúcha, Duda Calvin já perdeu as contas de para quantas cidades de Santa Catarina já teve a oportunidade de levar o punk rock do Tequila Baby nesses 20 anos, e por isso tem um certo know-how para perceber alguns dos obstáculos que os artistas locais enfrentam  ao tentar  se desenvolver no Estado. “O que precisa acontecer aí é uma união. Cada cidade ouve e respira só a música daquela determinada cidade, Santa Catarina precisa que isso converse melhor. Cada vez que eu vou conheço um monte de bandas novas”, diz.
Há algum tempo Duda tem rodado por aí com outra atividade que embora não envolva instrumentos musicais, também gira entorno do rock. Cerca de quatro vezes por semana ele fica frente a frente com jovens cheios de ideias e vontade de criar com a palestra gratuita chamada “Cadê a Música”. “Ali eu vejo como o pessoal ainda tem umas ideias muito antigas, especialmente com essa questão de gravadora, que é algo que morreu. As bandas não precisam mais de gravadora”, diz.

A militância em prol da música e especialmente dos jovens que querem viver da arte fez o vocalista tomar uma decisão um pouco mais radical, e agora ele é candidato a deputado estadual pelo Rio Grande do Sul. Entre suas lutas políticas está especialmente a valorização dos artistas locais, também para que o dinheiro investido na arte permaneça em seu Estado. “Cada dia surgem novos artistas que não conseguem entrar no mercado de trabalho, é uma massa de gente atrás de seu lugar ao sol. Os mais jovens são os que estão precisando, quero conversar com quem está começando”, conclui. 

domingo, julho 27, 2014

Na próxima quarta-feira, a cidade de Paraty abre seus braços para os amantes da literatura em mais uma edição da Flip

Pelo 12° ano consecutivo, ao longo de cinco dias as ruas repletas de história da pequena cidade fluminense de Paraty ficarão tomadas por amantes da literatura vindos de todos os cantos do país. Na próxima quarta-feira (30), com a abertura da programação oficial da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) e de outros três eventos paralelos – Flipinha, FlipMais e FlipZona –, 25 mil pessoas deverão se espalhar pela Tenda dos Autores, Casa de Cultura, Casa Azul e outros espaços da cidade para absorver o que têm a dizer alguns dos principais autores contemporâneos do Brasil e do mundo.
Com curadoria do jornalista Paulo Werneck, a edição 2014 da maior festa literária do país, que dessa vez tem Millôr Fernandes como homenageado, mantém a tradição de rechear a programação com nomes ecléticos que não têm a literatura como principal atividade profissional. Ao mesmo tempo, aposta no ineditismo, trazendo para a roda pela primeira vez em 12 anos um autor russo.
“Estamos em uma fase muito boa de tradução de escritores russos, sobretudo de clássicos. Temos uma bela e já consistente biblioteca de autores de lá, então as editoras começaram a prestar mais atenção nos contemporâneos, como Vladímir Sorókin. Fico feliz que Flip esteja fazendo parte desse momento”, afirma o curador.
Nomes como o da cantora Adriana Calcanhotto, dos atores Gregório Duvivier e Fernanda Torres, além de fotógrafos, arquitetos e profissionais de diferentes áreas se encontram nas 20 mesas da programação principal sob o fio condutor da escrita, em que todos já se aventuraram. De acordo com Werneck, essa pluralidade de experiências já faz parte da essência da festa. “Desde o começo a Flip sempre trouxe autores ecléticos, críticos, músicos, psicanalistas. É uma mistura cultural e a literatura é uma afinação disso tudo. A literatura hoje não é mais uma área isolada, então ao chamá-los eu quis garantir essa versatilidade”, justifica.
Aos 36 anos, Paulo já participou de quase todas as edições da Flip, como espectador, convidado, jornalista, editor e como filho de um dos participantes, o cronista Humberto Werneck. A experiência de olhar de fora para todo o conjunto da festa o transformou em um curador atento e preparado para assumir a função que nos últimos dois anos foi do jornalista Miguel Conde. “Como observador eu já tinha em mente autores que eu achava injusto ainda não terem participado, mas claro que dependia também da disponibilidade deles. Levei muitos nãos”, revela Paulo, que garante ter tido liberdade total para montar a programação. “Tiro o chapéu para a (presidente do conselho diretor) Liz Calder e o (diretor-geral) Mauro Munhoz, a curadoria não teve nenhuma intromissão. A primeira grande conversa que tivemos foi sobre o homenageado, e fiquei muito feliz quando foi definido que seria o Millôr, ele é o escritor da minha vida”, diz. “Não consigo olhar para as outras edições como vejo essa, mas todas foram muito boas e eu não quis inventar moda, mantive o que a Flip sempre teve de melhor”, conclui.

Cenários paralelos
Às margens das 20 mesas que compõem a programação principal da festa, os shows, exposições de arte e eventos paralelos espalhados por Paraty também são destino certeiro de quem desembarcar na cidade nos próximos dias. Na FlipMais, com apenas R$12 e ingressos que começam a ser vendidos na véspera de cada mesa, os espectadores poderão participar de mais uma série de boas discussões entre quinta-feira e sábado.
Em meio aos destaques dessa edição da FlipMais está a mesa “A poesia e seus caminhos de fazer ler”, em que participam Flávio Araújo, Luís Dill, Ninfa Parreiras e Simone Monteiro de Araújo, com mediação de Volnei Canônica. A partir da leitura de um poema que marcou a infância dos participantes do painel, cada um deles falará sobre a experiência com a leitura de poesia em sua vida. A ideia é debater sobre como a poesia pode levar à outros gêneros literários.
“Isso foi algo que aconteceu comigo e hoje trabalho muito com a poesia. É um gênero difícil, nem todos gostam e é preciso valorizá-lo, fazer com que poemas sejam lidos”, afirma a escritora, professora e psicanalista Ninfa Parreiras.  Com 19 livros publicados, sendo 13 de literatura infanto-juvenil, Ninfa adianta que levará à mesa o poema “A Cancão dos Tamaquinhos”, de Cecília Meireles. “Esse poema me marcou muito. Eu li quando tinha uns sete ou oito anos e aquela coisa do som do tamanco me chamou muita atenção. Eu decorei na época”, conta.
Esse é o terceiro ano consecutivo que a escritora participa de mesas da FlipMais, e com a experiência em Paraty acabou virando fã das programações não oficiais da festa. “A Flip é sempre muito variada, tem atrações para todos os gostos e mesmo que você não consiga ingresso para a programação principal, há uma série de eventos paralelos espalhados pela cidade, organizados até por outras instituições, e muitas vezes são gratuitos”, dá a dica.
“Sei que vão muitas celebridades para lá, mas eu gosto mesmo é do que se encontra nas ruas. A gente fica se equilibrando naquelas pedras das ruas de Paraty e de repente encontra o Luis Fernando Veríssimo ao lado de um poeta anônimo”.


Espelho para Santa Catarina
Veterano em participações como espectador da Flip, o escritor catarinense de Jaraguá do Sul Carlos Henrique Schroeder acompanha o evento desde seu primeiro ano e esteve presente em cinco edições da festa. Embora não vá a Paraty este ano, elogiou a programação e destacou a presença de autores internacionais como Jhumpa Lahiri, Andrew Solomon e o próprio Sorókin. Nome por trás da organização de alguns dos principais eventos literários de Santa Catarina, Schroeder vê na Flip mais do que uma fonte de inspiração para novos projetos, mas uma vitrine de autores. 
“Ano passado participei de um debate com o Mauro Munhoz, diretor da Flip, e conheci também o curador Paulo Werneck. É sem dúvidas um evento popular muito importante, que aponta tendências e mostra autores de fora do país”, destaca.
Em 2013, quando a empresa baiana Mirdad Gestão em Cultura viu em Santa Catarina um potencial para receber um evento nos mesmos moldes da festa de Paraty, o escritor foi escalado como curador. A Flisca (Festa Literária Internacional de Santa Catarina) aconteceria em novembro de 2014 e teria em sua programação pelo menos dois nomes escalados também pela Flip deste ano: Solomon e Sorókin. Como a Mirdad acabou mudando o foco e perdendo o interesse em coordenar o evento, a Design Editora, comandada por Schroeder e responsável pela organização da Feira do Livro de Jaraguá do Sul e do Festival Nacional do Conto, em Florianópolis, comprou a marca e está dando continuidade aos preparativos da festa, agora programada para 2015.
De acordo com Schroeder, a Flisca vai se espelhar na Flip especialmente no que diz respeito à programação internacional. “Não temos nada assim no Estado, e a ideia é trazer nomes de peso, pelo menos meia dúzia de autores premiados. O que vai diferenciar da Flip é que além da programação internacional e brasileira, a Flisca dará destaque aos autores do Estado”. Apesar da vasta experiência na organização de eventos literários, ele garante que a Flisca vai ser totalmente diferente de tudo. “É uma festa, uma celebração da literatura, com shows e exposições. Os festivais colocam o autor na vitrine”.
Para cuidar do novo evento, Schroeder já se desligou da coordenação da Feira do Livro de Jaraguá do Sul, mas não revelou outros detalhes sobre a festa, que provavelmente será fora da Capital, deixando a cidade mais uma vez fora do circuito cultural do país.

Segundo ele, são muitos os fatores que fazem Florianópolis não ter um grande evento literário, e um deles é o tamanho da cidade. “Florianópolis é muito grande, se você faz algo no centro não atinge os bairros, se faz algo nos bairros não atinge o centro. E há também a falta de incentivo dos governos estadual e municipal. Enquanto não houver um diálogo entre eles e a iniciativa privada, não vai dar para fazer nada”, diz. Para ele, apesar de minúscula se comparada à que organiza em sua cidade, a feira do livro promovida na Capital é louvável, por ser uma iniciativa dos próprios livreiros. 

quinta-feira, julho 10, 2014

Coreógrafa e bailarina Deborah Colker traz a Florianópolis novo espetáculo inspirado em “A Bela da Tarde”

Quando a coreógrafa carioca Deborah Colker enfim terminou de montar “Tatyana”, seu penúltimo espetáculo, um vazio existencial típico de quem acabou de colocar para fora uma obra de grande complexidade tomou conta de seus dias e trouxe consigo a imediata inspiração para o próximo trabalho. Da lembrança do filme “A Bela da Tarde”, de Luiz Buñuel, que Deborah assistiu ainda na década de 1970, veio o impulso para a criação de “Belle”, seu novo espetáculo que estreou dia 13 de junho no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em seis sessões de casa lotada, e que agora chega a Florianópolis para duas apresentações no teatro do CIC (Centro Integrado de Cultura), nos dias 16 e 17 deste mês.
“A Bela da Tarde surgiu na minha cabeça como um raio. Eu só tinha assistido ao filme em 1978, então fui atrás do livro (“Belle Du Jour”, de Joseph Kessel) e pensei ‘que história envolvente e linda, tenho que fazer’. Mandei todo mundo ler e comecei a pensar em como contar essa história”, revela Deborah.
Na montagem da coreógrafa, a personagem central de “Belle”, Séverine, foi dividida entre duas bailarinas que vivem dois mundos totalmente diferentes. Elas surgem no palco ao lado de outros 15 bailarinos já conhecidos pela precisão, controle e agilidade,
apoiados por uma equipe que reúne alguns dos mais renomados profissionais do campo da arte do país. Entre os colaboradores de Deborah estão João Elias na direção executiva, Gringo Cardia na direção de arte e cenografia, Berna Ceppas na direção musical e Samuel Cirnansck assinando o figurino.
Depois do sucesso da estreia no Rio, Deborah já começou a rodar com “Belle” por cidades brasileiras e não esconde a empolgação com o resultado de meses de dedicação integral. “Fazer um novo espetáculo sempre é sofrido, sempre exige coragem. Você fica em carne viva porque é você ali. Muita gente me perguntou se a Séverine sou eu, e não tem como dizer que não é. O livro é um clássico, o filme é um clássico, e o meu espetáculo é a minha visão, minha dança”, reflete a artista.
Após sair do que ela chama de “a nata da elegância” dos compositores russos que embalaram “Tatyana”, ela aproveitou “Belle” para embarcar no som contemporâneo de Miles Davis e da banda Velvet Underground na trilha elaborada por Berna Ceppas. “A história vem de um livro de 1930, que ficou conhecida com o filme em 1970, então o rock veio cortando a veia com o Velvet Underground, e ao mesmo tempo tem o Miles Davis, tão sensual e cerebral. É uma trilha meio cinematográfica”, aponta.

Duas décadas de dança
Há 21 anos Deborah Colker comanda no Rio de Janeiro a companhia de dança que leva seu nome e há 11 mantém também na Capital fluminense, na casa onde morou o pintor catarinense Victor Meirelles, sua própria escola de dança. Consolidada como um dos principais nomes da dança no Brasil, ela é atualmente responsável por 800 alunos matriculados na escola, entre crianças e adultos, espalhados pelos cursos de ballet clássico, dança contemporânea, jazz, sapateado e teatro.
Desde sua fundação, em 1993, a Cia Deborah Colker já soma 11 espetáculos montados, a maioria com patrocínio exclusivo da Petrobrás, que agora divide o apoio com a prefeitura da cidade do Rio de Janeiro.