sábado, novembro 23, 2013

Apanhador Só e Vivendo do Ócio fazem o som do UFSCtock neste final de semana


Após quatro dias de oficinas, apresentações artísticas, debates culturais e exposições no campus da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), em Florianópolis, o UFSCtock encerra neste fim de semana com shows de 14 bandas na praça da Cidadania. A atração principal deste sábado é a Apanhador Só, que vem de Porto Alegre e toca pela segunda vez na ilha.
Agora, com o recém-lançado “Antes Que Tu Conte Outra”, disco financiado pelos fãs via crowdfunding, a banda surge com uma postura mais crítica comparada às canções brandas do primeiro trabalho, de 2010. “Nós mudamos como pessoas, amadurecemos e passamos a nos envolver mais com o mundo, com o que estava acontecendo em nossa volta. Ocorreu naturalmente”, explica o guitarrista Felipe Zancanaro. Apesar da estranheza inicial, ele garante que a recepção dos fãs, de um modo geral, foi excelente. “Eles chegavam e diziam ‘obrigado por nos surpreender’”.
Entre o lançamento do primeiro e do segundo álbum, eles gravaram ainda o “Acústico-Sucateiro”, um formato de shows que faziam eventualmente, quase sempre ao ar livre, utilizando brinquedos eletrônicos e outros itens improváveis – ralador, bicicleta, cantil e panela – como instrumentos, e o compacto “Paraquedas”.  Como as apresentações de lançamento do novo disco terminaram recentemente, o show deste sábado deverá contar com uma mistura dos repertórios.


Saudade da Bahia
No domingo o UFSCtock encerra com os baianos do Vivendo do Ócio, pela primeira vez em Florianópolis, atendendo ao urgente desejo dos fãs que acompanham a banda desde o recebimento do  prêmio “Aposta”, em 2009, da finada MTV Brasil. E a ansiedade para conhecer a ilha é grande. “Queremos tentar ampliar a estadia, ficar mais uns dias aí, mas não sei se vai dar”, analisa o guitarrista Davide Bori.
O quarteto também chega com trabalho novo em mãos. O EP “Som, Luzes e Terror”, lançado em outubro, traz cinco faixas que não entraram no álbum “O Pensamento é um Imã”, de 2012. “Elas foram gravadas junto com as 12 músicas do disco, e já que elas tinham uma ligação entre si, decidimos lançar mais tarde”, conta Davide. Como hoje vivem todos juntos em São Paulo, em permanente processo de composição, eles já têm material para um novo disco, que deve ser gravado em 2014, após a já tradicional reunião que fazem na Bahia, sempre no fim do ano.
Enquanto o novo trabalho não vem, o set list do show deste domingo trará músicas dos dois discos, do EP “e o que mais a galera pedir”, avisa Davide.


Publicada no jornal Notícias do Dia.


quinta-feira, novembro 14, 2013

Ópera "Carmen" ganha montagem grandiosa apresentada a partir de quinta-feira em Florianópolis


Uma história de tragédia e morte envolvendo a sedução de uma cigana que usa de todas as artimanhas para conquistar vários homens, sem se envolver com nenhum deles, começa a ser encenada desta quinta-feira até domingo, no teatro do CIC (Centro Integrado de Cultura), com a ópera “Carmen”. Por trás da superprodução, que começou a ser desenvolvida ainda no ano passado, está uma equipe de mais de 200 pessoas, entre o elenco de solistas escolhido a dedo, um conjunto de diretores consagrados, orquestra, coro e figuração. “Ela poderia ser apresentada em qualquer palco do mundo que não faria feio”, afirma Neyde Coelho, diretora-geral da ópera.
Criada pelo compositor Georges Bizet, “Carmen” estreou em Paris em 1875 e até hoje é uma das mais conhecidas óperas francesas. Sua popularidade se dá especialmente pela atração de sua personagem principal, que na produção catarinense será vivida em revezamento pelas mezzo-soprano Adriana Clis e Luciana Bueno, segundo Neyde, as melhores do país no papel. Do elenco formado por 15 pessoas também fazem parte os tenores Richard Bauer e Fernando Portari, revezando-se na interpretação de Don José, e o barítono Sebastião Teixeira, que vive o toureiro Escamillo. Duas das maiores expressões do canto lírico de Santa Catarina, as sopranos Masami Ganev e Claudia Ondrusek, estreiam na ópera “Carmen” interpretando Micaëla, noiva de Don José.
Todos os membros da equipe. que há mais de um ano trabalha no desenvolvimento da ópera, são de Santa Catarina. A concepção e a direção cênica são de Antônio Cunha, a cenografia leva assinatura de Edmundo Meira Neto, a regência e a direção musical são do maestro Jeferson Della Rocca e a direção artística leva o nome da maestrina Mércia Mafra Ferreira. Apresentando as visões opostas do amor em quatro atos, a ópera é extremamente luxuosa na concepção do cenário de cada um deles e do figurino, criado por José Alfredo Beirão.
A produção é a primeira desta dimensão a ser encenada em Florianópolis através da Lei Rouanet, e de acordo com a diretora-geral, a expectativa é lotar o teatro nos quatro dias de apresentação. “Estamos contando com a presença de pessoas de várias cidades que já garantiram ingressos, postos à venda há mais de um mês. Esse é o único evento erudito de Florianópolis durante o feriadão, então esperamos muitos turistas”.

Formação do público
Presidente da Cia Ópera Santa Catarina, Neyde Coelho já consegue ver no Estado um uma referência nas montagens e acredita que Florianópolis tem tudo para ser o grande polo, como Joinville é para a dança. Um dos principais fatores apontados por ela na questão do crescimento das óperas na cidade é a formação do público. “Ópera é para todo mundo, crianças e adultos gostam, quem diz não gostar nunca foi em uma. Quando vai pela primeira vez, se apaixona”, garante. Quanto ao preconceito de muitos, Neyde diz não entender. “É um evento popular, não sei por que as pessoas pensam que é algo de elite”.
Apesar da resistência, desde o ano 2000, quando a primeira ópera inteira foi encenada em Florianópolis, o público cresceu e hoje já é um número considerável. Os preços acessíveis, apesar do alto custo de produção, e a facilidade da compreensão, com a presença de legendas em português, são pontos que contribuem na sua popularização.

Publicada no jornal Notícias do Dia.

domingo, novembro 10, 2013

Fotógrafos de Florianópolis se especializam em registrar recém-nascidos


O cenário já estava montado, a câmera e a fotógrafa prontas para o trabalho, só faltava a modelo chegar para a sessão ter início. Ou quase isso, já que a pessoa esperada não media mais de 40 centímetros, tinha apenas 22 dias de vida e precisaria, antes de tudo, entrar em um profundo soninho, elemento indispensável para a chamada fotografia newborn. Quando a pequena Rafaela chegou, nos braços da mãe Maristela, a fotógrafa Susi Padilha sugeriu que ela mamasse antes de começar o verdadeiro ritual para fazê-la dormir, com direito a canções de ninar e barulhinhos relaxantes.
Susi veio de Lages para Florianópolis há oito anos, e é fotógrafa há 20, mas só há poucos meses passou a se aventurar especificamente com recém-nascidos. A modalidade tem ganhado cada vez mais adeptos entre os fotógrafos brasileiros, que nos dias 10 e 11 de dezembro poderão aprimorar suas técnicas no Newborn Photo Conference, o único congresso dedicado exclusivamente à fotografia de recém-nascidos no mundo, promovido pelo Instituto Internacional de Fotografia em Florianópolis.
Há menos de quatro anos, antes de ter sua filha, Susi corria a cidade para registrar acontecimentos que no dia seguinte estampavam as páginas de um jornal. Após um curso com a renomada fotógrafa Laura Alzueta, treinamentos com bonecas e dez sessões gratuitas com bebês de verdade para deixar de lado toda a insegurança, pode finalmente exercer sua nova arte com tranqüilidade.
Para que tudo ocorra com o máximo de perfeição, o ideal é que o bebê tenha entre seis e 20 dias, período em que ainda não tem cólica, é mais flexível e dorme com mais facilidade, tornando possível a execução das mais inimagináveis e impressionantes poses. Mas de acordo com Susi, o conhecimento técnico adquirido em cursos não basta. “É preciso ter muita paciência e sensibilidade. Às vezes o bebê demora a dormir ou acorda e chora quando tiramos a roupinha. Outras vezes a mãe ou a avó interferem no trabalho”, conta.  A confiança da família, aliás, é indispensável para o trabalho, o que a mãe de Rafaela demonstra ter de sobra, já que está na segunda sessão de fotos da filha. “Não me senti insegura em nenhum momento, a Susi passa muita confiança. Só fico sentada e deixo ela fazer ”, garante Maristela.
Balde, gamela, cesto de vime e um pufe são alguns dos acessórios que compõem o cenário da fotógrafa, que costuma transportar tudo até a casa das clientes, onde normalmente as fotos são feitas, sem ultrapassar três horas de duração, para não cansar o bebê. Como o ensaio é cheio de imprevistos, Susi não costuma marcar mais nada para o mesmo dia. Com todo esse investimento de tempo, cursos e materiais de composição, um ensaio newborn em geral não costuma sair por menos de R$ 600, isso se a cliente não optar pelo álbum.

Paciência é a chave
Há um ano os recém-nascidos passaram a entrar também no portfólio da fotógrafa Kellen Vianna, mas não são exclusividade em seu trabalho, que conta ainda com petbooks (ensaios com animais de estimação), casamentos, 15 anos, produtos e fotos corporativas. Natural do interior de São Paulo e moradora da ilha há cinco anos, ela também é mãe e afirma que o fator ajuda no processo, mas avisa que há um componente muito mais importante: “É imprescindível a presença de um assistente bem treinado e paciente”.
Os ensaios de Kellen costumam ter entre três e cinco horas, dependendo do bebê e sempre respeitando suas pausas. Para fazer os pequenos dormirem, não tem nenhuma técnica muito diferente além de utilizar o próprio ambiente do bebê, com aquecimento, muito conforto e a boa e velha paciência. “Ela é a chave para que tudo aconteça conforme planejamos”, afirma.


Os homens também têm vez
O fato de Susi e Kellen serem mulheres, e principalmente mães, facilita na hora de saber se a criança está com fome ou cólica, mas no mercado da fotografia newborn há homens que também se destacam. O fotógrafo capixaba Cristiano Borges tem apenas 27 anos, atua há menos de dois com recém-nascidos e já é uma das principais referências do assunto no Brasil. Ele vem a Florianópolis em dezembro como um dos palestrantes do Newborn Photo Conference.
 “Não senti dificuldade e nem preconceito por ser um homem atuando nesse ramo. Pelo, contrário, acabo colocando meu olhar masculino na fotografia e agrado bastante não apenas às mães, mas aos pais dos bebês”, garante Cristiano, que tem dois filhos – a  grande inspiração para sua profissão –, e já é dono de um estilo único de fotografia newborn. Para entender melhor o que os recém-nascidos sentem e conseguir aplicar suas técnicas, ele contou com ajuda de livros e materiais da medicina.
Hoje as sessões que Cristiano faz duram em torno de 40 minutos, mas no começo chegavam a ter até quatro horas. Para facilitar seu trabalho e deixar tanto o bebê como a família mais confortáveis, ele realiza as fotos em seu próprio estúdio, onde conta com um punhado de cenários diferentes. Motocicleta, skate e objetos antigos fazem parte da vasta gama de possibilidades dos ensaios que levam sua assinatura em pacotes que custam em média R$ 1.800. Os pais ganham atenção especial, com direito a doces e suco natural para ficarem mais relaxados. “Quando os pais estão bem, o bebê também está”, justifica Cristiano.
Independente de ser homem ou mulher e das diferentes técnicas utilizadas por cada um deles, há uma característica que todos têm em comum e concordam ser indispensável: um amor incondicional pelo que fazem.

Publicada no jornal Notícias do Dia.


quarta-feira, novembro 06, 2013

Penna Filho está em vias de finalizar novo longa-metragem sobre os mineiros do Sul do país


Em sua casa rodeada por um silencioso e florido jardim, a alguns metros da Lagoa da Conceição, o cineasta Penna Filho conta nos dedos as últimas etapas que faltam para a finalização de seu novo filme. Retrato íntimo da luta sindicalista dos mineiros do Sul Estado, “Das Profundezas” faz parte de um projeto que Penna Filho começou a pesquisar há 20 anos e que deu origem, inicialmente, ao curta-metragem “Naturezas Mortas”, lançado em 1995. “Esse filme era para ter sido feito há mais tempo, mas quando comecei a pesquisar a história dos mineiros, não seria possível a produção de um longa”, explica.
Os mais de 40 anos de carreira como cineasta, tendo passado pelas agruras da ditadura militar, entretanto, não o livraram de reconhecer a dureza da produção. Além da falta de apoio das mineradoras, do orçamento limitado e dos riscos de filmar em uma mina de carvão, em 2011 Penna Filho foi diagnosticado com câncer no intestino, o que o afastou de algumas etapas. “Antes de começar a trabalhar no filme, resolvi fazer um check-up para ver estava tudo bem comigo, nunca fui de ficar doente. Aí descobri o câncer, já em estado avançado”.
Com a ajuda da família, Penna conseguiu dar início à produção do longa enquanto começava o tratamento. Após receber o aval do médico, em abril de 2013 pode enfim participar das filmagens, processo em que sua presença seria indispensável. “Trabalhei 14 horas por dia, os mineiros nem queriam que eu entrasse na mina, preocupados com a minha saúde”, lembra.
Além de ser o principal cenário do filme, a Cooperminas é também o embrião de toda a história que guiou o cineasta. Fruto da luta dos trabalhadores de uma mineradora falida, a cooperativa se transformou na primeira experiência de autogestão da indústria carbonífera brasileira. É ali que Anita, personagem central da trama, com nome inspirado na companheira de Giuseppe Garibaldi, vive seu drama.

Uma nova vida na Ilha
Aos 77 anos, Penna Filho passou por experiências que marcaram sua trajetória, para o bem e para o mal. Ainda que lembre com carinho da época em que trabalhava na TV Cultura, em São Paulo, onde tinha total liberdade para tocar seus projetos, jamais esquece o que a ditadura o fez passar. “A censura aos meus filmes travou a minha carreira”, relembra consternado.
Nascido em Vitória, no Espírito Santo, Penna construiu sua trilha no cinema na capital paulista, onde ficou de 1959 até 1991. Assim como boa parte da classe artística do país, foi desmotivado pela crise da era Collor e decidiu vir a Florianópolis para apoiar a filha que estava morando na cidade. Aqui, o cineasta imediatamente buscou se inserir na cultura local, que já serviu de material para algumas de suas obras.
Seu mais recente trabalho, lançado em 2009, a comédia “Doce de Coco” tem como principal cenário o Ribeirão da Ilha e foi exibida em diversos estados por meio de circuitos itinerantes, além de ter ficado em cartaz durante uma temporada no Cine Belas Artes, espaço nobre para filmes cults em São Paulo, extinto em 2011. Quatro anos após seu lançamento, a história da sacoleira Madalena e seu marido Santinho, um artesão sacro, em meio à crise econômica do país, é destaque durante todo o mês de novembro na programação do canal Cine Brasil TV.

Publicada no jornal Notícias do Dia.