É no quarto que divide com outro colega na moradia da UFSC
(Universidade Federal de Santa Catarina) que o estudante da quarta fase de
ciências sociais Murilo Mattei produz boa parte das músicas eletrônicas
experimentais que no último ano chamaram atenção do selo gaúcho NAS e de uma
série de blogs e sites especializados. Desde 2012, quando abandonou as baquetas
da banda de indie rock em que tocava na cidade de Orleans, onde nasceu, o rapaz
de 22 anos começou a utilizar o experimentalismo de colagens e batidas
desaceleradas em programas de computador para realizar o desejo de compor suas
próprias músicas, o que como baterista acabava se tornando uma tarefa um tanto
complicada.
Depois de criar um punhado de músicas que, segundo ele,
pouca gente tinha vontade de ouvir, e batizar o projeto de Vinolimbo – porque
tudo o que colocava no som ele “via no limbo” –, Murilo se mudou para
Florianópolis para estudar e o hobbie ganhou ares um pouco mais sérios. “As
primeiras músicas que eu fiz eram muito experimentais, ninguém queria ouvir
aquilo, mas quando mandei para o site Hominis Canidae vi que algumas pessoas se
interessaram e continuei fazendo, nessa época lancei três EPs”, conta. Um ano
depois, já vivendo na Capital, suas produções ganharam mais requinte, mais
horas de dedicação – e um acerta obsessão –, além da inserção de elementos menos
experimentais. O resultado foi a entrada de Vinolimbo no casting do selo NAS,
pouco antes do lançamento do seu quarto EP, “The End of What Never Happened”. As
sete faixas foram disponibilizadas on-line em maio deste ano e logo foram parar
em sites como Move That Jukebox, Monkey Buzz, O Esquema e no blog do jornalista
musical Ricardo Alexandre, no Portal R7, com elogios que pouco tempo atrás
pareciam improváveis para Murilo. O segundo EP com a chancela do NAS saiu há
três meses e para 2015 ele já planeja o lançamento de um álbum completo.
Em público
Até agora sem ser as festas promovidas em Porto Alegre pelo
próprio NAS, Murilo só teve a chance de tocar em uma ocasião, em Criciúma, em
agosto desse ano. Mas ele reconhece que suas músicas podem não combinar com
qualquer ambiente. “O estilo de música que eu faço não tem uma cena no Brasil e
no mundo todo também não é muito grande, mas o NAS está criando um circulo, já
tem uma parceria um selo de Singapura, então artistas de fora já nos ouvem e
com tempo vamos criando outras parcerias”, projeta.
Para tentar se inserir em ambientes mais próximos e poder
mostrar seu som para um público maior, ele diz que já tem incluído em seu set
remixes de sons um pouco mais calmos e até já conhecidas do público. “Eu tenho
mantido contato com um pessoal da cena de Balneário Camboriú, que tem inclusive
um podcast. Minha música está tentando conversar com a house music, tentando se
encaixar nesse estilo, então pretendo fazer alguma coisa lá. Acho que consigo
adaptar”, diz. Enquanto a música ainda for mais hobbie do que trabalho em sua
vida, apesar de já estar produzindo para outros artistas, Murilo afirma que vai
seguir conciliando com a faculdade, mas não descarta a possibilidade de dar um
tempo no curso caso surja uma oportunidade de explorar suas produções no exterior.
Publicado no jornal Notícias do Dia