Acusado, e não injustamente, de ser ambíguo e de
estar sempre à frente de seu tempo há pelo menos 30 anos, o músico gaúcho Edu K
consegue surpreender até quem nunca deixou de acompanhar suas andanças, seja no
DeFalla, uma das mais emblemáticas bandas surgidas na década de 1980 em Porto
Alegre, seja comandando pick-ups no Brasil e na Europa, em sua carreira solo ou
produzindo álbuns de outros artistas. Oito anos após lançar o último disco solo
autoral, ele resolveu que 2014 seria seu momento. Em meio a outro punhado de compromissos
musicais, na última semana ele soltou na internet mais um futuro clássico: “Boy
Lixo”, um EP de quatro faixas paramentadas na EDN (eletronic dance music) e no
moderno, mas nem tanto, trap.
“Esse estilo nada mais é do que uma ramificação do
hip-hop, começa nos Estados Unidos na década de 1970 e de uns anos pra cá se
firmou na EDN. Ou seja, eu finalmente cheguei atrasado! Cansa um pouco esse
estigma de estar sempre a frente”, desabafa.
Morando em Florianópolis há três anos, depois de uma
longa temporada trabalhando como DJ no exterior, Edu K tem tanta ideia na
cabeça que em uma só vida jamais dará tempo de colocar tudo em prática, mas ele
vai fazendo o que dá. Em “Boy Lixo” Edu não apresenta simplesmente seu retorno
triunfal na música, mas também um manifesto quase antropológico do
comportamento masculino e feminino. “Durante muito tempo o que imperou no mundo
foi o machismo, e depois que as mulheres começaram a ter voz ativa, os homens
se assustaram, não encontraram um meio termo. Os homens precisam conquistar seu
espaço ao lado da mulher, não acima e nem abaixo”.
Assim nasce o Boy Lixo, um novo cafajeste, um macho
alfa que entende a igualdade social e sexual, que sai do exílio sem dominar o
sexo oposto. Nas quatro músicas, ele ilustra esse e outros recorrentes
personagens das paisagens urbanas modernas ao lado de quatro cantoras
convidadas, entre elas a paraense Keila Gentil, vocalista da banda Gang do
Eletro.
Tudo
ao mesmo tempo
Enquanto dava forma a “Boy Lixo”, Edu K acumulou tantos
compromissos que não seria exagero um estudo sobre como ele consegue estar em
tantos lugares, fazendo tanta coisa ao mesmo tempo, sem jamais deixar de
depositar o mesmo empenho em cada uma delas. Antes de sua própria volta, ele
foi um dos responsáveis por colocar na boca do povo o novo trabalho dos
conterrâneos da Cachorro Grande. Como produtor do álbum “Costa do Marfim” ele
deu uma nova cara à banda, virou protagonista e praticamente um sexto elemento.
Antes disso, produziu ainda o disco “King Kong Diamond”, da Comunidade Nin-Jitsu,
e “Mais de Mil Palhaços no Salão”, estreia solo do também gaúcho Daniel
Tessler. Depois, passou a ser visto no canal fechado Sony, como
apresentador do reality show musical Breakout Brasil, tudo isso enquanto
gravava “Monstro”, o aguardadíssimo novo álbum do DeFalla, que chega ao público
em 2015.
“Esse disco será um elo perdido entre os dois primeiros
e o que aconteceu depois deles, porque o DeFalla perdeu o fio da meada depois
da saída da Biba (baterista da formação original). Mas ao mesmo tempo ele é
atemporal, não soa como nos anos 1980, é uma volta triunfal da banda, apesar de
ela nunca ter acabado”, revela.
Enquanto aguarda o melhor momento para lançá-lo, Edu
K, agora finalmente em casa, está terminando de formatar mais uma versão do
show de “Boy Lixo”, que ele garante: deve passar por Florianópolis.
Publicado no jornal Notícias do Dia.