sexta-feira, novembro 04, 2011

Mas afinal, o que é MBA?

Apesar da tradução Master of Business Administration significar “Mestrado em Administração de Negócios”, no Brasil, o MBA é considerado uma especialização. Saiba por que muitas pessoas optam pela MBA e veja se essa é a melhor alternativa para você.

Focados principalmente nas áreas de logística, marketing, finanças e planejamento estratégico, os cursos de MBA interessam geralmente a profissionais que buscam crescer na carreira de gestão empresarial ou executiva.
De acordo com a professora Rosilene Marcon, responsável pela secretaria dos cursos de pós-graduação da Univali de Itajaí, o objetivo do aluno ao buscar uma pós-graduação é o que define as vantagens entre o MBA e o mestrado. “Como o MBA é um curso de lato sensu, permite ao aluno uma visão mais abrangente da gestão, já o mestrado faz com que o aluno tenha um aprofundamento em algumas áreas especificas”, explica.
O MBA é indicado para quem atua na área de gestão, principalmente em cargos de gerência de organizações, mas em função de seu apelo mercadológico, acaba sendo expandido a diversas áreas. Segundo Rosilene, o ideal é que o aluno já possua experiência profissional antes de ingressar em um MBA, mas não há nenhum tipo de restrição, desde que ele tenha um curso superior concluído.
  
Novos contatos e currículo turbinado

Três anos após terminar a graduação em Administração com ênfase em Marketing, o egresso da Univali, Leonardo Galvão, decidiu entrar em um curso de MBA. Atuando na área comercial, Leonardo optou pelo MBA em Finanças Empresariais como forma de dar continuidade ao que começou estudando na faculdade, mas com um foco menos voltado ao marketing e mais para área financeira, que é o que mais gosta.
Leonardo concluiu o curso há dois meses e aponta que entre as principais contribuições do MBA para a sua carreira está justamente a revisão dos conteúdos estudados anteriormente. Além, é claro, da turbinada no currículo. E ele não pensa em parar por aí. “Pretendo realizar meu mestrado em 2013 e daqui a um tempo, o meu doutorado”, planeja.
 Também graduada em Administração com ênfase em Marketing, a egressa Nayara Duarte concluiu o MBA em setembro do ano passado. Ao contrário de Leonardo, não esperou muito após a formatura para ingressar nele: quatro meses depois, já havia iniciado o curso de Gestão Empreendedora. Quando optou pelo MBA, achou que, naquele momento, faria mais sentido que um mestrado.
“Procurei o MBA por acreditar que houvesse mais prática no ensino, e também por indicação”, conta. Ela gostou tanto do curso que não descarta a possibilidade de iniciar outro em breve. “Tenho interesse em realizar um novo MBA de vendas, que é o que mais gosto”.
Conciliar o trabalho, a vida pessoal e os estudos, não foi um problema para Nayara. “Quando fiz o MBA, era a cada 15 dias, com aulas nas sextas e sábados. Mas não tive que deixar nada de lado. Consegui conciliar tudo normalmente”, revela. Leonardo confessa ter deixado o lazer em segundo plano algumas vezes, mas sem sacrifícios. “Não tive problema em conciliar. Só tive que abdicar de meu lazer em alguns dias no sábado quando tinha o curso”.
Além do acesso a práticas que não são dadas na graduação, com trabalhos mais focados e realizados fora da sala de aula, outra contribuição unânime entre quem teve a chance de cursar um MBA é a oportunidade de fazer contatos com outros profissionais. Leonardo conta, inclusive, que teve a chance de rever antigos colegas. “Tive novos contatos com profissionais de varias áreas que foram meus colegas de classe”.

Por Juliete Lunkes

segunda-feira, outubro 03, 2011

Perfil: Trajetória profissional leva egresso ao cargo de ministro do STJ

Do interior de Santa Catarina para uma cadeira no Superior Tribunal de Justiça. O ponto alto da trajetória do egresso Marco Aurélio Gastaldi Buzzi foi acompanhado em setembro pelos principais nomes da política e do meio jurídico do Estado e do país.
A posse, como ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que ocorreu no dia 5 de setembro foi uma cena que não passava pela cabeça do jovem estudante que iniciava o curso de Direito da Univali, na época, ainda Fepevi, em 1975.

Natural de Timbó,Marco Aurélio chegou a Itajaí com 17 anos e foi morar em uma república de estudantes. Da faculdade pode se dizer que obteve muito mais do que esperava. Foi onde conheceu uma moça chamada Katcha, e segundo ele, amou-a à primeira vista. A moça com quem está casado há 28 anos e com quem teve três filhas.

Ainda antes da faculdade, Marco Aurélio tinha o hábito de participar intensamente das comunidades em que conviveu. Foi por várias vezes líder de classe, diretor de grêmios acadêmicos, integrou grupos de estudantes cientistas, de teatro estudantil e participava de bandas e fanfarras. Todo esse envolvimento enquanto estudante foi decisivo para que optasse pelo curso de Direito assim que terminou o colégio.

Durante a faculdade, continuou sendo o mesmo aluno atuante, agora nas causas acadêmicas. Junto com os colegas da república, fundou a Casa do Estudante Universitário. Mais tarde, ajudou a fundar o Cine Clube Universitário, que tinha como objetivo exibir filmes que as salas de cinema convencionais não passavam, e também o jornal universitário Animus.

O ministro lembra com carinho de sua vida universitária, de toda a obstinação que os estudantes tinham na época, quando construíam o que desejavam. Mesmo com a censura e o controle impostos pelo regime militar, os jovens eram ativos, políticos, atuantes e sonhadores. “A Univali e meus professores foram decisivos em minha vida”, conta.

Depois de concluir a graduação, fez mestrado, especialização na Universidade de Coimbra, pós-graduação em Gestão Pública e especialização em Falência e Recuperação de Empresas. Da tese de mestrado, outro importante momento: a publicação do livro “Alimentos Transitórios: Uma Obrigação por Tempo Certo”.

Até pouco antes de sua posse, em Brasília, Marco Aurélio ainda dava aulas no curso de Direito da Univali. Deixou de lecionar por falta de tempo, especialmente por conta dos mais de 10 mil processos que tem para examinar. Apesar disso e de ter trocado Florianópolis por Brasília, diz que pouca coisa mudou em sua rotina de trabalho e que segue os hábitos de seus 29 anos de carreira. A começar pela hora de iniciar o dia:
6h15.
A esposa já está se mudando para Brasília. No final do ano é a vez das duas filhas mais novas, as gêmeas Vitória e Ana Carolina, partirem para a capital federal. A primogênita Catarina vive em Curitiba. Marco Aurélio é otimista quanto à adaptação da família na nova cidade e não esconde a empolgação: “Brasília é um excelente lugar para morar, com muita cultura, shows, atividades de esporte e de lazer”.

Apesar da distância, o ministro espera continuar mantendo vínculos com a Univalipor meio de projetos e programas de ensino. Credita a base de seu sucesso profissional aos professores, colegas e aos projetos em que se envolveu na Universidade, como a presidência do Diretório Acadêmico Desembargador Henrique da Silva Fontes, o jornal universitário, os concursos de oratória, júris simulados e, claro o Cine Clube,onde conheceu Katcha.

Nos últimos anos, Marco Aurélio passou a se dedicar a projetos e programas de âmbito nacional, como o Movimento pela Conciliação. Após ser aprovado e adotado pelo Conselho Nacional de Justiça, o programa foi implantado em todo o país, resultando em uma convivência muito próxima com a capital federal, os tribunais superiores e pessoas envolvidas em grandes projetos. Experiência que pesou para conquistar a vaga de ministro do STJ.
Dos 29 anos de carreira, destaca alguns momentos como memoráveis. O próprio começo é um deles: passou em primeiro lugar no concurso de magistratura, figurando entre os juízes mais jovens do Brasil, aos 23 anos de idade. Mas admite quea chegada ao STJfoi a maior das emoções e das realizações. “Não apenas para mim, mas para toda a minha família” finaliza.


Por Juliete Lunkes

terça-feira, maio 17, 2011

Reportagem: Sambaquis: o passado sob a terra

O passado sob a terra

Era final de 1969 e o terreno próximo ao mar localizado na praia de Cabeçudas, em Itajaí, parecia ideal para a construção de um Iate Clube. Durante o lançamento dos fundamentos onde o novo empreendimento seria instalado, alguns objetos curiosos foram encontrados sob o solo. Eram restos de esqueletos. As escavações para descobrir o que mais poderia haver no local começaram em seguida, e em 1971 veio o registro oficial: o primeiro sambaqui do município de Itajaí havia sido encontrado. Foi batizado de Sambaqui Balneário de Cabeçudas.

Na origem tupi sambaqui significa “amontoado de conchas”, mas não é só isso o que podemos encontrar neles. Embora realmente haja predominância de material conchífero, nesses sítios arqueológicos típicos de áreas litorâneas há também artefatos primitivos de pesca, pontas de flechas, objetos de arte, utensílios domésticos, além de ossadas humanas e de animais.

Os sambaquis possuem geralmente formato semelhante ao de uma colina e são facilmente encontrados na costa do Oceano Atlântico, próximos as fozes de grandes rios. Inicialmente eram reconhecidos apenas como um aglomerado de conchas trazido pelas altas marés. Hoje em dia, o material encontrado neles é uma importante fonte de informação e pesquisa sobre os antigos povos que habitavam a costa brasileira.

No Brasil, os sambaquis estão espalhados por diversas regiões litorâneas, da Bahia ao Rio Grande do Sul e também e em algumas regiões da Amazônia. Entretanto, o maior número de sambaquis – e também os mais importantes – está concentrado no litoral de Santa Catarina.

No lugar onde foi descoberto o primeiro sambaqui de Itajaí, acabou mesmo sendo construído o Iate Clube. Todo material recuperado foi levado ao Museu do Homem do Sambaqui, em Florianópolis. Na época parecia o melhor destino para os artefatos, porém, a inauguração oficial do Museu Etno-Arqueológico de Itajaí, realizada no ano passado, fortaleceu a luta para que o material voltasse para seu município de origem. Segundo o diretor do museu, o historiador Ivan Serpa, o pedido para que esse material seja enviado ao Museu Etno-arqueologico já foi requisitado ao Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan), mas brigas políticas atrasam o processo. “O município de Pomerode também entrou com um pedido. É uma questão técnica e política, embora Itajaí tenha o direito de possuir esse material”, explica.

O que dizem os sambaquis

Segundo o arqueólogo Darlan Cordeiro, autor do livro Conhecendo Arqueologia, através dos sambaquis pode se descobrir a cultura dos povos que viviam em um determinado local há milhares de anos. “Nos sambaquis de Itajaí, por exemplo, por meio de uma arcada dentária encontrada foi possível perceber que eles possuíam uma dieta rica em cálcio, porém, pobre em carboidratos. Os dentes não possuíam cáries, mas eram bastante desgastados”.

Pelo material encontrado, é possível perceber também que os povos sambaquianos (povos que deram origem aos sítios) possuíam uma intensa preocupação com a natureza, não alteravam o meio ambiente para sua própria sobrevivência. Além disso, a análise de diversos sambaquis em todo o litoral mostra que os povos tinham um perfil cultural muito semelhante.

Darlan Cordeiro é superintendente da Fundação Genésio Miranda Lins, órgão do governo municipal que administra o Centro de Documentação e Memória Histórica, o Museu Histórico e o Museu Etno-arqueológico de Itajaí. Através de projetos de educação patrimonial, a Fundação Genésio Miranda Lins utiliza a arqueologia para ensinar crianças da comunidade itajaiense não apenas a história do local, mas também a cultivar bons hábitos.

Ao todo, existem quatro sambaquis registrados no município. Em 1987 foi encontrado o sambaqui Itaipava II, localizado nas propriedades de uma olaria do bairro Itaipava, próximo à margem do rio Itajaí-mirim. Mesmo com metade do sítio destruído pela ação de tratores que trabalham na retirada da argila, o Itaipava II, segundo Darlan, ainda é o sambaqui mais conservado de Itajaí. “É para lá que levamos as crianças para realizar os trabalhos de educação patrimonial”.

O sambaqui Itaipava I, apesar da nomenclatura, foi descoberto em 1996, próximo ao Itaipava II. Desse, atualmente restam apenas alguns fragmentos de conchas e ossos pela superfície. No mesmo ano, foi encontrado também o Sambaqui de Canhanduba, localizado às margens da BR 101 em uma fazenda abandonada. Espalhados por uma área de aproximadamente 150 metros quadrados, ainda podem ser encontrados alguns vestígios do sítio arqueológico.

Nos sambaquis de Itajaí não foram realizados testes com carbono 14, método que permite saber a datação de materiais antigos de até 70 mil anos. Porém, de acordo com Cordeiro, através da geomorfologia, que analisa as formas do relevo, pode-se ter uma boa ideia da datação dos sambaquis. “Analisando o nível do mar em diferentes épocas, pode-se chegar a essa conclusão. Por exemplo: o sambaqui de Cabeçudas é datado de 1.500 anos, e foi encontrado próximo ao mar. Já o de Itaipava tem aproximadamente 4 mil anos, e encontra-se há vários quilômetros do mar”.

Para Ivan Serpa, diretor do museu, os testes com carbono 14 já não são tão necessários como eram antigamente. “Quando os primeiros sambaquis foram encontrados no país, era preciso fazer os testes, pois não se tinha ideia nenhuma da datação. Mas conforme os sambaquis iam sendo descobertos, foi ficando mais fácil fazer uma aproximação através das características do material encontrado”.

Um novo olhar ao Bairro Itaipava

A instalação do Museu Etno-arqueologico no bairro Itaipava, segundo Serpa, tem ligação direta com a presença dos sambaquis no local. “É uma ligação umbilical. Quando encontraram os sambaquis, ninguém sabia muito bem o que fazer. Nos anos 90, quando o Darlan chegou a Itajaí, a situação melhorou e foi iniciado o processo de criação do museu, que é responsável pela salvaguarda dos sambaquis”.

Para os moradores do bairro, a existência dos sambaquis nas redondezas traz uma importância única à comunidade, principalmente após a inauguração do museu. Segundo o casal Alberto e Ana Rogge, que moram ao lado do prédio, o bairro Itaipava ganhou outra cara, mais atenção e também passou a ter um movimento maior. “Sempre que vem visita aqui em casa a gente leva pra conhecer o museu”, conta Dona Ana, conhecida no bairro como Ana Confeiteira. Seu Alberto, que mora na Itaipava há 57 anos - “desde que nasci”, faz questão de lembrar –, demonstra orgulho por viver em um bairro que possui tanta importância histórica para a cidade. “Itaipava ficou bem mais conhecida e agora tem mais visibilidade”.

O maior movimento no museu, segundo Dona Ana, é durante o fim de semana. “Na segunda-feira o Ivan chega, vê o caderno de assinaturas cheinho e fica bem feliz”, conta a orgulhosa vizinha. Apesar de o sambaqui não ser tão próximo ao prédio da antiga estação Engenheiro Vereza, onde está localizado o museu, os funcionários dão todas as orientações para visitantes que tiverem interesse em conhecer o sambaqui Itaipava II, que mesmo localizado em um terreno particular, é aberto à comunidade.

Por Juliete Lunkes

terça-feira, março 08, 2011

Reportagem: Sul Mod

Sul Mod

A subcultura que nasceu na Inglaterra há quase 50 anos continua influenciando gerações de bandas até os dias de hoje

Já passava das sete e meia da noite quando André terminou de dar o nó em sua gravata skinny, abotoou o paletó de brechó por cima da camisa e calçou as botinhas que se destacavam sob a barra da calça justa. Sua banda, a Torneiras, formada em Itajaí no começo de 2008, tocaria em um bar de temática australiana na vizinha Balneário Camboriú em menos de meia hora. Considerando o trânsito do início da noite fria de um domingo de junho na cidade, certamente chegaria depois do horário marcado. Mas André sabia bem como essas coisas funcionavam. Geralmente os shows começavam cerca de uma hora depois do horário estampado no flyer. Sem muita pressa, juntou suas coisas, entrou no carro e saiu em direção ao bar. Em pouco mais de vinte minutos já estava lá.

Assim que chegou, a atenção dos poucos sujeitos que faziam graça do lado de fora foi voltada para aquela peculiar figura vestida como se chegasse de uma temporada de férias no ano de 1964. André Fuck [sobrenome que pediu emprestado para sua mãe e adotou como seu] cumprimentou alguns conhecidos e entrou no bar segurando o enorme case que protegia a guitarra semi-acústica canhota vermelha. Não eram só as roupas e a pose que faziam com que fosse confundido com um viajante do tempo. As letras de suas músicas não hesitam em fazer referências a gurias retrôs, aos ternos de brechó e aos discos dos Beatles. Os outros dois rapazes que completam a Torneiras não eram tão atípicos, mas estavam acostumados a ver o companheiro de banda caprichar no visual para os shows. Principalmente os que eram importantes como aquele.

Naquela noite eles abririam a apresentação de Júpiter Maçã, aquele que fez um bando de jovens usarem terninho e ajudou a dar impulso à série de bandas que bebem na mesma fonte dos ingleses dos anos 60. Júpiter Maçã, ou melhor, Flávio Basso, foi vocalista de uma das mais icônicas bandas de rock gaúcho da década de 80, Os Cascavelletes. Em 1996, após a mudança de nome e uma guinada psicodélica, fez explodir em cada canto de Porto Alegre um tipo emblemático de adolescente: os mods.

A referência para tudo o que aqueles garotos da capital gaúcha queriam ser vinha da Londres dos anos 50 e 60. Vestidos com ternos italianos impecáveis e justos ao corpo, botinhas lustradas e usando cabelos de cortes simétricos, os mods ingleses uniam-se intrépidos nos pubs londrinos enquanto suas lambretas aguardavam estacionadas do lado de fora. Amantes do jazz, do rythm & blues e do ska, viviam em pé de guerra com os rockers, outro grupo de adolescentes que adotava o rockabilly americano, com suas jaquetinhas de couro e imaculáveis penteados, como estilo de vida.

Bandas como The Who, The Yardbirds, Small Faces e The Kinks adotaram e espalharam o mod pelo resto mundo. Durante a década de 60, novos grupos dispostos a abraçar a subcultura surgiam a todo o momento. No final dos anos 70, quase 15 anos depois da explosão universal do mod, nomes como The Jam e The Vapors, acabaram surgindo e criando o que foi chamado de “mod revival”. A reinvenção do movimento tinha basicamente a mesma proposta do original, porém, novas influências passaram a ser injetadas na música.

Na primeira metade dos anos 80, nascia no Sul do Brasil uma das primeiras bandas do país a carregar sutilmente a referência mod em suas melodias, o TNT. Depois de algumas músicas lançadas, dois dos seus membros decidiram deixar o grupo para formar outra banda. A ideia era manter referências semelhantes, mas com uma proposta um pouco diferente: eles preferiram trocar as histórias sobre garotas e aventuras com carros a mil por hora por frases mais obscenas e escrachadas. Eram Os Cascavelletes – a banda do vocalista que anos mais tarde só atenderia por Júpiter Maçã.

Sim, nós somos mods

O ano era 2000, os quatro jovens tinham todos em torno de 18 anos e havia um bom tempo já desfilavam seus terninhos e calças de linho pelas ruas de Porto Alegre. Foi quando decidiram formar uma banda. Uma banda essencialmente e assumidamente mod. “Pra tomar trago e pegar mulher”. Paulo Germano, Rodolfo Krieger, Beto Stone e Thiago Peduzzi empunharam respectivamente a guitarra, o microfone, a bateria e o baixo. Tornaram-se então os Gabardines.

– A gente era muito mod. Tu acha que [a banda] Cachorro Grande é mod? A gente era muito mais mod. – repetia Paulo Germano em uma manhã de domingo em Porto Alegre, ainda emendando a noite de sábado, quase nove anos depois dos tempos áureos dos Gabardines.

Hoje, aos 28 anos, Paulo é jornalista de um dos principais jornais do Rio Grande do Sul. Após se dedicar durante algum tempo a escrever uma coluna semanal sobre rock alternativo no caderno de cultura, hoje cobre política. Mas jamais pensou em deixar a música de lado.

Se para André Fuck, da banda Torneiras, é normal de vez em quando trocar o terno por uma jaqueta de couro e as botinhas por um par de All Star imundo, Paulo lembra que na época dos Gabardines não era bem assim. Eles costumavam ser inimigos de quem adotava esse estereótipo.

– A gente era fútil, andava sempre arrumadinho, barba feita, sapato lustrado, então rolava uma rivalidade com os punks chinelões.

Junto com os Gabardines foram despontando novas bandas semelhantes na cidade, como o Cachorro Grande, que mais tarde conquistou espaço em nível nacional, e o Laranja Freak, que ainda misturava boas doses de psicodelia em suas canções. Fora da capital, em Rio Grande, vinham ao mundo também os Faichecleres, que com suas letras divertidas e desbocadas não tardaram em se mudar para Curitiba. Lá, passaram a garantir reconhecimento e respeito no underground com seus ternos, suas camisas espalhafatosas e curiosos cortes de cabelo. Os Faichecleres acabaram dando visibilidade para outras bandas na capital paranaense, como os Dissonantes, que despontavam com o seu rock’n’roll sessentista açucarado.

Após quase dois anos perambulando pelo andar de baixo do rock porto-alegrense, com algumas músicas de destaque no cenário roqueiro, como “Thati pira” e “Sentimento de carência”, metade dos Gabardines, Paulo e Thiago, começaram a cansar daquela história de terninho.

– Começou a ficar muito manjado, sabe? Virou uma moda. Não era mais um diferencial tu sair na rua de terno e gravata. – argumenta Paulo.

A partir daí, o fim da banda já parecia iminente. Mas a situação conseguiu piorar.

– A gente queria ser igual ao The Who, mas o Rodolfo resolveu que queria tocar guitarra e não só cantar. Disse que se sentia pelado. Só que não tinha lugar pra outra guitarra, entende?

As diferenças estéticas e musicais acabaram em brigas com direito a soco na cara. O clima ruim decretou o fim dos Gabardines.

Paulo e Thiago trocaram os terninhos por jaquetas e os sapatos por pares de All Star, chamaram dois amigos e, no final de 2002, formaram o Stratopumas, com uma proposta completamente nova. Já Beto e Rodolfo compraram mais alguns ternos, deixaram seus sapatos ainda mais lustrosos e, também com mais dois amigos, formaram Os Efervescentes.

Apesar das diferenças e dos rumos que cada um tomou, todos eles continuaram amigos, chegando a criar situações divertidas e até uma falsa rivalidade. Um show das duas bandas, em 2004, intitulado “Jaquetinhas versus Gravatinhas”, trazia no flyer de divulgação a foto dos dois vocalistas frente a frente com expressões furiosas. Naquela noite, dizem os boatos, uma gravata chegou a ser queimada. Hoje os Stratopumas não existem mais. Já os Efervescentes continuam por aí com o mesmo propósito de anos atrás e uma nova formação. Rodolfo Krieger passou a fazer parte da banda Cachorro Grande em 2005.

Para Paulo, apesar das bandas remanescentes, o movimento morreu. E alguns detritos do passado hoje ecoam um tanto embaraçosos.

– Por exemplo, sempre no final dos shows a gente tinha que quebrar os instrumentos. Hoje, se eu tocar em um show e decidir espontaneamente quebrar a minha guitarra, tudo bem. Mas, com a gente, isso já era previamente pensado.

Mesmo achando que adotar o mod atualmente é mais uma tendência, Paulo não critica quem ainda aposta nessa, e defende as bandas que investem na aparência.

– Quem diz que o visual não importa e o que importa é só a música, não sabe o que tá dizendo. Uma das coisas mais cativantes no rock é o visual. Não existe rock sem indumentária.

Os sobreviventes de uma época

Foi numa tarde quente do mês de novembro de 2010, que Os Efervescentes chegaram a Balneário Camboriú. À noite seria o primeiro show de uma turnê de quatro dias por quatro cidades diferentes de Santa Catarina. A formação atual da banda agora contava com apenas dois membros originais e definitivos: Beto Stone e Daniel Tessler. O primeiro continuava empunhando as baquetas. O segundo assumiu a guitarra e o vocal. Para dar apoio nos shows, a dupla ainda convidava mais um guitarrista, o Gustavo Chaise, e um baixista, o Eduardo Barretto.

– Eu ajudei a fundar a banda em 2002 com o Beto, o Daniel e o Rodolfo – disse Eduardo, entre goles de cerveja em um boteco com cheiro de fritura no centro de Blumenau, na noite do terceiro show da turnê.

– Desde então já saí e voltei da banda algumas vezes. Da última vez que saí foi porque eu tava com outras ideias na cabeça. Mas eles são meus amigos e precisaram de mim agora, então...

Atualmente Eduardo toca em outras quatro bandas, entre elas a Faichecleres, que agora vive em São Paulo, o que obriga o músico a fazer ponte aérea para os shows na capital paulista. Ele também acompanha uma cantora de MPB em Porto Alegre e recentemente passou a fazer parte de uma banda com influências mais modernas, os Gulivers. Nos shows, Eduardo acaba se destacando dos demais integrantes por sempre vestir o inseparável terno e as botinhas pretas.

– Até falaram pra eu usar umas jaquetinhas da Nike... – brinca o baixista.

Mas é na sua banda original, os Impressionistas, que Eduardo pode mostrar seu talento como compositor. Na mesma banda toca também Gustavo Chaise, o guitarrista que acompanhava os Efervescentes nos shows em Santa Catarina. O som dos Impressionistas, como não poderia deixar de ser, perambula com certa autenticidade pelos anos 60.

A preocupação dos Efervescentes em fazer um show perfeito é visível em cada detalhe. Em cada apresentação, Beto e Daniel usam um figurino diferente, e as roupas dos dois são obrigatoriamente iguais. Eduardo e Gustavo, como apenas acompanham a dupla, adotam o mesmo modelo em todos os shows: sapatos pretos, terno preto, camisa branca e grava skinny também preta. Durante as viagens de van, Beto e Daniel se preocupam também em se acomodar nos bancos dianteiros, ao lado do motorista, onde a bagunça tende a ser menor.

– A gente prefere ficar lá pra se concentrar. Ali atrás tinha sempre muita bagunça. Esses dois aqui [aponta para Gustavo e Eduardo] são foda e não precisam disso. Mas já sabem que se errarem no show ganham só metade do cachê. – disse um cansado Beto Stone em tom de brincadeira enquanto esperavam o ônibus que os levaria de volta para Porto Alegre, na segunda-feira de manhã, horas após o último show.

O baterista, que era membro original também dos Gabardines, não costuma comentar muito sobre a época. Quando questionado sobre alguns detalhes, minutos antes do segundo show da turnê, em Rio do Sul, dizia não se lembrar muito bem dos detalhes da fase Gabardines.

– Mas eu vou lembrando, aí eu te falo.

Não queremos ser iguais a ninguém

Foi em uma loja de discos em Joinville no verão de 2006 que Miles Babireski e Juninho se conheceram.

– Se a gente fosse inventar essa história, não teria saído tão legal – disse o sorridente Miles driblando o som alto de um pub apinhado de gente certa noite em Joinville.

Na época, Miles ainda morava em Canoinhas e tinha ido para Joinville visitar alguns parentes. Naquele dia a família toda resolveu sair para dar uma volta no shopping e, um tanto entediado, Miles entrou em uma loja de discos, só para matar tempo. Circulando pelas prateleiras, dando olhadelas na sequência de guitarras penduradas na parede, ouviu uma voz masculina perguntando ao atendente da loja se por acaso não tinha o CD do The Kinks.

– The Killers? – teria rebatido o ingênuo vendedor.

Após o lapso, Miles resolveu intervir na conversa entre o balconista e aquele rapaz de costeletas e camisa listrada.

– Não lembro bem o que eu falei, mas acho que fiz um meio de campo pro vendedor entender que era The Kinks, e não The Killers.

Miles não fazia ideia de que dois anos depois aquele rapaz chamado Luiz Carlos Molodowski Junior se tornaria simplesmente o Juninho, vocalista e baixista da banda que ele ainda nem tinha. Depois de chegarem à conclusão que de fato não havia o CD do The Kinks na loja, Miles resolveu puxar assunto com o simpático jovem.

– Conversamos pra confirmar o nosso gosto sixtie, Beatles, as outras duzentas bandas boas dos anos 60, essas coisas. Eu já vi que o Juninho tinha mais essa veia The Kinks e The Who, e eu tinha aquele lance Beatles 63, aquele iêiêiê mais melódico. Daí eu acho que fechou certo, se completou. Então trocamos nossos contatos pra um procurar o outro no Orkut, porque na época o Orkut era relevante.

No fim das contas ninguém adicionou ninguém no Orkut, mas não demoraria muito para que o destino se encarregasse de colocar os dois na mesma estrada novamente. Assim que Miles se mudasse definitivamente para Joinville, em 2007.

– Eu e o Juninho tínhamos um amigo em comum, o Eduardo Baumann. Ele entende bastante de mod e sabia que eu queria montar uma banda anos 60, e o Juninho tava procurando uma faz tempo também. Daí nos encontramos os três em um show do Renato e seus Blue Caps e tudo se esclareceu. Ele era o cara da loja de discos.

Após alguns meses de reuniões musicais, um dia na casa de um, outro dia na casa de outro, em novembro de 2008 os Bacamartes fizeram seu primeiro ensaio. O nome da banda, disse Miles certa vez em entrevista para uma emissora de televisão, tinha que começar com B, por causa dos Beatles, dos Beach Boys e dos Byrds. Era óbvio que uma banda que foi unida por causa do The Kinks teria como inspiração alguns dos principais nomes do rock’n’roll sessentista.

– Mas nós não nos consideramos mods – apressou-se em esclarecer o discreto Juninho com seus olhos atentos quase cobertos pela franjinha à la Keith Moon nos idos da década de 60. – Porém, reconhecemos a influência dele em nossas músicas. – acrescentou em seguida.

Se no ano 2000, lá em Porto Alegre, os Gabardines queriam ser iguais ao The Who, Juninho diz que com os Bacamartes a situação é outra.

– Nós temos várias influências, mas não queremos ser iguais a ninguém. Pegamos um pouco de referência de várias bandas e tentamos ser nós mesmos.

Apesar do som nitidamente sessentista, a banda não se preocupa tanto assim com o visual, e procura adotar sutis referências do vestuário dos mods misturadas a peças básicas do dia a dia. Mas ainda assim convivem com olhos curiosos de quem não faz parte de nenhuma vertente do rock e um discreto preconceito de quem prefere um som mais pesado e um visual mais agressivo.

E por que no sul?

É inegável que os três estados do Sul são os que mais abrigam bandas influenciadas pelo rock sessentista e, principalmente, pelo mod. Para Miles, dos Bacamartes, o clima da região tem uma parte da responsabilidade pelo fenômeno.

– Quando é calor o tempo inteiro, o pessoal vai pra praia. Quando é frio, tu coloca um casaco e pensa: vou fazer música. – teoriza.

Já André, da Torneiras, acha que tem muito a ver com a colonização dos estados do Sul.

– As melhores bandas e as mais importantes dos anos 60 eram inglesas. Talvez seja algum traço da característica dos europeus, sei lá. – arrisca dizer.

Mesmo que o mod nunca tenha sido tão reconhecido e revolucionário no Brasil quanto o punk ou até mesmo o gótico, a bagunça que começou a ganhar ares de movimento revolucionário nos anos 90 em Porto Alegre foi a princípio o que mais se assemelhou ao verdadeiro espírito da subcultura.
Para Paulo Germano, que hoje faz parte da história daquele efêmero movimento, tudo aquilo era uma forma de se encontrar, de fazer parte de um grupo.

– Não teve a época dos punks, dos emos e agora esses que usam roupas coloridas? Então, na nossa época era daquele jeito. Aquilo nada mais era do que um grupo de adolescentes querendo ser parte de alguma coisa.

Reportagem escrita para a disciplina de Redação Jornalística - Jornalismo Literário

Por Juliete Lunkes

quarta-feira, fevereiro 02, 2011

Reportagem: O ritmo underground da Jamaica

Não fosse por um casal, formado por um negro robusto e uma loura de feições simpáticas, dividindo uma mesa próxima ao palco, e mais uma animada garota de calça estampada dançando sozinha no lado oposto, eu diria que o DJ estava colocando música para um bar vazio. Tudo bem que era uma quinta-feira e o relógio do meu decrépito celular ainda nem marcava meia-noite, mas antes de chegar eu imaginei encontrar outro cenário. Nada que fosse tirar o entusiasmo do DJ e toaster Wilson de Jesus Guichabeira, mais conhecido como W SoulJah, que induzia seus pesados dreadlocks junto com o frenético movimento corporal.

Alguns notívagos fumavam qualquer-coisa escorados na cerca de madeira instalada na areia da praia – vista que o bar proporcionava –, e outros começavam a dar as caras no ambiente peculiar onde W SoulJah reinava absoluto. Marcela, a encantadora garota de cabelos cacheados e calça estampada, agora sacudia no ar dois malabares cobertos de tecido e fitas coloridas, enquanto a voz do toaster acompanhava o som saído das caixas de som em alguns improvisos.

– Se você quiser pode chegar e dançar – Cantava o enérgico W SoulJah.

O som que toma conta do ambiente não é nada parecido com o que se ouve
normalmente por aí. Trata-se do dub, estilo criado na Jamaica na década de 60, que injeta batidas de bateria e impetuosas linhas de baixo e efeitos sonoros em ritmos como o reggae. Por cima do compasso instrumental, os toasters criam as mais variadas e expressivas rimas, em uma vaga lembrança ao atual e popular hip-hop. A festa que rolava na fresca noite de quinta-feira, no Kwarup Bar, na praia Praia Brava, trazia no flyer o número 1. Era a primeira festa dub promovida por aqui. E certamente não seria a última.

Mais do que um simples estilo de música, o dub é para os jamaicanos uma filosofia, uma forma de conhecer e misturar sons e efeitos diferentes. Há cerca de cinco décadas, quando o dub dava seus primeiros suspiros, quase não havia tecnologia para tanto experimentalismo. Hoje, porém, mesmo com as mais modernas técnicas disponíveis, o estilo ainda é pouco conhecido no Brasil.

– Por isso eu resolvi fazer essas festas. Já tava de saco cheio de ouvir esses reggaes de cachoeira – Desabafou Wilson alguns dias depois da festa, já pensando em como será a próxima.

Cultivando boas ações

– O que era aquele negócio que tu tava girando no ar antes? – Pergunto para Marcela após saber seu nome e explicar o que eu fazia por ali.

– Ah, aquilo? É um swing. Tu podia falar com aquele cara lá, ele é jamaicano – apontava Marcela animada para o negro sentado próximo ao palco, que agora trocava carinhos com sua companheira de mesa – E depois vai ter uns caras muito legais aqui!

O swing, vim a saber mais tarde conversando com Wilson, são duas bolinhas feitas com grãos de arroz envoltos por um plástico. Depois de prontas, as bolinhas de arroz são revestidas com um tecido que é trançado, formando então um pêndulo.

– E aqueles foram confeccionados por ela mesma – Explicou-me Wilson, pacientemente.

Durante seus meneios e improvisos, W SoulJah informava ao seu público ainda modesto que a atração principal da noite logo estaria ali. Eram os tais caras legais mencionados por Marcela momentos atrás. Uma dupla paranaense de Sound System influenciada diretamente pelo dub, o Cidade Verde Sound System.
Não demorou até surgir ao lado de W SoulJah o duo formado por Paulo Dubmastor e Guilherme Adonai. O primeiro era responsável pelo ritmo, enquanto Adonai, um rapaz que aparentava ter seus 20 e poucos anos, também de dreadloks no cabelo, circulava pelo palco com um microfone em mãos. Gente de todo o tipo agora deixava as mesas do lado de fora do bar e o cercado da praia para entrar no clima envolvente do ritmo jamaicano. Os mais interessados uniam-se intrépidos cada vez mais perto do palco e da incrível energia do cantor.

Entre os festivos, aproximou-se uma garota com várias tatuagens espalhadas pelo corpo, alguns piercings no rosto e cabelo de tom alaranjado. Visivelmente deslocada no ambiente pouco familiar, Alana me disse ter precisado da ajuda dos amigos para se vestir adequadamente ao local.

– Eu não tinha nada pra fazer, aí falaram que ia ter isso hoje aqui. Eu nem sabia o que vestir! Tava com uma blusa cheia de tachas, mas não me deixaram sair de casa daquele jeito.

O som alto e ritmado promovido pela Cidade Verde quase obriga as pessoas a não ficarem imóveis. As letras cheias de personalidade, quase um manifesto, são reflexo direto da vida da dupla. A plenos pulmões, Guilherme Adonai canta que rejeita quem tenta mudar seu jeito de viver e de pensar, para em seguida falar sobre cultivar boas ações. À medida que a festa da Cidade Verde vai ficando ainda melhor, com a participação do jamaicano Eek a Mouse – o negro robusto – e do próprio W SoulJah, ela chega ao fim, deixando no ar a mensagem positiva e a mistura das energias díspares do público que os prestigiava.

Publicada no jornal universitário Cobaia - Escrita para a disciplina de Jornalismo Literário

Por Juliete Lunkes