O ambiente é aconchegante e o cheiro bastante característico. Prateleiras forram as paredes do chão até o teto, e nelas, muitas histórias em páginas amareladas e capas marcadas pelo tempo. São centenas e, às vezes, milhares de livros de todos os tamanhos, assuntos, autores e idiomas. São discos de vinil, revistas, histórias em quadrinhos e até objetos eletrônicos e de decoração antigos. Assim é a maioria dos sebos, uma espécie de templo onde os livros são os herois dos fiéis frequentadores. A diferença entre comprar um livro de um sebo e outro novinho de uma livraria, é que o comprado no sebo tem duas histórias. E uma delas você provavelmente nunca vai conhecer.
Localizado em uma popular galeria de Balneário Camboriú, quase imperceptível em meio a outras lojas e ostentando apenas um simples letreiro com os dizeres “sebo e livraria”, um desses pequenos templos de velhas histórias começa a dar seus primeiros passos. Inaugurado há pouco mais de um ano, o sebo conta com um acervo em crescente expansão e um ambiente cuidadosamente decorado pela proprietária Natassia Chandoha. Banquinhos, poltronas e tapetes pelo chão provocam junto com os livros nas prateleiras e a caixa de discos de vinil no chão a exata sensação a que estão destinadas: deixar o ambiente confortável e aconchegante, afinal, ninguém fica apenas alguns minutinhos dentro de um sebo.
Os frequentadores assíduos, diz Natassia, não possuem um perfil exato. Ao menos não no seu sebo. “Aqui vem desde crianças até velhinhos de 80 anos”. Mas ao menos duas coisas todos têm em comum: gostam muito de livros e costumam gastar bastante tempo dentro do sebo. “Por isso coloquei os banquinhos. As pessoas podem sentar e ficar folheando os livros”. No sebo da Natassia, o investimento maior é sempre em livros. Os vinis ainda não são tão procurados. “Eles são mais para colecionadores mesmo”, explica a dona.
Há alguns quilômetros dali, já com 19 anos de existência e ostentando o título de mais antigo sebo de Itajaí e um dos maiores e mais antigos de Santa Catarina, o sebo Casa Aberta não é assim tão diferente do sebo de Natassia. Lá as pessoas também costumam gastar vários minutos do seu dia andando pelos mais de 40 mil títulos que o sebo oferece. Segundo a funcionária Deborah Lins, algumas pessoas já têm na cabeça o que querem quando entram no sebo, e, se não tem à venda, vão embora. Outros acabam procurando alguma outra coisa e levando. Mas há outros ainda que vão só para passear mesmo. Trinta minutos é o tempo médio que as pessoas gastam circulando por lá.
A faixa etária dos frequentadores também é eclética, “mas a maioria acho que são os jovens”, revela Deborah, entrando em acordo com a proprietária do sebo, Ivana Severino. Os livros que mais saem são os de literatura, embora várias senhoras aproveitem o sebo para adquirir as revistas românticas Júlia ou Sabrina por um bom preço. No acervo de discos de vinil, mais de cinco mil títulos lotam as estantes, “e a procura maior é por discos de rock”, conta Ivana. Segundo ela, o preço baixo dos vinis e o fato de só colecionadores os procurarem, fazem com que os deste gênero acabem saindo rápido. “Às vezes eu até vendo pra outros sebos revenderem”.
Se no pequeno sebo de Balneário Camboriú o ambiente foi minuciosamente preparado para ser tranquilo e aconchegante, na Casa Aberta as coisas não são muito diferentes. Apesar do grande fluxo de pessoas rodeando as estantes o tempo todo, o ambiente consegue conservar o minimalismo. Mesinhas com cadeiras e alguns banquinhos, que às vezes são usados como apoio quando alguém não alcança algum livro na estante, revelam que ali o cliente pode ficar à vontade. Pode folhear algumas páginas, ler algumas linhas e sentir o que o livro é capaz de passar, além da história escrita em suas folhas.
Quadrinhos raros para fãs
Fã assumido do ambiente cheio de personalidade dos sebos, o estudante Ricardo Souza os visita ao menos três vezes por semana. Influenciado pelo irmão mais velho, que trocava gibis em um sebo quando Ricardo tinha 10 anos, ele costuma ficar em média trinta minutos vasculhando os livros nas estantes. E, se pudesse, ficaria ainda mais tempo. “Mas tem faculdade e trabalho, não tenho tanto tempo pra curtir o sebo”, lamenta. Depois que finalmente adquiriu toda a saga “Terremoto”, do Batman, Ricardo agora costuma ir ao sebo sem muita ideia do que vai levar. “Eu fico olhando e o que eu achar interessante, levo”.
Para Ricardo, o mais legal dos sebos é a proximidade que ele proporciona com a cultura que as pessoas não puderam vivenciar. “Gosto muito das obras dos anos 70, 80 e 90, que foram lançadas quando eu nem tinha nascido ou era muito pequeno. Entrar num sebo é uma sensação única, é reviver o passado e suas grandes obras”, explica. Segundo o estudante, os sebos têm valor intangível. Ele não frequenta apenas pensando em adquirir mais obras para aumentar sua coleção, mas para conhecer e cultuar obras de uma época distante.
Ricardo já achou tantas obras clássicas e interessantes no sebo que mal consegue listar. Uma delas, “talvez a mais legal que eu tenha achado”, foi uma edição antiga da Liga da Justiça. “Ela era dos anos 60, era em preto e branco ainda e mostrava o encontro da Liga da Justiça com a Sociedade da Justiça”, comemora o fã de quadrinhos. Mas a alegria de encontrar a rara edição, logo se transformou em tristeza. “Infelizmente eu perdi ela na enchente de 2008”.
Seja para passar o tempo de uma tarde chuvosa, para encontrar obras que não existem mais nas livrarias, ou até mesmo para economizar, frequentar sebos é sempre uma aventura. As marcas do tempo, as folhas ásperas e algumas palavras rabiscadas a caneta pelo antigo dono de algum livro, dão a ele um aspecto diferente. Um livro, ou outro objeto qualquer comprado em um sebo, já vem com sua própria personalidade, e, não raras, às vezes, é muito mais atraente do que tirar o plástico de livro um novo.
Localizado em uma popular galeria de Balneário Camboriú, quase imperceptível em meio a outras lojas e ostentando apenas um simples letreiro com os dizeres “sebo e livraria”, um desses pequenos templos de velhas histórias começa a dar seus primeiros passos. Inaugurado há pouco mais de um ano, o sebo conta com um acervo em crescente expansão e um ambiente cuidadosamente decorado pela proprietária Natassia Chandoha. Banquinhos, poltronas e tapetes pelo chão provocam junto com os livros nas prateleiras e a caixa de discos de vinil no chão a exata sensação a que estão destinadas: deixar o ambiente confortável e aconchegante, afinal, ninguém fica apenas alguns minutinhos dentro de um sebo.
Os frequentadores assíduos, diz Natassia, não possuem um perfil exato. Ao menos não no seu sebo. “Aqui vem desde crianças até velhinhos de 80 anos”. Mas ao menos duas coisas todos têm em comum: gostam muito de livros e costumam gastar bastante tempo dentro do sebo. “Por isso coloquei os banquinhos. As pessoas podem sentar e ficar folheando os livros”. No sebo da Natassia, o investimento maior é sempre em livros. Os vinis ainda não são tão procurados. “Eles são mais para colecionadores mesmo”, explica a dona.
Há alguns quilômetros dali, já com 19 anos de existência e ostentando o título de mais antigo sebo de Itajaí e um dos maiores e mais antigos de Santa Catarina, o sebo Casa Aberta não é assim tão diferente do sebo de Natassia. Lá as pessoas também costumam gastar vários minutos do seu dia andando pelos mais de 40 mil títulos que o sebo oferece. Segundo a funcionária Deborah Lins, algumas pessoas já têm na cabeça o que querem quando entram no sebo, e, se não tem à venda, vão embora. Outros acabam procurando alguma outra coisa e levando. Mas há outros ainda que vão só para passear mesmo. Trinta minutos é o tempo médio que as pessoas gastam circulando por lá.
A faixa etária dos frequentadores também é eclética, “mas a maioria acho que são os jovens”, revela Deborah, entrando em acordo com a proprietária do sebo, Ivana Severino. Os livros que mais saem são os de literatura, embora várias senhoras aproveitem o sebo para adquirir as revistas românticas Júlia ou Sabrina por um bom preço. No acervo de discos de vinil, mais de cinco mil títulos lotam as estantes, “e a procura maior é por discos de rock”, conta Ivana. Segundo ela, o preço baixo dos vinis e o fato de só colecionadores os procurarem, fazem com que os deste gênero acabem saindo rápido. “Às vezes eu até vendo pra outros sebos revenderem”.
Se no pequeno sebo de Balneário Camboriú o ambiente foi minuciosamente preparado para ser tranquilo e aconchegante, na Casa Aberta as coisas não são muito diferentes. Apesar do grande fluxo de pessoas rodeando as estantes o tempo todo, o ambiente consegue conservar o minimalismo. Mesinhas com cadeiras e alguns banquinhos, que às vezes são usados como apoio quando alguém não alcança algum livro na estante, revelam que ali o cliente pode ficar à vontade. Pode folhear algumas páginas, ler algumas linhas e sentir o que o livro é capaz de passar, além da história escrita em suas folhas.
Quadrinhos raros para fãs
Fã assumido do ambiente cheio de personalidade dos sebos, o estudante Ricardo Souza os visita ao menos três vezes por semana. Influenciado pelo irmão mais velho, que trocava gibis em um sebo quando Ricardo tinha 10 anos, ele costuma ficar em média trinta minutos vasculhando os livros nas estantes. E, se pudesse, ficaria ainda mais tempo. “Mas tem faculdade e trabalho, não tenho tanto tempo pra curtir o sebo”, lamenta. Depois que finalmente adquiriu toda a saga “Terremoto”, do Batman, Ricardo agora costuma ir ao sebo sem muita ideia do que vai levar. “Eu fico olhando e o que eu achar interessante, levo”.
Para Ricardo, o mais legal dos sebos é a proximidade que ele proporciona com a cultura que as pessoas não puderam vivenciar. “Gosto muito das obras dos anos 70, 80 e 90, que foram lançadas quando eu nem tinha nascido ou era muito pequeno. Entrar num sebo é uma sensação única, é reviver o passado e suas grandes obras”, explica. Segundo o estudante, os sebos têm valor intangível. Ele não frequenta apenas pensando em adquirir mais obras para aumentar sua coleção, mas para conhecer e cultuar obras de uma época distante.
Ricardo já achou tantas obras clássicas e interessantes no sebo que mal consegue listar. Uma delas, “talvez a mais legal que eu tenha achado”, foi uma edição antiga da Liga da Justiça. “Ela era dos anos 60, era em preto e branco ainda e mostrava o encontro da Liga da Justiça com a Sociedade da Justiça”, comemora o fã de quadrinhos. Mas a alegria de encontrar a rara edição, logo se transformou em tristeza. “Infelizmente eu perdi ela na enchente de 2008”.
Seja para passar o tempo de uma tarde chuvosa, para encontrar obras que não existem mais nas livrarias, ou até mesmo para economizar, frequentar sebos é sempre uma aventura. As marcas do tempo, as folhas ásperas e algumas palavras rabiscadas a caneta pelo antigo dono de algum livro, dão a ele um aspecto diferente. Um livro, ou outro objeto qualquer comprado em um sebo, já vem com sua própria personalidade, e, não raras, às vezes, é muito mais atraente do que tirar o plástico de livro um novo.
Publicado na edição Online do jornal universitário Cobaia
Por Juliete Lunkes