domingo, janeiro 12, 2014

Novo espetáculo do ator e roteirista Malcon Bauer traz uma visão irônica de sua vida no interior


Os 15 anos de piadas e confusões a respeito do nome de sua cidade natal deram ao ator e roteirista Malcon Bauer subsídio o bastante para colocar a pequena Agrolândia em evidência, mais precisamente, em cima do palco. Em 1999, quando o ainda adolescente agrolandense desembarcou em Florianópolis para cursar artes cênicas na UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina), ele jamais imaginou que poderia passar o resto da vida tentando provar aos novos amigos que a cidadezinha de nove mil habitantes, no Alto Vale, não apenas existe como fica em Santa Catarina. “Um colega ficou meses achando que eu na verdade era um intercambista da Groenlândia, porque eu também tinha um sotaque forte quando cheguei”, relembra aos risos.
As histórias do lugar já haviam servido de inspiração para um texto de stand-up comedy que Malcon escreveu e apresentou há alguns anos, mas “O Homem de Agrolândia”, seu novo espetáculo solo que deve estrear na segunda quinzena de fevereiro, apresenta um formato totalmente diferente e repleto de recursos visuais.  “É um híbrido entre o stand-up e o teatro, e foi montado tanto para teatros quanto para bares”, explica. Além dele mesmo, Malcon encarna outros personagens fundamentais para contextualizar a vida no interior. A mãe, o pai e principalmente a avó são os responsáveis por boa parte dos episódios pitorescos que o ator leva ao palco, a maioria deles um bom recorte da realidade. “Algumas histórias são tão absurdas que não parecem reais, principalmente as que envolvem a minha avó”.
O espetáculo foi contemplado pelo edital Elisabete Anderle de Estímulo a Cultura, tem produção da La Vaca e a direção é assinada por Renato Turnes, com quem Malcon já trabalhou diversas vezes. “Estivemos juntos na peça ‘Mi Muñequita’, ele dirigiu meu curta-metragem, recentemente também trabalhamos no espetáculo ‘As Felicianas’ e ele tem dirigido muitos solos, então foi uma escolha natural. A gente já tem intimidade, estamos ensaiando desde outubro e ainda rimos muito”, conta.

Conterrâneos ansiosos
Os moradores de Agrolândia já estão sabendo que a cidade virou tema de espetáculo e esperam ansiosos pela apresentação por lá, o que deve acontecer depois das seis já previstas para a Capital.  Essa será a primeira vez que o agora ilustre filho da cidade leva para lá um espetáculo aberto ao público. “Já fiz uma vez no aniversário da minha avó, mas foi horrível, ninguém riu! Foi um vexame, espero que dessa vez não seja”.
Malcon jura que não tem a menor ideia de como o público agrolandense vai reagir, mas tem certeza de que apresentação será mais longa do que as de Florianópolis. “A peça tem duração de mais ou menos uma hora, mas tem uma interação com o público, que acaba abrindo espaço para improvisos. Como lá as pessoas vão se identificar mais com os ambientes do espetáculo, acho que vai ser mais longo”.
Apesar de esperar a presença maciça da família e dos amigos, Malcon afirma que a peça não foi feita só para eles. “Tomamos o cuidado para que ela seja universal, não queremos uma peça hermética. E também não se trata daquela visão do caipira na cidade, que nunca viu um elevador ou um semáforo, por exemplo. Não é nada disso, é uma visão cínica e irônica, não ingênua”.

Publicada no jornal Notícias do Dia.