Inspirado por uma fase de sua própria vida quando ainda era universitário e vivia em Balneário Camboriú, o escritor catarinense Carlos Henrique Schroeder trouxe de volta alguns dos fantasmas do passado para dar vida a um recepcionista noturno de hotel em seu novo livro, “As Fantasias Eletivas”. Com lançamento marcado para hoje na livraria Saraiva do Beiramar Shopping, em Florianópolis, a obra nasceu com a intenção de retratar a solidão de um homem que passa as madrugadas atrás de um balcão de granito verde, mas ganhou outra dimensão quando o travesti Copi surgiu na mente do escritor. A partir daí, a inspiração na vida real ganhou outros contornos e a história passou a ser de Copi e de uma inesperada amizade.
“Eu morei durante 15 anos em Balneário Camboriú e lá trabalhei como recepcionista de hotel no turno da noite. Isso ficou na minha cabeça, eu já tinha inclusive escrito um conto chamado ‘Os Recepcionistas’, que falava sobre os recepcionistas de Balneário Camboriú, então livro surgiu a partir desse conto. Seria um romance que contaria o passado e o presente do personagem Renê, até que surgiu a Copi e tomou conta da história que era para ser sobre a solidão de um recepcionista”, relata Schroeder.
Com chancela da editora Record, ao longo de apenas 112 páginas em formato de bolso, o livro passa superficialmente pelos dilemas de Renê e pela curiosa história de vida de Copi, o que de acordo com o autor, foi totalmente propositado.
“Eu cortei muitas páginas da história, foi intencional deixar bem aberto, assim como é a vida. As pessoas surgem na vida da gente e logo desaparecem e ninguém sabe nada de ninguém, principalmente nessas cidades”, explica.
Depois dos lançamentos em São Paulo, no Rio e em Jaraguá dom Sul, cidade do autor, na noite de hoje Schroeder divide espaço com o amigo Santiago Nazarian, que apresenta em Florianópolis o livro “Biofobia”. A dupla participará de um bate-papo sobre as duas obras.
Um livro dentro do outro
No momento em que o travesti Copi domina a história até então protagonizada por Renê, as páginas de “As Fantasias Eletivas” se abrem para as criações do próprio personagem. Fotografias, pequenos contos e até poemas, que Schroeder garante serem de Copi e não dele, surgem para mostrar ao leitor o que há por trás das cores e da alegria superficial de um travesti. A solidão, as viagens para atender clientes por toda Santa Catarina, a facilidade com as palavras e o que o levou de tão longe para pequena cidade litorânea vêm à tona por meios dos registros de sua própria arte.
“Aquilo é tudo de Copi. Eu tentei dar voz a ela, tanto nas fotografias como nos textos e nos poemas, mesmo porque eu não escrevo poesia, só prosa. É um livro dentro do livro. Quando Copi surgiu na história senti necessidade de colocar isso dentro dele, conversei com alguns travestis para entendê-los, e pegar inclusive o tom de voz, e acabei vendo que apesar de eles serem sempre bem humorados, dentro deles há muita raiva”, constata o escritor.
Publicado no jornal Notícias do Dia.