Uma retrospectiva que
percorre os 15 anos de trajetória do artista plástico Luciano Martins vai
colorir as paredes do espaço Lindolf Bell, no CIC (Centro Integrado de
Cultura), a partir da próxima quinta-feira. A mostra, organizada para celebrar
o aniversário da primeira pintura do artista, vai espalhar em um dos principais
espaços artísticos de Florianópolis 48 trabalhos que mostram as diferentes
fases de seus traços. Da época em que ainda dividia as tintas e pinceis com o
trabalho como publicitário até os dias de hoje, com sua arte estampando mais de
mil produtos de diferentes marcas, a coleção traça um paralelo cronológico em
toda sua carreira.
E para que o
retrospecto pudesse ilustrar com fidelidade cada um desses 15 anos, Luciano
teve trabalho: ligou para dezenas de compradores de seus quadros e pediu que
eles fossem cedidos para o período da exposição. Mas o artista garante que o
único problema em alguns casos foi mesmo a logística. “Depois que você vende
uma obra para alguém, cria um vínculo, uma amizade, diferente de vender uma
mesa, então as pessoas foram bem receptivas. Como muitos quadros estão fora do
Estado, a logística foi complicada, um quadro não pôde vir dos Estados Unidos
por causa do seguro”, justifica.
Natural de Porto
Alegre, onde trabalhava como publicitário e já se arriscava no mundo artístico,
Luciano fez sua primeira pintura já em Florianópolis, e guarda ela até hoje.
“Ninguém queria comprar, então eu guardei para mim. Anos mais tarde até se
interessaram, mas não eu quis mais vender”, conta o artista. E é por meio desse
primeiro exemplar que fica possível se ter uma clara ideia da mudança de estilo
em suas obras. “Elas tinham um ar mais melancólico, que não tinha a ver com a
cidade, com a minha vida, com as minhas filhas que tinham nascido. Mas as cores
já existiam e os personagens também”, destaca.
Popularização
e críticas
Cores, sorrisos, elementos
“fofos”, referências pop e reproduções divertidas de clássicos da pintura
mundial foram se tornando características onipresentes na obra de Luciano, e
que não demoraram a chamar atenção de empresários. Há cerca de oito anos, no
mesmo período em que largou de vez a publicidade para se dedicar exclusivamente
à pintura, surgiu o primeiro convite para criar uma coleção para uma grande
marca de nível nacional. Desde então, seu trabalho passou a estampar almofadas,
canecas, camisetas, chinelos, malas, capinhas de celular, potes de pipoca,
embalagens de chocolate, cadernos e uma série de outros objetos, voltados
principalmente para o público infantil e adolescente. Para administrar isso tudo,
Luciano criou uma empresa especialmente para os licenciamentos, com apoio de um
escritório de advocacia.
Mas
a reprodução de seus traços coloridos espalhados pelas prateleiras de lojas de
diversos gêneros acabou não agradando a quem é avesso a esse tipo de
popularização, e há quem sequer considere arte. Pontos de vista que nem de
longe abalam o artista. “Tenho uma boa relação com as críticas porque eu recebo
muito mais elogios, ninguém me critica diretamente. Sei que existe um
desconforto em determinadas áreas culturais, que eu acho que estão atrasadas.
Mas eu não dou bola, quem legitima o artista é o público”, conclui Luciano.
Publicado no jornal Notícias do Dia