segunda-feira, março 31, 2014

Guitarrista do Guns N' Roses leva dezenas de músicos e fãs para workshop em Florianópolis

Enquanto cerca de 80 músicos, ou simplesmente fãs de Guns N’ Roses, se amontoavam em uma das salas de aula do GTR Instituto de Música na noite desta segunda-feira (31), em Florianópolis, na salinha ao lado o guitarrista Ron “Bumblefoot” Thal comia castanha de caju e esperava a hora de ministrar mais um workshop da série que ele vem promovendo em algumas capitais brasileiras. “Eu adoro isso aqui”, dizia enquanto mastigava um punhado da especiaria tipicamente brasileira. “Não estou fazendo esses workshops em todas as cidades em que tocamos, só nas que tenho bons parceiros para isso”, disse apontando para parte da equipe de professores do instituto que o acompanhava no backstage.
Essa é a segunda vez que o guitarrista do Guns N’ Roses vem a Florianópolis. Em fevereiro de 2013 ele participou de um evento na Capital ao lado dos também companheiros de banda Chris Pitman e Frank Ferrer com o projeto Blowout, na Posh Club.  “Ano passado definitivamente deu para irmos à praia e tudo, dessa vez não conseguimos, viemos direto do aeroporto. Então meu plano para hoje é conhecer o pessoal que está aqui e fazer um som com eles”.

O guitarrista, que se prepara para o show do Guns N’ Roses nesta terça-feira (1º) no Devassa On Stage, quando questionado sobre um possível atraso, desses que os fãs já estão quase acostumados a enfrentar, foi enfático. “Eu sempre estou pronto na hora certa, quem atrasa é o vocalista”, brincou, em tom de verdade, referindo-se a Axl Rose.
Segundo ele, a banda acaba não tendo muito contato com o frontman fora dos palcos. “Nós viajamos separados e ele geralmente chega depois. Nos falamos mais por e-mail, às vezes jantamos juntos, mas eu geralmente tenho muitas coisas para fazer, e ele também”.
Durante o workshop, Bumblefoot tocou algumas músicas, fez piadas, arriscou várias palavras em português, respondeu perguntas do público e mostrou algumas de suas técnicas na guitarra.



Publicada no jornal Notícias do Dia.
 

domingo, março 16, 2014

Modernos ou antigos, procura por toca-discos aumenta com a volta dos LPs

Em meados de 2008, quando começou a pipocar no Brasil a notícia de que lá fora a venda de discos de vinil vinha aumentando exponencialmente, muita gente duvidou que o bolachão fosse de fato voltar às estantes dos brasileiros saudosistas e mais ainda que ganharia a atenção de jovens que usavam fraldas quando ele começou a sair de cena por aqui. Mais de cinco anos se passaram, a única fábrica de discos da América Latina, que estava parada, voltou a produzir, músicos brasileiros começaram – ou voltaram – a lançar suas músicas em LP e já não restam dúvidas de que o mercado está mesmo aquecido. A questão agora é outra: é fácil e acessível encontrar aparelhos, novos ou antigos, para rodar a velha novidade? E a manutenção para quem for tirar o pó do toca-discos guardado há 20 anos, é viável?

Mais do que a vontade de trazer o velho ritual de volta e a disposição de vasculhar, quem precisa estar preparado antes de tudo é o bolso do colecionador mais saudosista. É entre R$150 e R$5.800 que ele deve deixar na loja de artigos usados se quiser adquirir um toca-discos, uma vitrola ou mesmo radiola, nem sempre funcionando muito bem.
O vasto acervo eletrônico da loja Mania Móveis Usados, no Centro de Florianópolis, conta hoje com aparelhos da década de 1940, como a radiola em perfeito funcionamento que sai pela bagatela de R$4.800, até os toca-discos mais “modernos”, da década de 1980, que ainda precisam passar por revisão e podem ser levados para casa por R$150.  Embora a loja comercialize alguns aparelhos que não passaram pelas mãos de um especialista em recuperação, a maior parte dos que são colocados à venda receberam todos os ajustes necessários e dão um banho em muito produto novinho em folha.
De acordo com Vanderlei Cordeiro, proprietário da loja, o que define o valor de cada aparelho não é exatamente a idade dele, mas justamente seu estado de conservação e funcionamento. Normalmente ele põe um lucro de 100% em cima de cada um dos produtos, que chegam até ele de todas as maneiras. “Às vezes as pessoas vêm vender aqui na loja e outras vezes entram em contato pela internet e a gente vai na casa do cliente avaliar o aparelho. Uma vez fui visitar um que tinha um toca-discos guardado no armário há 20 anos e a mulher dele conseguiu convencê-lo a se desfazer”, lembra Vanderlei, que comanda a loja há 18 anos e há sete abriu uma filial não muito longe dali.
Há seis meses exposta no piso superior da loja, a radiola de 1960, de madeira maciça e qualidade sonora surpreendente, ganhou, na semana passada, uma etiqueta de vendida e está aguardando seu novo dono retirá-la. “Apesar de ela ser cara (custava R$5.800) o comprador não é uma pessoa rica, é gente humilde que compra porque realmente gosta”, ressalta Vanderlei, garantindo ser um ótimo investimento.
“Hoje dia tem também esses toca-discos novos para vender por aí, mas acho que as pessoas ainda compram esses antigos porque gostam do barulhinho que eles fazem. A maior parte dos clientes é um pessoal que curtiu o vinil no passado e quer reviver isso”.

Uma coisa leva à outra
Além dos próprios toca-discos, a loja de Vanderlei dispõe também de uma vasta coleção de discos, para quem quiser sair de lá já com material para alimentar seu aparelho. E a lógica é legítima: quanto mais toca-discos saem, mais bolachões são vendidos. E vice-versa.
De acordo com o comerciante, a saída dos discos hoje é surpreendente e chega a até 250 unidades por mês. “Tem gente que vem e fica meia hora olhando, escolhendo. Vem muito cliente de fora também. O que mais sai é rock e MPB, mas principalmente rock”, ressalta. Apesar da alta procura, Vanderlei afirma que, em contrapartida, ainda tem muita gente querendo se desfazer de suas coleções e dos próprios aparelhos, o que garante o reabastecimento constante das prateleiras.
A uma quadra dali, em um dos sebos da cidade mais frequentados por colecionadores de discos, o Elemental, a questão do gênero musical é corroborada pelo funcionário Adriano da Rosa: os roqueiros realmente são quem mais se interessam pelo vinil hoje. “Vem gente de todas as idades comprar, mas os mais jovens geralmente olham mais do que levam”, afirma. Um dos motivos para isso é o preço salgado de alguns títulos, como o “Help” dos Beatles, original da época, que sai por R$150. Apesar de ter elegido seu disco favorito no acervo da loja, o “Arise”, do Sepultura, Adriano afirma que já se desfez de sua coleção e que por isso não compra mais os títulos da própria loja. “Mas eles às vezes levam”, diz, apontado para os colegas. O sebo costuma vender pelo menos 70 LPs por mês.

Novinho em folha
De olho especialmente no público jovem que está descobrindo agora o prazer de ouvir suas bandas favoritas no vinil, marcas como Teac, Crosley e a brasileira Ribeiro Pavani estão investindo forte em toca-discos modernos, mas com carinha retrô. Além das vendas pela internet, algumas grandes redes de lojas de eletrodomésticos e até de supermercados já comercializam as marcas em seus espaços físicos.
Há quatro anos representando a japonesa TEAC, especializada em aparelhos e áudio e gravação, a distribuidora Link do Brasil percebeu um aumento significativo nas vendas de toca-discos a partir de 2012. “Inicialmente o público predominante era de uma faixa etária entre 50 e 65 anos, pessoas que mantiveram as suas coleções de discos durante anos e agora viram a oportunidade de voltar a ouvi-los. Hoje, com o aumento da produção de discos e os preços que lentamente estão caindo, isso mudou e o jovens entre 25 e 35 anos estão entre o principal público”, explica Sami Douek, responsável pelo setor de desenvolvimento de produtos da Link do Brasil. A TEAC atualmente trabalha com três modelos de toca-discos, que variam de R$ 1.800 a R$ 2.400. O mais moderno deles – e também o mais caro –, lançado em dezembro de 2013, vem com duas caixas acústicas destacáveis, além da tecnologia Bluetooth, que permite a transferência de arquivos de áudio diretamente do computador ou do celular. “Esse produto é o que eu chamo de ‘menina dos olhos’, tem um incomparável custo benefício”, garante Sami. De acordo com ele, o crescimento na venda de toca-discos tem registrado anualmente um aumento de aproximadamente 30%.Entre as principais lojas que trabalham com os produtos da TEAC estão a Fnac, as lojas Colombo, Submarino, Magazine Luiza e Fast Shop, embora apenas em São Paulo e no Rio de Janeiro eles sejam encontrados nos espaço físicos.


Manutenção e recuperação
Mesmo com a opção de comprar um toca-discos moderno e com cheirinho de novo, parte dos novos e velhos adeptos do LP ainda dá preferência aos modelos antigos, e razões para isso não faltam. Há 25 anos instalada na Lagoa da Conceição, a eletrônica Tecnotronic, comandada por Valter Bevilacqua e o filho Yuri, viu a demanda por recuperação e manutenção de toca-discos aumentar consideravelmente de um ano para cá. “Hoje a gente recebe em torno de dez aparelhos por mês, da vitrolinha aos mais modernos, sendo que uma recuperação pode levar até três meses”, conta Yuri, responsável por dar vida nova a todos os que chegam na eletrônica. Ele conta que aparece todo o tipo de gente na porta do estabelecimento com todos os tipos de aparelhos em mãos, embora os mais jovens ainda optem pelos mais simples e baratos.
Amante do vinil desde criança e não satisfeito apenas com sua coleção que já ultrapassa 400 títulos – e que fica longe da eletrônica, onde só um do Balão Mágico e outro do Iron Maiden circulam para testes –, Yuri também coleciona toca-discos. O rapaz já acumula em casa 25 deles desde começou a trabalhar com o pai, na década de 1990, quando passou ter verdadeira adoração por eles.
Para refazer toda a estrutura dos aparelhos que recebe, desde a restauração da madeira até a parte elétrica, Yuri afirma que é sempre complicado conseguir as peças necessárias. “Tudo é difícil aqui no Brasil, tenho que comprar dos Estados Unidos e é tudo muito caro, o imposto é enorme”, desabafa. Por causa disso, uma restauração completa custa em torno de R$350. Mesmo assim, no alto de sua experiência como técnico e colecionador, ele garante que vale muito mais a pena recuperar um toca-discos antigo do que comprar um novo. “Esses que fabricam agora não são bons, são todos feitos de plástico e na China”, dispara. 


Publicada no jornal Notícias do Dia.

sábado, março 01, 2014

Em cima do palco, com instrumentos em mãos, as mulheres conquistam seu espaço

Embora já não seja mais tão incomum, uma mulher em cima do palco empunhando um baixo ou uma guitarra, dominando um piano ou despejando sua fúria em uma bateria, ainda impressiona olhos menos habituados. Elas começaram quando crianças por incentivo da família, ou adolescentes para simplesmente fazer o contrário do que os pais desejavam, e hoje, já adultas, conseguiram conquistar seu espaço no cada vez mais feminino mundo da música.

Acostumada a lidar com um contrabaixo acústico maior do que ela própria, aos 23 anos a tecnóloga em edificações e estudante de arquitetura Aline Pires tenta desde dezembro se habituar ao novo ritmo de fazer parte de uma banda de folk rock. Isso porque desde os nove anos, por estímulo da família, teve formação musical clássica, primeiro no piano, no colégio Coração de Jesus, e depois no próprio contrabaixo. “Quando eu tocava em orquestras estava sempre acompanhada da partitura. Agora, na banda, tenho que decorar tudo, ainda estou me acostumando”, conta. Para poder praticar melhor em casa, já que não possui seu próprio instrumento clássico, Aline comprou um baixo elétrico, mais acessível e também mais prático para levar aos shows da nova banda, a Balcony. “Mas ainda pretendo comprar um acústico e usar nos shows”, projeta.
Única garota em meio a quatro rapazes, o jeito delicado de Aline deixa transparecer de longe outro papel fundamental que possui no grupo. “Eles dizem que precisam de uma mulher para tudo ficar mais organizado”, diverte-se, garantindo que nunca passou por nenhum tipo de preconceito. A suavidade da baixista, no entanto, não quer dizer absolutamente nada em relação à atitude das mulheres instrumentistas de uma forma geral.


Nada de delicadeza
Com um piercing no lábio, tatuagens espalhadas pelo corpo e o cabelão loiro, a simples presença da guitarrista Débora Valençay, de 26 anos, já chama atenção onde quer que ela esteja. Ao descer de sua imponente motocicleta com a guitarra pendurada nas costas, deixa a impressão de durona transparecer com ainda mais nitidez. Há apenas três anos empunhando o instrumento, Débora já experimentou o que muito veterano ainda tem como sonho distante: ela conta com mais de uma dezena de patrocínios de diversas marcas de equipamentos musicais, entre elas Tagima, Basso, ASK, Fuhrmann, SG e Bruschi Amps.  “Não é tão comum alguém conseguir tantos patrocínios, normalmente só quem é muito famoso. Mas as marcas vêem um potencial no músico, e como eu evoluí bastante em um curto período, é uma aposta que elas fizeram”, explica.
A guitarra ainda é relativamente nova na vida de Débora porque antes disso era a bateria que fazia sua cabeça, desde 2007. Durante alguns anos ela era a responsável pelas baquetas em uma banda de blues, mas a mudança constante de integrantes deixou a rotina cansativa e ela foi em busca de outro grupo para tocar. “Encontrei na internet uma banda de meninas que estava precisando de guitarrista. Eu nunca tinha tocado, comprei uma guitarra de R$200 e fui. Em seis meses eu já estava com o patrocínio da Tagima”, conta. As até então desconhecidas colegas da banda de rock clássico Pink Revolver são hoje suas melhores amigas. “Ninguém vive mais sem a outra”, garante.
Tanto na bateria quanto na guitarra, Débora deu sozinha os primeiros passos, mas até hoje estuda para se aperfeiçoar cada vez mais. Única de sua família a entrar no mundo da música, ela admite que no começo foi difícil para os pais aceitarem um futuro tão incerto para a filha. “É complicado, eu também ficaria com medo do futuro se eu não fosse ligada à música e um filho quisesse seguir esse caminho”. Hoje, Débora consegue se sustentar apenas de seu som, com shows e participações em gravações de vários artistas. Quanto ao preconceito por ser mulher, ela admite que com a Pink Revolver ainda enfrenta certa barreira em Florianópolis, mas no interior e em outros Estados, a abordagem é mais fácil. “No meio musical ainda tem gente achando que mulher não dá conta”, dispara.

Baquetas em fúria
Assim como impressionou a guitarrista Débora Valençay em um primeiro momento, a bateria também foi a escolha de Mariel Maciel e Moniky Hoffmann. Hoje com 29 anos e recém-formada em teatro, Mariel costumava frequentar com os pais, na década de 1980, um bar da Capital com música ao vivo onde viu pela primeira vez uma bateria e ficou encantada com a performance do músico que segurava as baquetas. A imagem permaneceu em sua cabeça por anos, até que aos 14 começou a fazer aulas e aos 145, pediu de presente para a mãe uma bateria. “Assim que ganhei ela uns amigos me convidaram para tocar em uma banda, minha primeira banda. Éramos todos meio ruins”, lembra. Iniciada no rock’n’roll, mais tarde Mariel chegou a ser convidada para tocar em um grupo de pagode, e apesar de considerar a ideia um tanto absurda, pediu a opinião de seu professor, que acabou lhe convencendo a topar. “Ele disse que seria uma boa experiência, então marquei um ensaio com o grupo. Mas o ensaio acabou não acontecendo e nunca mais fui atrás”, conta. Desde 2009 ela faz parte da banda folk Somato, que passa por um hiato por tempo indeterminado, e toca também com o namorado e amigos em outras duas bandas de punk rock. “É mais para não ficar parada mesmo”.
Apesar de hoje colocar todas as suas energias no comando da bateria da banda de meninas Rock Roach, a curiosidade por aprender a tocar um instrumento levou Moniky, hoje com 23 anos, primeiro para o violão, e em seguida para a guitarra. Depois de quase sete anos dedicados às cordas, ela acabou chegando à conclusão de que talvez elas não fossem seu negócio. Foi quando decidiu, aos 18 anos, migrar para detrás do bumbo, da caixa e dos pratos e acabou se encontrando por ali mesmo. “Minha mãe dizia ‘por que não toca gaita? É mais silencioso’. Eu ensaiava na hora da novela e nem ela nem os vizinhos gostavam muito”, lembra. Quando encontrou as atuais companheiras de banda, elas ainda não tinham começado definitivamente os trabalhos porque faltava exatamente uma baterista. Suprida necessidade com a entrada de Moniky, o grupo fez seu primeiro ensaio no começo de 2009 e hoje leva seu punk rock nada mulherzinha para diversos bares da região. “Nunca tivemos muita dificuldade para tocar, mas as pessoas se impressionam quando descobrem que eu toco bateria, principalmente porque sou pequena”.


Uma vida dedicada ao piano
Longe dos riffs roqueiros, a compositora Denise de Castro seguiu os passos do próprio pai quando aos 11 anos decidiu entrar nas aulas de piano do colégio Coração de Jesus, de onde não arredou pé até prestar vestibular para música na Udesc (Universidade do Estado de Santa Catarina). Depois de formada, partiu para Portugal onde viveu por quatro anos fazendo shows e cursos de música. Hoje, aos 49, além de dar aulas de piano e canto, Denise reserva as noites para apresentar suas composições, além de clássicos da bossa nova, em bares e teatros de Florianópolis. Mesmo com a dedicação exclusiva ao piano, sua paixão pela música submerge por outros caminhos. “Também toco algo de percussão e gosto muito de sopro. Se eu pudesse, tocaria todos os instrumentos, gosto de tudo, mas é difícil se dedicar a muitos”, conclui. Ao longo da carreira como pianista, cantora e compositora, Denise já chegou a lançar dois discos, um em 1997 e outro em 2010, e recentemente ficou em terceiro lugar no primeiro concurso de marchinhas de São José.


Publicada no jornal Notícias do Dia.