Quando Bruno Oro, egresso do curso de Design Industrial da Univali, era
criança, gostava de desmontar seus carrinhos de controle remoto para ver
como funcionavam. Hoje, ele é um premiado designer reconhecido
mundialmente
Cansado de receber o mesmo insistente spam em sua caixa de e-mails, o
egresso de Design Industrial da Univali, Bruno Oro, resolveu responder
quanto chegou a oitava mensagem. Para sua surpresa, todos os e-mails
daquele estranho remetente de procedência indiana não eram spam
coisíssima nenhuma. Tratava-se de um representante da Raffles Millennium International, escola de design de Nova Deli, capital da Índia, convidando Bruno para ser professor.
Quando criança, ainda em Curitiba, cidade onde cresceu, Bruno gostava
de montar e desmontar seus carrinhos de controle remoto para entender
como eles funcionavam. Aos 12 anos, começou a fazer pequenos trabalhos
na área de web design. Com 16, já estava ganhando um bom dinheiro
trabalhando de freelancer em web design e design gráfico.
Em 2003, quando se mudou para Itapema com a família, já não restavam
mais muitas dúvidas quanto ao que queria fazer da vida: foi estudar
Design Industrial na Univali, da vizinha Balneário Camboriú. Para se
sentir um profissional completo, ele, que já entendia de design gráfico,
web design, design de produto e também de interiores, resolveu emendar à
faculdade uma pós-graduação em Criação e Gestão de Moda.
Bruno sempre teve um ritmo de trabalho diferente do convencional.
Certa vez, quando ainda estava na faculdade e fazia estágio, bateu na
porta do home office de sua chefe às 6h30, argumentando que
havia passado a noite em claro criando e não queria parar naquele
momento. Com plena consciência de que não poderia ser funcionário de uma
empresa tendo esses horários esquisitos, depois de formado, decidiu
abrir sua própria empresa em Curitiba.
A Design O’clock surgiu com objetivo de oferecer aos clientes um
pacote de design completo: gráfico, de interiores e de produto. A
sociedade era divida com um amigo que vivia em Boston, nos EUA, o que
fez com que firmassem parceria com estúdios de lá e atuassem tanto em
Curitiba quanto na cidade americana.
Um dos grandes destaques entre os produtos que Bruno desenvolveu está o Dilus,
uma espécie de eletrônico em forma de bicho de pelúcia destinado a
crianças que passam por tratamento quimioterápico. Após uma longa
pesquisa, Bruno percebeu que as crianças hospitalizadas perdiam muito em
relação à continuidade de seus estudos e de socialização com amigos.
Dessa forma, desenvolveu o aparelho, semelhante a um laptop, no qual se
pode assistir vídeos, fazer vídeo conferências, entre outras funções,
através de um display holográfico em 3D com projeção no ar.
A criação obteve repercussão mundial, e rendeu a Bruno o seu primeiro prêmio no International Design Awards
(ele já recebeu três), além de publicações em diversas revistas,
jornais e programas de televisão. Recentemente, um dos seus produtos, a
"Banqueta Piet", ganhou destaque no livro Icon Product Yearbook 2012, vendido
na Semana de Design de Londres, na 100% Design e Tent London (ambas,
feiras reconhecidas do Reino Unido). Segundo a crítica, a banqueta, que
tem proposta sustentável, serve como banco, cadeira, mesa ou apoio de
mão, e ainda é considerada artigo de decoração.
Entre os projetos de maior repercussão, está também um produto um
tanto inusitado, quase inacreditável. Trata-se de uma máquina que permite
a cópia e reprodução de alimentos com perfeição, sem precisar comprar
os ingredientes e seguir uma receita.
Partindo do princípio de que tudo é feito de moléculas, e que elas
estão presentes no ar, Bruno teve uma ideia: “Por que não usar algo que
já é natural e está ao nosso redor para propor algo que escaneasse a
composição de outras moléculas e reproduzisse uma copia fiel daquilo?”.
Assim surgiu seu produto, chamado Home Sweet Home.
“Isso também vinha do fato de que eu moro sozinho há um bom tempo e
cozinho supermal. Ou seja, seria uma maravilha apenas materializar certas
comidas que gosto de vez em quando”, admite o designer.
O Home Sweet Home é um projeto feito parceria com designers da
Electrolux, de um departamento que têm foco no
desenvolvimento de conceitos para futuro. “Até esse momento já temos a
composição da lasanha, sabemos como ela é formada. A partir desses dados, continuamos na mesma proposta de impressoras de prototipagem rápida,
onde produtos 3D são impressos em poucos minutos, porém o foco aqui
seria ‘imprimir uma lasanha'", conta Bruno sobre o experimento
revolucionário.
Bruno reforça que esse é um produto conceito, cujo objetivo é quebrar os
paradigmas sobre a forma de cozinhar e ter uma visão de futuro, que
pode ou não acontecer. A ideia, que deu ao designer o terceiro International Design Awards,
ganhou inclusive as páginas do jornal americano “The Sun”, impresso e
distribuído na Região do Vale do Silício, a “Meca” da tecnologia.
Tanto reconhecimento em todas as partes do mundo fez com que, em 2010,
Bruno recebesse aqueles e-mails estranhos que pensou não passarem de
meros spams. Após acertada a ida e a contratação, partiu de mala e cuia
em direção à Índia para atuar na Raffles Millennium International, onde
hoje, além de professor, é também diretor do departamento de Design de
Produto.
No novo país, Bruno teve que se habituar ao idioma hindi, à
apimentada gastronomia e ao fato de as pessoas terem o costume de comer
com as mãos. Sua empresa acabou ficando de lado, tanto pela falta de
tempo para se dedicar a ela, quanto pela vontade de se entregar
totalmente ao novo desafio de sua vida. “Queria gastar um tempo comigo e
com minhas ideias. Resolvi que esse seria um período pessoal meu, em
que eu me dedicaria aos meus projetos e continuaria dando minhas aulas
por aqui”.
Por Juliete Lunkes