Eles já nem sabem mais o número exato de vezes que desembarcaram em Florianópolis para despejar seu indie rock temperado por ritmos brasileiros nos ouvidos do público ensandecido que sempre lota seus shows, mas deixam claro que nunca é uma viagem qualquer. Quatro dias depois de lançar pela internet seu terceiro disco, os paulistanos do Holger sobem neste sábado ao palco da Célula Showcase para cumprir seu ciclo de pelo menos um show por ano na Ilha – que já dura uns bons seis anos –, agora com 11 faixas a mais, novinhas em folha, para rechear o repertório.
O álbum que vem com o nome da banda chegou para reafirmar uma nova fase, com ritmos um pouco menos acelerados que nos álbuns anteriores, “Sunga” e “Ilhabella”, e referências muito mais claras da música brasileira. O resultado foi um diálogo despretensioso entre a tropicalidade adquirida em seus anos de estrada e as guitarras das bandas que os inspiraram no início da carreira.
“Nos últimos anos teve um boom, muita informação, ouvimos muita coisa, lemos muita coisa, dá esse cansaço na cabeça, então a gente foi atrás de coisas mais palpáveis. As influencias são amplas, desde bandas indie que voltamos a ouvir até uma aproximação maior com a música brasileira. A gente se encontra mais para ouvir do que para fazer música, mas esse disco não foi movido por influências, ele representa o que somos hoje, por isso se chama Holger”, conta o guitarrista Marcelo Altenfelder, o Pata.
A nova fase da banda também tem a ver com a saída do baterista Arthur Britto, que foi estudar nos Estados Unidos. Assim, desde meados de 2014 quem assume as baquetas é Charles Tixier, da banda Charlie e Os Marretas. “O Arthur ganhou uma bolsa em Columbia e precisou priorizar isso, mas o Charlie entrou como uma luva. Ele gravou a maioria das músicas do disco e pegou mesmo nossa energia“, revela Pata.
Caminho encontrado
Enquanto no primeiro EP (“Green Valley”, de 2008) e em “Sunga” (2010) a língua materna de Pata, Bernardo Rolla, Pedro Bruno e Marcelo Vogelaar (o Tché), não teve vez em nenhuma das letras, em “Ilhabella” (2012) o português fez um belo debut em varias faixas, e acabou dominando por completo o novo trabalho.
“O futuro sempre foi uma página em branco, nunca descartamos cantar em português, assim como agora não descartamos voltar a cantar em inglês. A gente sempre dava a resposta de que português não combina com rock, e durante uma turnê nos Estados Unidos nos pegamos ouvindo só música brasileira, então pensamos por que não? e no ‘Ilhabela’ colocamos a cara a tapa. Ali a gente errou e acertou, mas acho que encontramos um caminho”, reflete Pata.
Segundo ele, até agora, nos poucos shows que já tiveram a oportunidade de tocar as novas músicas, a recepção do público tem sido positiva. “A gente se diverte muito com a plateia, até mais do que ela, e tem sido muito bom tocar as novas, mas só fizemos sete shows com elas até agora. É muito legal ter três discos e mais opções para o repertório, às vezes da pena de tirar uma música para colocar outra, mas estamos curtindo muito tocar as novas”, diz. No show de hoje, a maioria das faixas do repertório deve ser do novo álbum.
Publicado no jornal Notícias do Dia.