Tentado a provocar os brasileiros que têm a tendência de achar que
música cantada em espanhol é necessariamente um bolero choroso e melodramático,
o jornalista de Florianópolis Leonardo Vinhas foi atrás de músicos brasileiros para
provar que o som de países hispanohablantes vai muito além. Em parceria com o site Scream & Yell, ele é o responsável
pela direção artística da coletânea em que 16 bandas regravam versões de
canções de artistas da Argentina, Chile, Uruguai, Cuba, Colômbia e Espanha,
apresentando um recorte do vasto universo cancioneiro dos países que tem o
espanhol como idioma. O tributo “Somos Todos Latinos” será lançado no próximo
dia 17.
“Eu comecei a ter contato com esse universo quando, dez anos
atrás, fui morar em Foz do Iguaçu, e, transitando pela Tríplice Fronteira,
descobri bandas como Babasónicos, Árbol, Aterciopelados, La Vela Puerca e
outras. Gente que tinha um trabalho riquíssimo, desafiador, e era mainstream!”,
conta Leonardo. “Conforme fui conhecendo mais coisas, via que era um cenário
muito próximo ao que encontrava em minha adolescência, com bandas como Chico
Science & Nação Zumbi, Raimundos, Mundo Livre S/A. Só que esse espírito de
desafio foi ficando mais raro no mainstream brasileiro. Então a grama do
vizinho me pareceu, definitivamente, mais verde”, completa.
O interesse pela música cantada em espanhol motivou Leonardo a
começar, em 2011, uma coluna chamada “Conexão Latina”, no Scream & Yell,
onde colabora desde 2000. E é no próprio site que no próximo dia 17 de março a
compilação será disponibilizada para download gratuito.
Entre os artistas participantes estão Nevilton, Bob Shut, Beto Só,
Vivian Benford, La Carne, o ex-Barão Vermelho Dé Palmeira e a banda catarinense
Cassim e Barbária, todos definidos pelo próprio jornalista. “A escolha levou em conta uma série de critérios, todos
subjetivos. Acho que é justo dizer que o primeiro era saber que o selecionado
faria um bom trabalho, mesmo que não fosse um artista com o qual eu tivesse uma
identificação pessoal. Procurei ainda evitar repetir artistas dos tributos
anteriormente lançados pelo site, e o último envolvia o preciosismo de estúdio
e o respeito ao registro musical”, explica.
Cada um
na sua
De acordo com o jornalista, a prerrogativa era que todos os
artistas participantes trouxessem para seu estilo a música que regravariam, com
a liberdade para escolher se manteriam a letra no original em espanhol ou se
verteriam para o português, e a maioria escolheu a primeira opção.
As canções contempladas vão de obras mais tradicionais de Silvio
Rodríguez e Eduardo Mateo até registros contemporâneos de artistas underground,
como El Mató a Un Policía Motorizado, Chico Trujillo e Deluxe, passando por
roqueiros de grande alcance no mercado latino-americano, como Soda Stereo, La
Vela Puerca e Aterciopelados.
“Tive participação na escolha das músicas, mas mais orientando
do que definindo. Na verdade, foram três situações distintas: alguns artistas
receberam o convite e já disseram na hora qual música queriam gravar. Outros
tinham suas dúvidas e ficamos debatendo até chegar a uma opção consensual. Por
fim, teve um grupo que pediu que eu desse duas ou três opções para que eles
escolhessem uma. Foi um processo divertido, estimulante e bastante rápido”,
conclui Leonardo.
Publicado no jornal Notícias do Dia