sexta-feira, dezembro 05, 2014

Edu K lança manifesto cafajeste em “Boy Lixo”, seu novo EP

Acusado, e não injustamente, de ser ambíguo e de estar sempre à frente de seu tempo há pelo menos 30 anos, o músico gaúcho Edu K consegue surpreender até quem nunca deixou de acompanhar suas andanças, seja no DeFalla, uma das mais emblemáticas bandas surgidas na década de 1980 em Porto Alegre, seja comandando pick-ups no Brasil e na Europa, em sua carreira solo ou produzindo álbuns de outros artistas. Oito anos após lançar o último disco solo autoral, ele resolveu que 2014 seria seu momento. Em meio a outro punhado de compromissos musicais, na última semana ele soltou na internet mais um futuro clássico: “Boy Lixo”, um EP de quatro faixas paramentadas na EDN (eletronic dance music) e no moderno, mas nem tanto, trap.
“Esse estilo nada mais é do que uma ramificação do hip-hop, começa nos Estados Unidos na década de 1970 e de uns anos pra cá se firmou na EDN. Ou seja, eu finalmente cheguei atrasado! Cansa um pouco esse estigma de estar sempre a frente”, desabafa.
Morando em Florianópolis há três anos, depois de uma longa temporada trabalhando como DJ no exterior, Edu K tem tanta ideia na cabeça que em uma só vida jamais dará tempo de colocar tudo em prática, mas ele vai fazendo o que dá. Em “Boy Lixo” Edu não apresenta simplesmente seu retorno triunfal na música, mas também um manifesto quase antropológico do comportamento masculino e feminino. “Durante muito tempo o que imperou no mundo foi o machismo, e depois que as mulheres começaram a ter voz ativa, os homens se assustaram, não encontraram um meio termo. Os homens precisam conquistar seu espaço ao lado da mulher, não acima e nem abaixo”.
Assim nasce o Boy Lixo, um novo cafajeste, um macho alfa que entende a igualdade social e sexual, que sai do exílio sem dominar o sexo oposto. Nas quatro músicas, ele ilustra esse e outros recorrentes personagens das paisagens urbanas modernas ao lado de quatro cantoras convidadas, entre elas a paraense Keila Gentil, vocalista da banda Gang do Eletro.

Tudo ao mesmo tempo
Enquanto dava forma a “Boy Lixo”, Edu K acumulou tantos compromissos que não seria exagero um estudo sobre como ele consegue estar em tantos lugares, fazendo tanta coisa ao mesmo tempo, sem jamais deixar de depositar o mesmo empenho em cada uma delas. Antes de sua própria volta, ele foi um dos responsáveis por colocar na boca do povo o novo trabalho dos conterrâneos da Cachorro Grande. Como produtor do álbum “Costa do Marfim” ele deu uma nova cara à banda, virou protagonista e praticamente um sexto elemento.
Antes disso, produziu ainda o disco “King Kong Diamond”, da Comunidade Nin-Jitsu, e “Mais de Mil Palhaços no Salão”, estreia solo do também gaúcho Daniel Tessler. Depois, passou a ser visto no canal fechado Sony, como apresentador do reality show musical Breakout Brasil, tudo isso enquanto gravava “Monstro”, o aguardadíssimo novo álbum do DeFalla, que chega ao público em 2015.
“Esse disco será um elo perdido entre os dois primeiros e o que aconteceu depois deles, porque o DeFalla perdeu o fio da meada depois da saída da Biba (baterista da formação original). Mas ao mesmo tempo ele é atemporal, não soa como nos anos 1980, é uma volta triunfal da banda, apesar de ela nunca ter acabado”, revela.
Enquanto aguarda o melhor momento para lançá-lo, Edu K, agora finalmente em casa, está terminando de formatar mais uma versão do show de “Boy Lixo”, que ele garante: deve passar por Florianópolis.



Publicado no jornal Notícias do Dia.