sábado, dezembro 20, 2014

Historiador da UFSC foi peça fundamental da produção de “O Irmão Alemão”, novo livro de Chico Buarque

Por muito pouco a resposta do historiador João Klug ao convite para comandar a pesquisa base do livro mais recente de Chico Buarque não foi negativa. De passagem por Berlim para a conclusão de seu pós-doutorado em 2012, Klug, que é professor do departamento de história da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), foi acionado pelo também historiador Sidney Chalhoub por telefone. Na conversa, ouviu o inesperado: Chalhoub, que já havia publicado vários livros pela Companhia das Letras, foi convocado pela editora para ajudar a descobrir tudo sobre o meio-irmão alemão do músico e poeta brasileiro, que estava começando a escrever sobre o assunto. Até aí, nada de incomum, mas como Chalhoub além de não falar alemão, estava sem tempo para se dedicar a uma pesquisa que demandaria tamanho empenho, decidiu passar a missão para Klug.
“Foi algo bem circunstancial, eu estava em Berlim fazendo meu pós-doutorado e o Sidney me telefonou para falar sobre uma documentação do Sérgio Buarque de Holanda, que esteve na Alemanha em 1929. O Chico já estava começando a escrever o livro e eu ia dizer não, por muito pouco não disse, porque aquilo não tinha nada a ver com o que eu estava fazendo lá”, conta Klug.
A resposta, felizmente, foi sim, e paralelamente ao trabalho acadêmico, ele passou a dedicar tempo a ir atrás do irmão alemão de Chico Buarque. Entre abril e junho de 2012, com ajuda do amigo e museólogo alemão Dieter Lange, Klug desbravou instituições, documentos, arquivos, bares e pessoas para descobrir o que o irmão brasileiro de Sérgio Ernst (ou Horst Günther, como passou a ser chamado) jamais suspeitava.
A última notícia que Chico Buarque tinha do tal irmão – nascido em 1930, fruto de um breve relacionamento do pai com uma alemã – era uma documentação de 1936, que revalava o desejo de Sérgio, o pai, de repatriar a criança, o que nunca aconteceu. Sérgio, o filho, foi então adotado por outra família e teve um destino promissor: se tornou um jornalista e cantor famoso na comunista DRA (República Democrática Alemã), até morrer, em 1981.

Talento no DNA

Toda vez que Klug fazia uma nova descoberta acerca do meio-irmão, imediatamente repassava as informações para Chico, que podia dar continuidade ao trabalho com mais rapidez. “Mantínhamos contato quase diariamente, por e-mail ou telefone. Ele é uma pessoa muito simples e agradável. Quando descobria algo, eu logo repassava, para ele já ir abastecendo o livro, mas quando falei que o irmão era cantor, o Chico foi imediatamente para Berlim”, conta.
Uma das últimas etapas da pesquisa foi quando o Klug finalmente localizou a família de Sérgio Günther – nome que o alemão passou a usar mais tarde – e promoveu um encontro emocionante na Capital alemã. “Eu traduzi as palavras, mas não tem como traduzir as emoções daquele encontro. Fiz questão de não informar à família quem era de fato Chico Buarque, disse apenas que era um parente brasileiro, o que provocou um interesse legítimo em conhecê-lo simplesmente por ser um familiar. O resto eles foram descobrindo naturalmente”, afirma Klug.

O encontro em Berlim resultou em visitas da família ao músico no Rio de Janeiro, e a história desde novembro está nas prateleiras das livrarias de todo o Brasil no livro “O Irmão Alemão”, que traz um agradecimento especial à Klug, o novo amigo de Chico.

Publicado no jornal Notícias do Dia.

sexta-feira, dezembro 05, 2014

Edu K lança manifesto cafajeste em “Boy Lixo”, seu novo EP

Acusado, e não injustamente, de ser ambíguo e de estar sempre à frente de seu tempo há pelo menos 30 anos, o músico gaúcho Edu K consegue surpreender até quem nunca deixou de acompanhar suas andanças, seja no DeFalla, uma das mais emblemáticas bandas surgidas na década de 1980 em Porto Alegre, seja comandando pick-ups no Brasil e na Europa, em sua carreira solo ou produzindo álbuns de outros artistas. Oito anos após lançar o último disco solo autoral, ele resolveu que 2014 seria seu momento. Em meio a outro punhado de compromissos musicais, na última semana ele soltou na internet mais um futuro clássico: “Boy Lixo”, um EP de quatro faixas paramentadas na EDN (eletronic dance music) e no moderno, mas nem tanto, trap.
“Esse estilo nada mais é do que uma ramificação do hip-hop, começa nos Estados Unidos na década de 1970 e de uns anos pra cá se firmou na EDN. Ou seja, eu finalmente cheguei atrasado! Cansa um pouco esse estigma de estar sempre a frente”, desabafa.
Morando em Florianópolis há três anos, depois de uma longa temporada trabalhando como DJ no exterior, Edu K tem tanta ideia na cabeça que em uma só vida jamais dará tempo de colocar tudo em prática, mas ele vai fazendo o que dá. Em “Boy Lixo” Edu não apresenta simplesmente seu retorno triunfal na música, mas também um manifesto quase antropológico do comportamento masculino e feminino. “Durante muito tempo o que imperou no mundo foi o machismo, e depois que as mulheres começaram a ter voz ativa, os homens se assustaram, não encontraram um meio termo. Os homens precisam conquistar seu espaço ao lado da mulher, não acima e nem abaixo”.
Assim nasce o Boy Lixo, um novo cafajeste, um macho alfa que entende a igualdade social e sexual, que sai do exílio sem dominar o sexo oposto. Nas quatro músicas, ele ilustra esse e outros recorrentes personagens das paisagens urbanas modernas ao lado de quatro cantoras convidadas, entre elas a paraense Keila Gentil, vocalista da banda Gang do Eletro.

Tudo ao mesmo tempo
Enquanto dava forma a “Boy Lixo”, Edu K acumulou tantos compromissos que não seria exagero um estudo sobre como ele consegue estar em tantos lugares, fazendo tanta coisa ao mesmo tempo, sem jamais deixar de depositar o mesmo empenho em cada uma delas. Antes de sua própria volta, ele foi um dos responsáveis por colocar na boca do povo o novo trabalho dos conterrâneos da Cachorro Grande. Como produtor do álbum “Costa do Marfim” ele deu uma nova cara à banda, virou protagonista e praticamente um sexto elemento.
Antes disso, produziu ainda o disco “King Kong Diamond”, da Comunidade Nin-Jitsu, e “Mais de Mil Palhaços no Salão”, estreia solo do também gaúcho Daniel Tessler. Depois, passou a ser visto no canal fechado Sony, como apresentador do reality show musical Breakout Brasil, tudo isso enquanto gravava “Monstro”, o aguardadíssimo novo álbum do DeFalla, que chega ao público em 2015.
“Esse disco será um elo perdido entre os dois primeiros e o que aconteceu depois deles, porque o DeFalla perdeu o fio da meada depois da saída da Biba (baterista da formação original). Mas ao mesmo tempo ele é atemporal, não soa como nos anos 1980, é uma volta triunfal da banda, apesar de ela nunca ter acabado”, revela.
Enquanto aguarda o melhor momento para lançá-lo, Edu K, agora finalmente em casa, está terminando de formatar mais uma versão do show de “Boy Lixo”, que ele garante: deve passar por Florianópolis.



Publicado no jornal Notícias do Dia.

quarta-feira, dezembro 03, 2014

Jornalista Paulo Markun lança amanhã em Florianópolis os dois volumes da obra “Brado Retumbante”

Resultado de uma ideia nascida em 1986 e concretizada ao longo dos últimos quatro anos, “Brado Retumbante”, obra em dois volumes em que o jornalista Paulo Markun traça um paralelo da história recente do Brasil nos períodos de1 964 a 1968 e de 1969 a 1984, terá amanhã seu lançamento oficial em Florianópolis, na livraria Saraiva do Beiramar Shopping. Dividida em “Na lei ou na marra – 1964-1968” e “Farol alto sobre as Diretas – 1969-1984”, cinquenta anos após o golpe militar e trinta após o movimento “Diretas Já”, a publicação apresenta um relato jornalístico baseado em entrevistas com 70 personalidades que marcaram o processo de redemocratização.
Compondo um abrangente painel de nossa história política recente, Markun visita momentos fundamentais da trajetória do país, desde os bastidores da reunião do Conselho de Segurança Nacional que desenhou os detalhes do AI-5, seis meses antes de o ato ser decretado por Costa e Silva, até os momentos prévios da posse de José Sarney como presidente da República. Da ideia inicial do livro até sua concepção final, o autor conta que a única mudança foi a formatação. “O período que eu queria abordar era esse desde o começo, o que mudou é que inicialmente ele seria baseado na biografia de 10 pessoas centrais no processo de redemocratização. Mas quando fui realizar vi que esse formato não era suficiente”, explica o jornalista, que participa de uma sessão de autógrafos durante o lançamento.
Segundo Makun, além das entrevistas, que considera um número pequeno para o tamanho da obra, ele se baseou ainda em uma série de registros, sobretudo jornalísticos, para compor o cenário. “Não é uma colcha de retalhos de depoimentos. É uma narrativa completa”, destaca. A obra traz documentos até então inéditos, como os do Cenimar (Centro de Informações da Marinha) sobre o Congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes) de 1967, pouco conhecido e decisivo para os grupos que embarcaram na luta armada.

Para os não iniciados
De acordo com o autor, o público alvo dos dois livros e também do site (www.bradoretumbante.org.br ), criado durante o procedimento de pesquisas e entrevistas, é principalmente quem até hoje teve pouca informação sobre a ditadura e a série de lutas da sociedade para a redemocratização do país. “O livro é voltado para quem não tem o interesse pela política como prioridade, para quem quer relembrar e para levar as pessoas a avançarem mais no tema. Lembrando que ele foi feito por um jornalista, não por um historiador”, diz.

Além dos produtos já lançados, Markun revela que tem planos de futuramente gravar um documentário sobre o tema, incluindo novos depoimentos de personalidades que ele não conseguiu entrevistar nos quatro anos de trabalho. “Não consegui entrevistar algumas pessoas, umas porque morreram e outras porque naquele momento estavam com problemas de saúde, como foi o caso do Lula, que ainda pretendo entrevistar para esse documentário”, conta.


Publicado no jornal Notícias do Dia.